Chiquinho Conde à procura de fazer história em Cahora Bassa

O ex-avançado treina o Songo, clube da Central Hidroelétrica que quer levar ao primeiro título de campeão. Não esquece o Sporting, Queiroz e revela ter sido tentado por Benfica e Porto
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Chiquinho Conde foi um avançado que deixou a sua marca bem vincada no futebol nacional durante as décadas de 1980 e 1990, tendo representado clubes como o Belenenses, Sp. Braga, V. Setúbal, Sporting, entre outros. Atualmente com 51 anos, é treinador da equipa sensação do campeonato moçambicano (Moçambola), o Songo, clube da Central Hidroeléctrica de Cahora Bassa, a maior barragem de África, situada no rio Zambeze.

"Desapareci um bocadão de Portugal", atirou um bem-disposto Chiquinho, que falou ao DN quando estava numa fila de trânsito a caminho de mais um treino. "Vim neste ano para o Songo e estamos a liderar o Moçambola. Para já, à oitava jornada, está a ser um sucesso. Na época passada, o clube ficou em segundo e ganhou a Taça, mas neste ano o desafio é ser campeão nacional", explica o antigo jogador, que está empenhado em "entrar na história" do clube levando-o pela primeira vez ao título. "Temos de jogar à Benfica", diz entre uma gargalhada, para depois se apressar a esclarecer: "É só porque o Benfica é campeão há três anos! Atenção que eu sou sportinguista!"

Após 18 anos a viver em Portugal, seria normal Chiquinho Conde estar aqui a exercer a carreira de treinador. "Seria expectável, pois fiz aí a formação como treinador, completei o quarto nível do curso pró-UEFA, em Rio Maior, com o Litos, o Ulisses Morais, o Domingos Paciência... mas a primeira oportunidade que tive foi em Moçambique. Em Portugal comeram-me a carne, mas não quiseram comer os ossos", sublinha, com mais uma sonora gargalhada.

Ainda assim, não perde a esperança de treinar em Portugal. "Quem sabe um dia... Quero treinar grandes equipas, mas antes gostava de treinar o V. Setúbal ou o Belenenses, clubes que me marcaram muito. O Sporting? Não posso entrar diretamente por aí, ficaria para mais tarde", assume, ao mesmo tempo os melhores tempos de futebolista viveu-os à beira-Sado. "O V. Setúbal marcou-me muito, fiz uma grande dupla com o Rashid Yekini. Foram as minhas melhores épocas e onde marquei mais golos", diz, embora lembre que conquistou duas Taças de Portugal, "uma no Belenenses, depois de eliminar Sporting, FC Porto e ganhar a final ao Benfica" e outra ao serviço do seu "clube do coração".

Chiquinho Conde chegou a Lisboa em 1987 para o Belenenses, mas a verdade é que poderia ter chegado um ano mais cedo e para o... Benfica. "Na altura, várias equipas portuguesas iam a Moçambique para fazerem intercâmbio e o Benfica foi jogar um torneio quadrangular em 1986. Gostaram de mim e quiseram contratar-me. Só que a legislação não permitia aos jogadores irem para o estrangeiro sem autorização do Estado e muito menos para Portugal por causa da descolonização. Diziam que não podiam vender carne humana...", atira o ex-avançado, entre mais umas gargalhadas.

Um ano depois tudo mudou. Foi a vez de o Belenenses ir jogar a Moçambique e Mário Rosa Freire, o presidente do clube do Restelo, não regressou a Lisboa sem o ter contratado. "O Samora Machel já tinha morrido e havia mais abertura com o presidente Joaquim Chissano, como tal tornei-me o primeiro moçambicano a emigrar para Portugal com o consentimento do governo", recordou, orgulhoso.

Os primeiros quatro anos foram então passados no Restelo, com evidente sucesso, e no final do contrato surgiu a possibilidade de ir para outro grande. "O Catio Baldé, que agora é empresário do Bruma, disse-me que o FC Porto estava interessado em mim e que o Pinto da Costa estava no hotel Altis à minha espera. Mas na altura a moda dos empresários ainda não tinha pegado e eu não fui, até porque tudo aconteceu numa semana em que o Belenenses jogava com o FC Porto e além disso tinha, na altura, assinado um pré-contrato com um candidato à eleições do Estrela da Amadora", revela.

Pena pelo pouco tempo como leão

O destino estava traçado e acabaria por respeitar o coração, que desde pequeno batia pelo Sporting. A mudança para Alvalade só aconteceu em 1994. "Foi uma negociação bem mais fácil, pois o Sporting contactou diretamente o V. Setúbal, clube que eu representava na altura", explica, acrescentando que o interesse do Sporting acabou por ser o culminar de uma grande época: "O Yekini tinha sido o melhor marcador do campeonato e eu fiz 15 golos. Por isso o Carlos Queiroz quis contratar-me. Foi um treinador que me marcou muito, pois foi responsável pela minha ascensão no futebol, pois com ele aprendi muito."

A admiração por Queiroz perdura até hoje, havendo até um sentimento de gratidão para com o atual selecionador do Irão. "Foi um mestre para mim também na minha formação como treinador, pois permitiu que fizesse um estágio com ele no Real Madrid e outro no Manchester United", lembrou.

Durante a sua longa carreira, há apenas um momento que Chiquinho se arrepende até hoje e tem que ver com a sua saída do Sporting. "Tinha contrato de três anos, mas só estive lá um ano e meio por causa de um conflito entre o presidente Santana Lopes, que tinha substituído o Sousa Cintra, e Carlos Queiroz. O presidente foi contratar o Mauro Soares ao Belenenses e eu tive de ir para o Restelo como moeda de troca. Se fosse hoje não tinha ido e se calhar a minha ligação ao Sporting teria sido mais marcante", remata.

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