Ciclismo com novas regras para dar luta ao doping

Registo só com cadastro limpo e sem violação das normas antidopagem. Equipas têm de entregar dossier com histórico limpo até dez anos. Salário mínimo para os ciclistas foi atualizado.
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As equipas portuguesas de ciclismo que se registem como Continentais em 2023 terão de ter passaporte biológico para todos os ciclistas, segundo as novas normas hoje divulgadas pela Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC). "Nenhum membro da equipa técnica ou ciclista poderá ter licença desportiva (...) se for arguido em processo-crime por violação de normas antidopagem ou se tiver sido condenado disciplinarmente por violação" dessas mesmas normas, segundo se pode ler no comunicado da FPC.

O alargamento a todos os ciclistas, de todas as equipas inscritas, do controlo do passaporte biológico é um dos destaques das medidas, que surgem "após boas conversações com o Governo", a UCI e a Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), segundo o presidente da federação, Delmino Pereira, citado em comunicado.

As normas em prol da "credibilização do ciclismo profissional que se pratica em Portugal e para que não se repitam casos como o que levou à extinção da W52-FC Porto, por suspeitas de doping reiterado."

As candidaturas terão de incluir "um dossiê com o histórico de casos de violação das normas antidopagem por elementos da equipa nas últimas 10 épocas desportivas".

A inibição de licença desportiva por alguém ligado à formação ser constituído arguido ou ter sido condenado "cessa caso se verifiquem cumulativamente" vários fatores: uma condenação apenas uma vez pelas referidas violações de regras antidoping, ter sido uma sanção de menos de dois anos de suspensão, e terem passado cinco anos entre esta violação e a data de início de atividade, no caso 01 de janeiro de 2023.

Além das novas regras, também é exigido "um esforço financeiro acrescido" às equipas, com uma taxa de 500 euros por ciclista de elite no plantel pago pelas equipas, com a FPC a assumir as custas com corredores sub-23. "Será uma aposta ambiciosa e dispendiosa. Todas as partes irão aumentar o seu investimento e as equipas também vão ter de contribuir com parte deste custo extraordinário", segundo Delmino Pereira.

Outras limitações prendem-se com a nacionalidade dos ciclistas inscritos, uma vez que um plantel só poderá incluir até 30% de ciclistas de fora da União Europeia, excluindo países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com obrigatoriedade de que incluam mais portugueses do que estrangeiros.

Os salários mínimos anuais para ciclistas foram atualizados, com um teto mínimo de 14 mil euros para corredores de elite, 9780 euros para sub-25 e 4935 euros para sub-23.

Em março de 2022, a Polícia Judiciária e a ADop levaram a cabo a operação Prova Limpa, que levou à extinção da W52-FC Porto, que ficou fora da Volta a Portugal que vinha a dominar na última década. Este ano a volta foi conquistada pelo uruguaio Mauricio Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor).

Em 15 de julho, oito ciclistas e dois elementos do staff da W52-FC Porto foram suspensos preventivamente. No dia seguinte, a identidade de seis desses ciclistas foi conhecida, quando os mesmos foram impedidos de alinhar na terceira etapa do Grande Prémio Douro Internacional, que acabou por ser conquistado por José Neves, o único representante da equipa que continuou em prova.

Foram afastados Ricardo Vilela e José Gonçalves, além de quatro antigos vencedores da Volta a Portugal: João Rodrigues (2019), Rui Vinhas (2016), Ricardo Mestre (2011) e Joni Brandão, que herdou a vitória na edição de 2018 depois da desclassificação, por doping, de Raúl Alarcón.

Além dos ciclistas que alinhavam no GP Douro Internacional, a W52-FC Porto conta ainda nas suas fileiras com Amaro Antunes, três vezes vencedor e bicampeão em título da Volta (2021, 2020 e 2017), Jorge Magalhães, Samuel Caldeira e Daniel Mestre, estes últimos também suspensos, segundo confirmou o patrão da equipa, Adriano Quintanilha, ao jornal Record.

No final de abril, 10 corredores da W52-FC Porto foram constituídos arguidos e o diretor desportivo da equipa, Nuno Ribeiro, foi mesmo detido, assim como o seu adjunto, José Rodrigues, no decurso da operação Prova Limpa, a cargo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto.

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