Catarina Costa. A estudante de Medicina vice-campeã da Europa

Atleta da Académica conquistou primeira grande medalha da carreira no dia em que Telma Monteiro foi eliminada e falhou recorde. É a 39.ª medalha para Portugal.
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O fim da inigualável série de 15 medalhas europeias de Telma Monteiro coincidiu com a primeira grande medalha de Catarina Costa. A prata conquistada sexta-feira, nos Europeus de Sófia, é a primeira em grandes provas da judoca da Associação Académica de Coimbra e consagra-a como sucessora da medalhada olímpica eliminada na primeira ronda.

Antes de se estrear nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano passado, Catarina Costa (CC Atomic, para os amigos) deu uma entrevista à TSF onde revelou o sonho de "fazer história no judo português". E quase o conseguia na primeira participação olímpica, mas perdeu o combate pelo bronze e terminou em 5.º lugar. "Ambiciosa", como faz questão de se definir, não desistiu de procurar a primeira grande medalha no tatami e foi agora recompensada por isso ao conquistar a prata na categoria -48 kg.

O ouro do Grande Prémio de Portugal, a 28 de janeiro, já fazia antever uma grande participação da atleta de Coimbra nestes Europeus, mas a história recente não lhe era favorável. Além de ter perdido o combate pelo bronze em Tóquio, tinha também visto fugir a medalha de bronze nos Mundiais de Baku 2018 e nos Europeus de Minsk 2019. Farta de ficar em 5.º lugar, a n.º 4 do ranking mundial entrou na Arena Armeets, em Sófia, determinada a fazer história, sagrando-se vice-campeã europeia. "Venho de dois Europeus muito amargos, muito tristes, muito duros, e lembro-me perfeitamente de o meu treinador [o ex-judoca João Neto] me dizer que os atletas mais fortes se destacavam por se levantarem depois de caírem", desabafou, no final, a judoca, de 25 anos.

Catarina chegou à final do peso mais leve do judo após ter ficado isenta na primeira eliminatória e depois de vencer três combates. Com a azeri Leyla Aliyeva garantiu a vitória nos segundos finais, com três castigos aplicados à adversária. E com a italiana Assunta Scutto teve de ir a prolongamento, acabando por vencer no golden score por ippon, antes de passar à meia-final com a israelita Shira Rishony, onde geriu o combate e sobreviveu a dois castigos, após uma vantagem por wazari.

Na final, teve de ser assistida devido a uma problema numa mão e não resistiu à francesa Shirine Boukli (2.ª do ranking mundial), perdendo a 46 segundos do final do combate, depois de sofrer uma desvantagem de wazari. "Quando faltava um bocadinho menos de 30 segundos, claro que tentei ir para cima dela, mas é uma adversária dura nas pegas, tem um bom kumi-kata [a forma de segurar no judogi], e não foi possível nem projetá-la, nem impor-lhe a última penalidade, que seria difícil, mas claro, se o conseguisse, ganharia o combate", resumiu a judoca.

Catarina Costa pratica judo desde os 10 ou 11 anos, depois de um professor a desviar do futebol e a ter convidado a experimentar os tatamis. Não conhecia a modalidade, mas sabia quem eram Telma Monteiro e Nuno Delgado e aceitou o desafio. Com dois meses de judo, Catarina Costa foi lançada na competição. Diz que não era muito boa, mas gostou da sensação e continuou a treinar. Aos 13 anos sagrou-se campeã nacional e passou a ser treinada pelo antigo campeão europeu João Neto, que ainda hoje orienta aquela que é uma das grandes revelações do judo português dos últimos anos.

Prefere a técnica à força bruta, afinal é uma judoca muito técnica, perseverante e resiliente. Estuda Medicina na Universidade de Coimbra, o que torna a medalha de prata ainda mais impressionante, tendo em conta que está num dos cursos universitários mais exigentes e treina 16 a 20 horas por semana. O futuro pode levá-la a exercer medicina, mas o presente é no judo e a representar o clube do coração, a Académica.

A medalha de Catarina Costa foi a 39.º de Portugal em Europeus (11 de ouro, 8 de prata e 20 de bronze), sendo que a primeira foi conquistada, em 1994, por Justina Pinheiro, em Gdansk, na Polónia, também na categoria de -48 kg. Mais de um terço das conquistas pertencem a Telma Monteiro (-57 kg), que foi eliminada logo na primeira ronda e falhou o recorde absoluto de pódios da prova, que já é seu (15, a par da alemã Barbara Classen).

Pela primeira vez em 18 anos e 16 Europeus, a mais medalhada do judo português não conseguiu um pódio. "Se tivesse a 16.ª queria a 17.ª, se fosse campeã da Europa, para o ano queria ganhar outra vez. E é isso que tem definido a minha carreira", defendeu a judoca do Benfica, admitindo que "há dias que as coisas não correm tão bem", mas "felizmente as pessoas não se lembram tantos desses", porque ela até tem tido "muitos dias bons".

Ter estado infetada com covid-19 já este ano e ter sofrido um acidente de viação há cerca de 15 dias levaram a uma preparação aquém do que Telma desejaria. "Nunca fui de encontrar desculpas. No ano passado fui aconselhada a não competir e fui campeã da Europa [em Lisboa]. Nunca fugi à luta e não ia ser agora", lembrou Telma Monteiro, que continua determinada a estar nos Jogos Olímpicos Paris 2024... a meses de fazer 39 anos.

Também na sexta-feira os judocas Francisco Mendes (desclassificado na categoria -60 kg devido a um movimento perigoso) e Joana Diogo (-52 kg) saíram de prova ao segundo combate na Arena Armeets. Já Rodrigo Lopes (-60 kg) foi eliminado na primeira ronda e não escondeu a "desilusão", uma vez que vinha de bons desempenhos em provas importantes.

Sábado há mais três portugueses em prova e duas medalhas a defender. João Crisóstomo vai tentar repetir ou melhorar a medalha de bronze, conquistada no ano passado em Lisboa. Após o êxito no Europeu, nos Mundiais o atleta da Lusófona foi eliminado na estreia e ficou de fora dos Jogos Olímpicos. Recebeu um convite para ir aos Europeus graças ao bronze de Lisboa, numa altura em que procura voltar à melhor forma após uma grave lesão que o obrigou a parar quatro meses.

Também Bárbara Timo, do Benfica, que desceu dos -70 kg para os -63 kg, tem uma medalha a defender, depois do bronze de Lisboa 2021, mas a ambição da vice-campeã mundial (2019) é melhorar em Sófia.

João Fernando (-81 kg), aluno de Engenharia Aeroespacial no Técnico e atleta do Sporting, procura uma grande medalha.

isaura.almeida@dn.pt

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