Christchurch: a criança salva das balas pelo pai

Zulfirman Syah atirou-se para cima do filho, Averroes, de 2 anos, para o proteger e salvar numa das mesquitas atacadas pelo terrorista na cidade neozelandesa. O pai tem uma longa recuperação pela frente.
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Naquele instante em que as balas começaram a semear o terror e a morte Zulfirman Syah só teve um instinto: atirou-se para cima do filho, Averroes, de 2 anos, para o proteger e salvar. E salvou. O pai ficou o tempo suficiente sobre o filho, sendo atingido por várias balas, até que o terrorista foi desarmado por um zelador do centro islâmico de Linwood, em Christchurch, Nova Zelândia.

No ataque a duas mesquitas, nesta cidade da Ilha do Sul daquele país, um terrorista de extrema-direita australiano matou pelo menos 49 pessoas e feriu outras 48.

Segundo o Sunday Times , que conta este domingo a história deste pai herói, Averroes sobreviveu e, no final, a criança debruçou-se sobre o pai que estava ferido.

Como descreve o jornal britânico, num vídeo filmado depois do ataque, vê-se Averroes a subir para o peito de Zulfirman, no que poderia ser uma brincadeira de pai e filho não fosse o cenário em volta: vítimas espalhadas por um tapete salpicado de sangue numa sala cheia de gritos de dor. Zulfirman, conhecido como Jul, tinha sido atingido muitas vezes e agarrava-se à vida.

"O meu marido protegeu o nosso filho durante o ataque, o que fez com que ele recebesse a maior parte das balas", revelou a mãe de Averroes, Alta Marie, uma americana de 33 anos. "Ele [pai] está em condição estável após uma extensa cirurgia exploratória e reconstrutiva a que foi submetido. [O seu] caminho de recuperação será longo."

Já a criança, que também tem passaporte americano, foi atingida na perna e na nádega por estilhaços, possivelmente de balas que atingiram o pai, mas os seus ferimentos são menores. "Ele está a recuperar bem e tem estado alegre", contou a mãe, uma professora de inglês que cozinhava em casa quando recebeu um telefonema do marido ferido.

Zulfirman Syah chegou há dois meses à Nova Zelândia, vindo com a família da Indonésia. Uma página de angariação de fundos criada por um amigo descreveu-o como um "artista talentoso e trabalhador". O amigo acrescentou: "Eles sentiram-se em paz na Nova Zelândia... vamos ajudar a restaurar a paz e neutralizar este horrível ato de violência."

A história da família de Jul, Alta Marie e Averroes provou ser um raro momento de alívio num dia de luto e desespero, sintetiza o Sunday Times. Entre as vítimas cujos nomes foram divulgados no sábado estão o de Mucad Ibrahim, de 3 anos, e Abdullahi Dirie, de 4 anos.

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