"Celeste Rodrigues era uma espécie de pulso do fado"
Foi Amália Rodrigues quem, no final dos anos 70, apresentou Celeste, a sua irmã mais nova, ao realizador Bruno de Almeida. Como é que ela era? A pergunta é lançada no dia da morte da fadista, esta quarta-feira, aos 95 anos. "Era incrível. Era uma pessoa cheia de vida, não parava. Quem procurava ir ouvir fado informava-se de onde é que ela estava, era onde as coisas estavam a acontecer nesse dia. Ela era uma espécie de pulso do fado. Toda gente a ouvia. O pulso de Lisboa estava sempre onde ela estivesse. Era discreta, mas muito constante e muito sólida."
Em comum com Amália tinha, segundo o realizador de Amália - Uma Estranha Forma de Vida, "a honestidade e o romantismo". Mas eram bem diferentes uma da outra, como, de resto, as suas vozes. "A Amália era bastante extrovertida e ela era mais tímida. Isso reflete-se muito na maneira de cantar da Celeste, mais contida, mais virada para dentro. Era um cantar muito verdadeiro, muito próprio."
Bruno de Almeida filmou a fadista em Fado Celeste a cantar o tema com o mesmo nome, de Tiago Torres da Silva e Pedro Pinhal. "Mas p'ra não sofrer à toa / Não dou um nome a Lisboa / Só lhe chamo saudade", canta Celeste Rodrigues naquele tributo, pedido pelo Museu do Fado, com Carminho, Camané, Helder Moutinho, Gisela João ou Ricardo Ribeiro a assistir.
"Ajudava muito os músicos mais novos, apoiava, dava conselhos. Foi eleita a avó do fado", ri-se o cineasta. "Era muito divertida, tinha um grande sentido de humor, e viveu em pleno, intensamente."
O cineasta refere ainda o facto de, com cerca de 70 anos de carreira, Celeste Rodrigues ter atravessado "grande parte da história do fado", e em todo esse tempo não ter cantado nunca "coisas em que não acreditasse. Tinha um bom gosto incrível, um reportório muito bom e muito próprio."
Bruno de Almeida recorda ouvir a fadista cantar "muitas coisas da Beira Baixa", que vinham dos seus tempos de menina. "Era das coisas que eu mais gostava de ouvir", diz.