Centeno quer que BCE desacelere o ritmo dos aumentos das taxas de juros

Governador do Banco de Portugal acredita que a inflação vai atingir o pico neste trimestre.
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Mário Centeno pensa que o Banco Central Europeu (BCE) deve desacelerar o ritmo dos aumentos das taxas de juros a partir de dezembro e enviar uma mensagem clara de que aumentos de 75 pontos-base não são a norma, já que a inflação deve atingir o pico neste trimestre.

O BCE elevou as taxas de juros num recorde de 75 pontos-base em cada uma das suas últimas dois reuniões e, desde julho, elevou a sua taxa de depósito em 200 pontos-base.

"Estamos a aproximar-nos de níveis que consideramos compatíveis com a estabilidade de preços a médio prazo, o que significa que a ideia de que aumentos de 75 pontos base são a norma não se pode concretizar", afirmou o governador do Banco de Portugal em entrevista à Reuters .

"É importante encerrar esse ciclo de aumentos de forma crível, e mais importante do que o número (da alta de juros) em si é transmitir essa narrativa ao público... Estamos realmente a esforçar-nos para transmitir essa previsibilidade sobre o futuro e espero que a reunião de dezembro seja muito clara", afirmou durante a entrevista, mas sem se atrever a prever se as taxas de juro vão subir 50 ou 25 pontos-base no próximo mês ou no próximo ano.

A inflação na zona do euro atingiu os 10,6% em outubro, um valor cinco vezes superior à meta de 2% estabelecida pelo BCE, mas Centeno refere que os dados sugerem que a inflação vai atingir o pico no último trimestre de 2022, citando estimativas do Banco Mundial de que os preços de energia, minerais, alimentos e fertilizantes vão baixar em 2023.

Na opinião do antigo ministro das Finanças, a elevada inflação não está enraizada na Europa e não há efeitos secundários dos aumentos salariais, que estão bem abaixo da inflação até agora.

"Isso é francamente positivo e muito diferente do que aconteceu nos Estados Unidos, onde o mercado de trabalho desse ponto de vista está bastante sobreaquecido", afirmou.

Mário Centeno diz que é inevitável uma maior consolidação do setor bancário de Portugal, apelidando de "notável" o recente progresso que os bancos portugueses fizeram no fortalecimento do capital e na redução do risco.

"Depois desse reforço, a consolidação do sistema bancário e o fortalecimento das suas instituições é absolutamente crucial e é inevitável que o sistema, o mercado, enfrente isso", afirmou o governador do Banco de Portugal.

Embora a pandemia da covid-19 e a atual crise tenham adiado esse processo, Centeno garante que será feito, "como sempre, com muita tranquilidade".

Os bancos de Portugal ainda estão marcados por uma crise de dívida e um aumento nos créditos não produtivos após a recessão de 2010 a 2013.

"Embora esteja muito satisfeito com a evolução...não adianta descansar, temos de nos desafiar", disse Centeno.

"É importante que este amadurecimento aconteça com um reforço contínuo das instituições na sua dimensão, na sua capitalização e principalmente na sua capacidade de resposta aos desafios da digitalização, ação climática, porque tudo isso passa pelos balanços dos bancos", concluiu.

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