China tem mais investidores do que militantes do PC
A República Popular da China (RPC) ultrapassou, pela primeira vez, o número de cem milhões de pessoas a investirem nas duas bolsas do país, a de Xangai e a de Shenzhen, número bastante superior ao de inscritos no Partido Comunista, que é de, aproximadamente, 88 milhões.
Esta é uma tendência que já se verificara em 2015 quando o número de investidores individuais superou os 90 milhões, ultrapassando os 87,8 milhões de militantes comunistas, conforme revelou em junho passado a agência oficial Nova China. É agora confirmada com a divulgação dos números referentes a janeiro.
Assim, segundo a Comissão Reguladora do Mercado de Valores, uma média de 67 500 pessoas por dia útil abriram novas contas para negociar nas bolsas de Xangai e de Shenzhen. Em 2015, aquele número foi de 48 600 investidores por dia útil e só no mês de junho entraram no mercado sete milhões de novos investidores.
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Em comparação, o PC chinês teve, em 2014, 1,1 milhões de novas filiações; em 2013, tivera 1,6 milhões de adesões. Há um fator que deve, todavia, ser considerado: desde a chegada ao poder de Xi Jinping, em 2012, este tem patrocinado uma intensa campanha contra a corrupção nas fileiras do partido. Uma campanha que não tem poupado nem altos dirigentes nem quadros comuns, e que já produziu a expulsão de cem mil militantes.
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Instabilidade bolsista
Mas o mercado bolsista chinês é perigoso, tem-se caracterizado pela instabilidade nos tempos mais recentes, e muitos destes cem milhões de investidores já perderam dinheiro.
A bolsa de Xangai caiu 22,65% em janeiro, enquanto a sua congénere de Shenzhen recuou 25,64% no mesmo período. Esta queda foi a maior e mais rápida desde que se iniciaram as operações bolsistas na China há 25 anos. Um primeiro mercado bolsista existiu em Xangai entre a segunda metade do século XIX, com um pequeno interregno de 1941 a 1946, até à proclamação da RPC em 1949.
Para os analistas, o número tremendo de investidores a operarem no mercado bolsista chinês é uma das causas da alta volatilidade que o caracteriza, sendo boa parte especuladores. Mas, notam ainda os analistas financeiros, a desaceleração da economia chinesa, a queda do preço do petróleo e o fenómeno relativamente novo neste país, que é o da fuga de capitais, estão igualmente a influenciar o comportamento do mercado. Este último aspeto deriva diretamente do fenómeno especulativo.
Espaço para crescer
Nos últimos seis meses de 2015, referia recentemente a Bloomberg, a saída de capitais da China foi equivalente a um bilião de dólares (912 mil milhões de euros).
A maioria dos analistas pensam que, após um período de boom, o mercado está agora a redefinir-se e que o sentimento dominante continuará a ser a venda, empurrando para baixo o valor das ações, uma tendência constante nos últimos seis meses de 2015.
Por outro lado, defendem que o setor tem ainda bastante espaço para crescer, pois representa atualmente pouco mais de 20% do mercado financeiro, menos de metade do que os chineses possuem em depósitos bancários. O que não deixa de ser paradoxal num regime comunista. Um regime que incentiva os chineses a estarem presente em bolsa, como o fez em abril de 2015, dois meses antes da chegada dos sete milhões de investidores acima referidos.
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