Cécile de France, um dos rostos da Festa
O tempo passa e esta belga continua uma eterna namoradinha do cinema francês. Cécile de France, por mais Dardennes que faça, é um rosto que muitos associam às comédias do franchise A Residência Espanhola e a Clint Eastwood, que precisou dela para um delicado papel em Hereafter - Outra Vida. Nesta Festa do Cinema Francês, tal como Marion Cotillard, é uma diva com uma dobradinha. Melodias de Django, de Etienne Comar, e a comédia romântica Só para Ter a Certeza, de Carine Tardieu, trazem-na de volta aos nossos ecrãs.
Em Berlim, quando a encontramos, está com uma beleza serena, vestida com umas calças que usou em Melodias de Django, onde interpreta a misteriosa Louise de Klerk, uma das cúmplices de Django Reinhardt, guitarrista virtuoso que se tornou até hoje numa das maiores lendas de sempre do jazz. O filme é a história do seu percurso na França ocupada pelos nazis, tentando sobreviver com a sua família cigana. Uma Cécile de France mais fatal do que nunca. "O Etienne, o realizador, queria que a minha personagem fosse secreta e com muita ambiguidade. Ela é a coisa mais ficcionada desta história real, uma mulher com uma certa tristeza e alguma vulnerabilidade. Inspirei-me na americana Lee Miller, que na altura era a "it girl" em França, a musa de Picasso e de Man Ray. Segundo li num livro que o realizador me fez chegar, ela odiava os nazis. Dessa forma, quis dar alguma nobreza a esta heroína", começa por nos dizer.
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Para a atriz, Melodias de Django surge numa altura em que cada vez mais a Europa filma histórias da Segunda Grande Guerra: "esta é a oportunidade para se fazer um paralelismo com o flagelo dos refugiados. Não é por acaso que aqui vemos uma comunidade de ciganos a ser deportada... E a música surge como símbolo de resistência. Este totalitarismo dos nossos dias só nos pode deixar assustados. É aterrorizador pensar que podemos estar perto de uma nova guerra". Melodias de Django, que abriu o festival de Berlim, tem essa veleidade: transpor a memória do horror nazi como alerta destes tempos.
Tal como Binoche, Audrey Tautou ou Isabelle Huppert, também já provou a ilusão de Hollywood. Primeiro num dispensável A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Frank Coraci e, depois, sob as ordens de Clint Eastwood no thriller Hereafter - Outra Vida, onde contracenava com Matt Damon. Preferiu voltar para o cinema europeu, mas vai dizendo que o mercado internacional para os atores está mais facilitado: "as séries de televisão pedem uma mistura de nacionalidades. É muito bom para os atores todo esse cruzamento cultural. Se não fosse por isso não teria sido convidada para rodar O Jovem Papa, com Jude Law. Senti-me muito privilegiada por estar numa produção tão internacional".
E o que é interessante em Cécile é a sua capacidade e disponibilidade para fazer projetos tão diferentes. Ao mesmo tempo pode ter um porte maternal, como tem em O Miúdo da Bicicleta, dos irmãos Dardenne, como também pode exalar uma força de espírito indomável como a sua personagem em Só para Ter a Certeza, também prestes a estrear em Portugal.
Em Berlim