Chefe da máfia pode ter sido morto por uma razão bem improvável
Quando, a 13 de março, surgiu a notícia do assassínio do líder da família Gambino - uma das mais antigas da máfia nova-iorquina -, morto com dez tiros à queima-roupa em frente a casa e ainda com o corpo posteriormente atropelado por uma carrinha, as autoridades ficaram chocadas com aquilo que parecia um regresso aos tempos de guerra violenta de clãs mafiosos na cidade mais famosa do mundo.
Desde 1985 que Nova Iorque não era palco de uma cena do género, quando um outro ex-líder da família Gambino, Rob Castellano, foi assassinado a tiro em frente a um famoso restaurante de Manhattan, como resultado de uma luta interna de poderes. Agora, a notícia da morte de Frank Cali, de 53 anos, começou por levantar uma série de interrogações associadas à atividade da máfia: teria sido motivada por mais uma luta interna de poderes na família Gambino? Ou teria o atropelamento, já com o corpo baleado no chão, sido uma mensagem enviada por rivais? A máfia teria voltado a endurecer os hábitos, depois de um período de acalmia nos últimos anos, desde que vários criminosos foram presos na década de 1990?
Nem o mayor de Nova Iorque, Bill de Blasio, escondeu a surpresa pelo assassínio de Cali. "Pensávamos que esses dias já tinham acabado. Mas parece que há velhos hábitos que custam a morrer", disse, em conferência de imprensa, nas horas seguintes ao episódio.
No entanto, o motivo pelo qual o líder dos Gambino foi morto pode ser, afinal, ainda mais inesperado. Segundo o New York Post, a polícia acredita que Cali pode ter sido vítima de uma vingança por ter proibido... um namoro de uma sobrinha.
No passado sábado, as autoridades policiais detiveram em Nova Jérsia Anthony Comello, um homem de 24 anos com trabalhos esporádicos na construção civil, a viver ainda em casa dos pais e sem registo criminal no cadastro. Na noite de 13 de março, Comello foi com a sua carrinha até casa de Frank Cali, em Staten Island. À chegada, embateu propositadamente contra o Cadillac Escalade que o chefe da máfia tinha estacionado em frente à porta e foi tocar à campainha, levando a matrícula do Cadillac que tinha destruído.
Depois de uma troca de palavras com o líder da família Gambino, que saiu até perto do carro, Comello disparou dez tiros que deixaram Frank Cali estendido na rua. De acordo com informações obtidas pelo New York Post, Comello tinha cortejado uma sobrinha do mafioso, mas fora avisado por Cali para se manter afastado.
O jovem terá confirmado a autoria do crime, quando foi detido pela polícia, e além das impressões digitais na matrícula danificada do Cadillac também ficou registado nas câmaras de vigilância da casa dos Gambino. A confirmar-se esta versão, não se pode dizer que tenha sido o final mais esperado para o chefe de uma das cinco principais famílias associadas à cena do crime em Nova Iorque.
Para já, a polícia recusa confirmar oficialmente esta pista e mantém em aberto a hipótese de se ter tratado de um crime relacionado com a atividade da máfia. "Estamos conscientes do passado do senhor Cali e isso terá de ser levado em consideração durante a investigação. Nesta altura, ainda há muitos ângulos a explorar", disse o chefe da investigação, Dermot Shea.