O deputado único do Chega no parlamento açoriano anunciou esta quarta-feira que vai votar a favor do Orçamento Regional para 2022 porque "o Governo aceitou as condições estabelecidas" e "o respeito exigido foi alcançado".."O respeito que exigimos foi alcançado. Será retribuído. Visto o Governo ter aceitado as condições estabelecidas no processo negocial em curso, o Chega vai votar favoravelmente, a bem da estabilidade, da minha terra e de todos os que confiaram em mim", afirmou José Pacheco, na primeira intervenção na Assembleia Legislativa Regional desde segunda-feira, altura em que começou o debate sobre o Plano e Orçamento na cidade da Horta, no Faial..Referindo-se à medida de incentivo à natalidade até 1.500 euros por cada nascimento "para famílias sem apoios sociais" e ao apoio a corporações de bombeiros, o deputado do Chega, que não fez entrar qualquer proposta de alteração ao documento em discussão no parlamento, disse que o diálogo com o executivo "irá muito além do Orçamento"..A direção nacional do Chega pediu, na quarta-feira passada, ao partido nos Açores para retirar o apoio ao Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM), mas o deputado único, José Pacheco, disse que nada estava fechado e que tudo podia acontecer, tendo em conta que estavam em curso negociações.."Jamais seria razoável sair deste processo com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. O diálogo irá muito para além do Orçamento Regional. Isto não é um cheque em branco. Não é mais uma oportunidade. Isto não voltará a acontecer porque estaremos demasiado atentos", afirmou José Pacheco esta quarta-feira no parlamento regional..O deputado dirigiu uma "palavra de apreço a todos os que trabalharam" nas negociações das propostas do Chega, nomeadamente "ao presidente do Governo", pela "abertura e capacidade de diálogo".."Nunca baixámos os braços, senhor presidente", frisou..De acordo com Pacheco, "o Chega não fez chantagem".."O que aconteceu neste processo foi um abrir de portas e derrubar de muros que muitos querem continuar a levantar", explicou..Segundo o deputado, "a democracia deve ser uma vivência, uma caminhada e até uma aprendizagem".."A democracia vive da discussão, mas essencialmente do consenso. Nunca será perfeita, mas tem de ser ponte para o entendimento e jamais uma muralha", notou.."É sempre fundamental ter em conta uma das mais importantes palavras em democracia: a estabilidade. Nenhuma democracia, sociedade ou sistema político sobrevive sem estabilidade", vincou..Pacheco disse pretender "combater a arrogância", recusando "caminhar para uma sociedade em que um animal ganhe mais direitos do que um ser humano".."Não quero viver numa sociedade em que o combate à pobreza é a sua manutenção. Nas últimas décadas cavou-se um enorme fosso entre aqueles que tudo recebem e os que apenas pagam. Não podem os açorianos continuar a pagar pelos que souberam encontrar um buraco na lei", referiu..Pacheco apontou o despovoamento como um "dos muitos desafios que vamos enfrentando", justificando a apresentação da "proposta de incentivo à natalidade, dirigida às famílias que querem ter mais filhos e não tem apoios sociais, até 1.500 euros por cada nascimento".."Esta proposta terá de ser regulamentada, de forma justa e equitativa e a que promova a solidariedade social", indicou..Por outro lado, disse, o "Chega apresenta outra proposta que irá dotar quatro das nossas Corporações de Bombeiros dos Açores com alguns equipamentos há muito desejados".."A saber: uma viatura de combate a incêndios para as Corporações de Ponta Delgada, de Angra do Heroísmo e da Horta e uma viatura de Pronto Socorro para a Corporação da Povoação. Trata-se de uma proposta que supera o meio milhão de euros", descreveu..A Assembleia Legislativa é composta por 57 eleitos e a coligação de direita (PSD/CDS-PP/PPM), com 26 deputados, precisa de mais três parlamentares para ter maioria absoluta..A coligação assinou um acordo de incidência parlamentar com o Chega e o PSD com a Iniciativa Liberal (IL)..A IL tem ameaçado chumbar a proposta de orçamento, tendo dito à Lusa, na sexta-feira, que vota a favor se for contemplada uma redução de "15 a 20 milhões de euros" no endividamento da região, situado nos 170 milhões de euros..O deputado independente, Carlos Furtado, ex-Chega, disse na sexta-feira que iria "honrar" o seu "compromisso" firmado com o Governo na votação do Orçamento..O parlamento conta ainda com mais 28 deputados: 25 do PS, dois do BE e um do PAN. Todos estes partidos anunciaram já o voto contra o Orçamento..O deputado do PAN na Assembleia dos Açores, Pedro Neves, criticou esta quarta-feira os partidos que integram o Governo Regional (PSD, CDS-PP, PPM), acusando-os de "subjugação humilhante" para tentar "agradar a gregos e a troianos"..Na intervenção final do Plano e Orçamento da região para 2022, o parlamentar do PAN recordou a "conferência de imprensa da passada sexta-feira", realizada pelo deputado do Chega, José Pacheco, onde aconteceu a "pérfida e perfeita humilhação" dos Açores.."Como pode esta coligação falar de responsabilidade governativa quando falharam para com os açorianos nas Agendas Mobilizadoras e agora neste Orçamento que, na tentativa de agradar a gregos, numa subjugação humilhante, ficou com o papel dos troianos?", declarou o deputado do PAN, da tribuna da Assembleia dos Açores, na Horta..O BE/Açores acusou esta quarta-feira, no parlamento regional, o presidente do executivo (PSD/CDS-PP/PPM) de escrever "uma página negra" na história "ao aceitar a chantagem do Chega" a propósito da votação do Orçamento para 2022.."O PSD, partido fundador da autonomia, pela mão do atual presidente do Governo [José Manuel Bolieiro], escreve uma página negra da nossa história ao aceitar a chantagem do Chega, partido que fere a autonomia e os valores centrais da democracia", disse António Lima, na intervenção final do BE antes da votação na generalidade do Plano e Orçamento regionais para 2022, agendada para quinta-feira..Para o bloquista, à frente do destino dos Açores está "um Governo sem projeto que se mantém no poder ligado à máquina e quem tem o poder de a desligar é um partido anti-autonomista, xenófobo e que criminaliza a pobreza".."Este Governo Regional não passa de uma manta de retalhos que se debate contra si mesma para se manter no poder a todo o custo", afirmou..Para o BE, está em causa um Governo que aceita que a autonomia seja espezinhada de forma grotesca por um dos partidos que no parlamento o sustenta".."A transparência, na boca deste Governo é palavra vã e ser troca-tintas é a sua essência", criticou..De acordo com o BE, "o Governo, com dinheiros públicos, aumentou o apoio às empresas para contratarem trabalhadores precários".."A região paga e as empresas contratam como querem. Vem depois a público o Governo vangloriar-se de que diminui a precariedade quando 33% dos contratos pagos pelo Governo são precários", observou..Para o BE, que vai votar contra o Orçamento, "tentar ludibriar os problemas não os resolve".."Muito menos os resolvem os artifícios propagandísticos como o empolamento dos números dos atos médicos sem doente em cerca de 25.000, para mostrar números positivos na saúde", alertou..Por outro lado, "na cultura, os agentes culturais são tratados como pedintes e em consequência a cultura é o parente pobre com menos de 0,5% do orçamento"..O deputado da IL na Assembleia dos Açores, Nuno Barata, enalteceu esta quarta-feira a proposta para a redução do endividamento em 18 milhões de euros, prevista no Orçamento para 2022, uma exigência do partido para aprovar o documento.."Hoje, a maioria parlamentar que suporta o Governo [PSD, CDS-PP, PPM] apresentou uma proposta que reduz o valor do endividamento para 152 milhões de euros. Reduz mais 18 milhões de euros", declarou Barata..E acrescentou: "relativamente à anteproposta, cada açoriano viu reduzidas as suas responsabilidades sobre o endividamento da região em 646 euros, menos 1.789 euros de endividamento a cada agregado familiar da Região Autónoma dos Açores", declarou..O deputado liberal falava na intervenção final do debate do Plano e Orçamento dos Açores para 2022, no parlamento açoriano, na cidade da Horta..Nuno Barata salientou ainda que "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" e recordou a posição do partido que disse não ser "aceitável" o endividamento de 295 milhões de euros previsto na anteproposta de Plano e Orçamento.."A dívida da região tem condições para ser travada, é preciso é que a maioria do Governo tenha coragem para travar os investimentos onde eles têm de ser travados", assinalou..O deputado da IL salientou que a "alteração de paradigma não pode ser apenas um parangona" e defendeu que é preciso "mudar a forma de planear o investimento" nos Açores.."O documento que nos foi presente não assenta nessa alteração de paradigma, bem pelo contrário. Além da rigidez de regulamentação, que obviamente também carece de ser alterada, é ponderoso mudar a forma de planear o investimento da região", afirmou..Em 19 novembro, o deputado único da Iniciativa Liberal (IL) no parlamento açoriano revelou à Lusa que pretendia votar favoravelmente o Orçamento Regional para 2022 se for contemplada uma redução de "15 a 20 milhões de euros" no endividamento da região.