O ciclo, organizado pelo Movimento Patrimonial da Música Portuguesa (MPMP), propõe-se ser uma "reflexão suscitada por temas como a abundante produção camerística do compositor, a sua relação com o Brasil, a matricial poética do fragmento, o seu contributo crítico sobre a representação de África em música, sublinhada pelo contraponto de obras de outros compositores, e desvelará aspetos menos divulgados da sua personalidade, obra, e ideário estético"..O ciclo que se inicia na sexta-feira e se prolonga até 08 de dezembro, inclui várias iniciativas, entre a quais a apresentação das "desconhecidas mornas cabo-verdianas", de Fernando Lopes-Graça (1906-1994), um projeto que o compositor iniciou na década de 1940 e só veio a concluir em 1978..Estas mornas tiveram uma primeira audição em 1981, nas Caldas da Rainha, pela pianista Olga Prats, amiga e dileta intérprete do compositor..As partituras das mornas de Lopes-Graça são apresentadas no dia 08 de dezembro, na Casa Verdades de Faria-Museu da Música Portuguesa, no Monte Estoril, no concelho de Cascais, por Edward Luiz Ayres d'Abreu, diretor do MPMP, num recital pelo pianista Duarte Pereira Martins, com um programa que inclui peças de Óscar da Silva e Eurico Thomaz de Lima, além das Mornas de Lopes-Graça..O ciclo abre com a apresentação, pelo compositor Sérgio de Azevedo, que foi aluno de Lopes-Graça, do 16.º CD da série "Melographia Portuguesa", gravado por um ensemble do MPMP, e que inclui "Divertissement", de Lopes-Graça..O CD, gravado por um conjunto constituído pelos músicos Bethany Carmo (oboé), Miguel Costa (clarinete) e Ricardo Santos (fagote), inclui também peças de José Siqueira, Charles Koechlin e Erwin Schulhoff..Sérgio Azevedo, em outubro do ano passado, em declarações à agência Lusa, afirmou que Lopes-Graça "é uma referência do século XX português".."Qualquer pessoa concordará que Lopes-Graça, mais do que um mero compositor - e já seria muito ser um dos principais compositores portugueses - (...) foi uma referência do século XX português em todos os campos, como tradutor, até como escritor. Se não tivesse sido compositor teria sido um ótimo escritor", declarou Sérgio Azevedo..O ciclo "Escutar Lopes-Graça" prossegue no dia 03 de novembro com a apresentação da partitura da "Pastoral", do compositor tomarense, pela musicóloga brasileira Ana Cláudia de Assis..Em declarações à Lusa, a responsável pelo Museu da Música Portuguesa, Conceição Correia, afirmou que "há um crescente interesse no Brasil pela obra de Lopes-Graça, que chegou a viajar até aquele país".."Além do Brasil, outras universidades, nomeadamente norte-americanas e europeias, para lá das portuguesas, têm demonstrado um crescente interesse por Lopes-Graça, sobre o qual há ainda muito a conhecer", disse Conceição Correia..À palestra de Ana Cláudia Assis segue-se um recital pela meio-soprano Cátia Morezzo, acompanhada ao piano por Isa Antunes, em que além da "Pastoral", interpretará algumas das Dez Canções Populares Húngaras, também de Lopes-Graça, que recentemente gravou em CD, com Nuno Vieira de Almeida, e "Trovas Capixabas", de César Guerra-Peixe..Ainda em novembro, no dia 25, é apresentada a partitura de "Pequeno Tríptico", de Lopes-Graça, por Fernando Fontes, seguindo-se um recital pelo duo Rui C. Antunes (violino) e Miguel Leal (piano), que, ao "Pequeno Tríptico, juntará, também de Lopes-Graça, "Quatro Miniaturas" e o "Tríptico", de Luís Tinoco..Conceição Correia disse à Lusa que, apesar dos esforços do Museu, "boa parte das partituras de Fernando Lopes-Graça permanece por publicar e nem toda a sua obra está disponível discograficamente em boas condições editoriais"..Em junho último, o pianista Nuno Vieira de Almeida, que conviveu com o compositor tomarense, afirmou que "há muitíssimo material [inédito] de Lopes-Graça" e "muitas obras do compositor, nomeadamente para canto e piano, que é a parte maioritária da sua criação, que continua por estrear"..Fernando Lopes-Graça iniciou-se como músico, acompanhando ao piano várias películas no Cine Paraíso, em Tomar. Segundo o Museu da Música Portuguesa (MMP) "deixou uma obra musical extensíssima a par de uma importante obra literária que nos dá testemunho da sua grande formação humanista e da sua intensa atividade cultural e política"..Lopes-Graça estudou no Conservatório de Música de Lisboa, com Vianna da Motta, Tomás Borba e Luís de Freitas Branco, tendo concluído o Curso de Composição, em 1941. .A oposição à ditadura impediu-o de lecionar em instituições públicas e, mais tarde, no ensino privado. Também não pôde usufruir de uma bolsa que ganhou para estudar no estrangeiro..Após a sua prisão, por motivos políticos, em Caxias, em 1936, Lopes-Graça viveu em Paris, de 1937 a 1939, onde estudou composição, com Koechlin, e musicologia, na Sorbonne, com Paul-Marie Masson..Datam desta altura as suas primeiras harmonizações de canções populares portuguesas e a composição "La fièvre du temps", uma encomenda da Maison de La Culture, de França..Em 1942, fundou a Sociedade de Concertos Sonata, que dirigiu até 1961, dedicada à divulgação de música contemporânea..Na opinião do musicólogo Mário Vieira de Carvalho, autor da obra "Lopes-Graça e a Modernidade Musical", o compositor "sempre assumiu uma posição inequívoca e empenhada em defesa da modernidade musical"..O compositor, que morreu na vila da Parede, no concelho de Cascais, em 1994, deixou em testamento todo o seu espólio à Câmara Municipal de Cascais, para ser incorporado no Museu da Música Portuguesa.