Chamava-se Edmilson
Avistámo-lo do outro lado da rua. Não era bem um homem mas uma sombra escura encostada a outras - caixas de cartão, sacos plásticos, volumes incertos de onde saíam roupas, um candeeiro, papéis e garrafas vazias.
Fizemos-lhes perguntas e respondeu-nos meio em crioulo de Cabo Verde, meio em português.
- A renda, não tem trabalho, mandaram para a rua...
Demos-lhe comida, perguntámos se tinha alguém, amigos, família...
- Não tem ninguém, não tem ninguém...
Acabámos por ligar para um abrigo e depois outro, nenhuma vaga. Finalmente a polícia que veio ter connosco encolheu os ombros.
- Por hoje não há nada a fazer, talvez amanhã.
Chamava-se Edmilson e foi a primeira noite na rua, estava bêbedo e perdeu o emprego porque não pagou a renda. Tinha fome e estava sozinho. Chamava-se Edmilson.
Escritor. Escreve de acordo com a antiga ortografia