Catástrofes naturais: porque é que um furacão nos EUA aumenta preço dos seguros em Portugal?
A zona onde mora foi atingida por um vento anormalmente forte e a árvore que estava junto ao seu carro caiu-lhe em cima. Além de culpar as alterações climáticas pela cada vez maior ocorrência de fenómenos de chuva intensa e ventos anormalmente fortes, como o furacão Leslie que agora se aproxima da Madeira e obrigou a cancelar voos ou o Michael, pode ainda ser surpreendido quando perguntar à sua seguradora quanto vai receber de indemnização. Com uma grande probabilidade a resposta pode ser: nada.
Já as seguradoras têm uma visão diferente do impacto que os fenómenos climáticos provocam nas suas contas. De acordo com a Muniche Re (empresa que faz resseguros) em 2017 os furacões Harvey , Irma e Maria e o sismo que atingiu o México contribuíram bastante - cerca de 100 mil milhões - para os mais de 300 mil milhões de euros que foram pagos em indemnizações por estas empresas.
Apesar de não ser uma questão nova o descobrir que a sua apólice não contempla alguns riscos, é uma situação que está a surgir cada vez mais. Isto porque os consumidores quando contratam um seguro não percebem que, na maior parte dos casos, a apólice não inclui "catástrofes naturais". Ou inundações e incêndios, fenómenos que atualmente ocorrem com frequência devido ao impacto das alterações climáticas.
Por isso, quando se assinala neste sábado o Dia Internacional para a Redução de Catástrofes, este assunto volta a estar no debate público, como aconteceu nesta sexta-feira no Porto, durante uma conferência promovida pela Deco, onde se analisou o impacto dos fenómenos climáticos extremos, as emissões poluentes e a responsabilidade pública, a saúde ambiental e os seguros. Tudo na ótica do consumidor.
Consumidor que ainda pode ver o valor do seu seguro anual subir na sequência de uma catástrofe que pode ter ocorrido em qualquer ponto do mundo. E a variação desse valor nem tem relação com o impacto da catástrofe (número de mortes ou destruição provocada), mas sim com o local onde ocorreu.
No Dia Internacional para a Redução de Catástrofes eis alguns alertas aos consumidores e explicações sobre as relações entre seguradoras que podem implicar o aumento dos valores dos seguros:
Ao DN fonte oficial da Associação Portuguesa de Seguradores explicou que a "cobertura de danos resultante de catástrofes naturais é, regra geral, uma cobertura facultativa, associada aos diversos tipos de seguros que os tomadores dos seguros podem decidir contratar, ou não. Ou seja, tipicamente, não está incluída na cobertura-base do seguro. É por isso muito importante ter isso em atenção, e pedir expressamente a inclusão dessa cobertura, nomeadamente quando se fazem seguros de danos próprios dos veículos ou seguros para as habitações, comércios ou indústrias".
Em Portugal está a ser preparado algum mecanismo para ajudar financeiramente quem for afetado por uma catástrofe?
A Associação Portuguesa de Seguradores garantiu ao DN que "está a ser ultimada a criação de um Sistema de Proteção de Riscos Catastróficos, que será anunciado e explicado no final deste mês de outubro".
"As alterações climáticas são uma realidade e há muita coisa que está hoje a acontecer em áreas como a saúde e os seguros que começamos a repensar. Há uma nova realidade: a forma como os consumidores e as seguradoras estão preparados para enfrentar as alterações climáticas. Não se pensa no impacto que têm na vida dos consumidores. É preciso prevenir o futuro", disse ao DN Paulo Fonseca, coordenador do departamento jurídico e económico da associação de defesa do consumidor Deco.
"É preciso mudar comportamentos. Se tiver uma casa numa zona de interior, mais vulnerável em termos de incêndios, deve ter-se isso em conta no seguro. O consumidor tem de começar a ter um comportamento mais defensivo. Tem de ser mais exigente com a indústria e o Estado tem de incorporar na legislação as consequências das alterações climáticas. O consumidor deve exigir mais proteção", defende Paulo Fonseca.
As apólices podem subir de valor devido a uma catástrofe ocorrida fora de Portugal?
Sim, podem. Um especialista em seguros contactado pelo DN explicou que esse aumento é uma consequência do resseguro. Por exemplo, as seguradoras nacionais têm contratos com empresas internacionais que assumem uma parte do risco das apólices pois nenhuma tem capacidade financeira para assumir todos os contratos que assina.
Se uma seguradora tem apólices no valor de 100 milhões de euros de risco, mas só tem capacidade para pagar 20 milhões, o restante é passado para um contrato de resseguro. No caso da ocorrência de um sismo, por exemplo, a empresa que fez o resseguro vai pagar os 80 milhões de euros que a primeira não consegue.
Não. Se acontecer um tremor de terra numa sociedade desenvolvida, por exemplo no Japão, onde há mais apólices e essas serão acionadas, o impacto económico global será muito maior do que se acontecer num país menos desenvolvido onde poucas apólices de segura existirão. Isto acontece independentemente do impacto da catástrofe em termos de destruição ou de mortes.
A empresa de resseguros Munich Re divulgou um comunicado no início do ano em que adiantava que os furacões Harvey, Irma e Maria e o sismo que aconteceu no México tiveram um peso de cerca de 100 milhões de euros no total de mais de 300 mil milhões de euros que a indústria de seguros teve de pagar em 2017 em indemnizações.
Comparam este dado com o pior ano para as empresas de seguros: em 2011, o tremor de terra em Tohoku (nordeste do Japão) seguido de tsunami que matou mais de 15 mil pessoas teve um impacto de cerca de 300 mil milhões de euros.
Sim, por isso no relatório citado é adiantado que as estatísticas da empresa apontam para a ocorrência de 710 catástrofes naturais relevantes em 2017, em que perderam a vida cerca de dez mil pessoas.
É difícil dizer. No que diz respeito aos municípios, perto de 300 já aprovaram os respetivos planos municipais de proteção civil e foi revisto em 2017 o Plano Nacional de Emergência de Proteção Civil.