Castelo de Paiva. Reviravolta à vista? Todos apostam na queda do PS

PSD diz que acabou a "política das festas e festinhas". Candidato da CDU até já falou com Rio sobre o "clima agressivo". Os dois candidatos independentes não duvidam: "o que existe vai acabar." Direção nacional social-democrata acredita no fim de 12 anos de PS.
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"As eleições estão muito divididas. As duas listas alternativas estragaram o puzzle bipartidário [entre PS e PSD]. Está tudo bastante imprevisível. Normalmente percebe-se, mas desta vez é arriscado dizer. É tudo muito atípico. Temos certeza: o que existe vai acabar, vai acabar a maioria de um partido", afirma Ricardo Jorge, candidato pelo movimento independente Um Concelho Para Todos (UCPT), antigo vereador e militante do PSD durante quase 20 anos [saiu do partido em março deste ano].

"O que se ouve mais dizer é que a eleição está dividida entre o nosso movimento e o PS. Conseguimos, e isso já é uma vitória, listas para tudo: câmara, assembleia municipal, juntas de freguesia, assembleias de freguesia. E temos aqui gente de todo o lado, desde pessoas ligadas ao PS, CDS, PSD: pessoas que se libertaram da prisão do partido". Foi isso que fez, libertar-se? "Não só, mas também [Ricardo Jorge foi a votos na comissão política da concelhia e não foi escolhido para candidato do PSD à câmara]. É que fui incentivado para estar disponível, mas no dia dessas eleições já sabia que ia perder. Desiludido? Não... porque os conheço a todos".

"O PSD sempre foi para mim um meio para melhorar a vida das pessoas, ter o concelho sempre à frente como objetivo, mas lá dentro, entre as quatro paredes das reuniões não é isso que acontece. Há dois discursos: um é o que dizem às pessoas, outro é o que se diz entre paredes", revela o candidato.
"Sabe o que afasta as pessoas da política? É isto que afasta as pessoas", considera.

Ricardo Jorge diz que "o que mais se ouve nas ruas são pessoas a dizer "que isto vai ter que mudar", é o que que as pessoas querem porque são sempre os mesmos. E isso é sintomático. Cada vez vez mais os partidos se fecham em duas ou três pessoas, não há espaço democrático dentro dos partidos. Isso é perfeitamente percetível, quase todos têm uma história na primeira pessoa sobre esta gestão politizada. Oiço muitas dizer:"Não interessa em quem vamos votar, mas tem que se mudar isto."

Vítor Quintas, candidato pelo movimento Mudar para Melhor (MPM), atual presidente da Junta de Freguesia de Real e deputado na Assembleia Municipal eleito nas listas do PS desde 2013, recusa a ideia de que a sua lista seja "a equipa B do PS": "O único movimento independente é o nosso. O outro veio do PSD. Temos independentes, militantes do PSD e também do PS. Aceitamos toda a gente, menos os extremos."

"Não temos é gente que depois de ser presidente [referência a Paulo Teixeira, presidente da câmara de Castelo de Paiva entre 1997 e 2009, atual candidato pelo UCPT à presidência da Assembleia Municipal], se fez convidado nos concelhos aqui à volta, que por ser recusado se fez militante do CDS e foi para Marco de Canaveses, que depois de perder voltou a militante do PSD e que agora está num movimento supostamente independente. Um dia é-se do Porto, outro do Benfica, depois do Porto outra vez...", diz o candidato.

Vítor Quintas, que espera "liderar o próximo executivo e fazer o que não foi feito", afirma existir uma "desilusão enorme, por todo o concelho, com a gestão do PS. Às vezes é difícil as pessoas mudarem, mas desta vez não. No porta a porta vamos percebendo o que pensam. E a ideia de que "se calhar não é com os partidos que vamos lá" está muito presente. "Tenho mais acolhimento junto da população do que os socialistas. Talvez por isso, o PS esteja a tentar colar-se a nós. Pomos um cartaz e eles colocam o deles logo ali ao lado. O José Manuel Carvalho [candidato do PS] até vai falar com as pessoas para lhes dizer que "votem em mim ou nele, mas em mim que depois eu arranjo-lhe um lugar de vereador". E aceita um acordo? "Não ponho de parte qualquer acordo com PS, PSD ou CDU. Depende dos resultados. A câmara precisa de estabilidade, mas digo-lhe que não preciso da política, sou advogado. No dia 27 tenho um julgamento marcado em Aveiro... ou vou eu ou vai um colega, depende do que a população quiser".

O candidato garante só ficar "surpreendido se o PS ganhar no dia 26" e conta como as "coisas funcionaram" nos últimos 12 anos nas juntas de freguesia: "Se fossem de cor diferente tinham menos benefícios, percebe. O meu caso [foi candidato pelo PS desde 2013] é sui generis ... passei a ser um alvo a abater por não ser um seguidista e por ter ambições. Quase nada do que pedi foi concretizado. O Gonçalo Rocha [autarca que por limitação de mandatos vai sair da presidência e é agora candidato à assembleia municipal] explicou-se dizendo que era por causa da dívida. Em 2017 aceitei ser novamente candidato e até lhe entreguei uma folha A4 com o que era preciso. Disse-me que não havia problema, que a dívida já não era um problema. Só que nada aconteceu. A partir de 2019 percebi que não iam cumprir."

Manuel Rodrigues, candidato da CDU, que acusa a gestão socialista de ter fechado as portas da autarquia à população - "nem o PSD foi assim" - e de ter atitudes agressivas e insultuosas, até já conversou com Rui Rio sobre "este clima agressivo". "Foi o José Rocha [candidato social-democrata] quem nos apresentou. O Rio veio cá e o José Rocha disse-lhe:""Fale aqui com este meu amigo, é o candidato da CDU." E falámos. Até foi ele quem puxou o tema... e eu confirmei a falta de respeito e de elevação dos socialistas que olham para o PSD como inimigo número um. Falámos sobre os candidatos do PS, da forma de fazer política que não se coaduna com os bons princípios da democracia. Eu combato ideias, não combato pessoas".

"Isto define a cabecinha destes autarcas. Estão de portas fechadas para o povo, semiabertas para os amigos e escancaradas para, digamos assim, alguns amigos. Por isso é que lhe digo que o PS vai-se ver em papos de aranha para ganhar. Vai haver aqui uma surpresa, não tenho dúvidas. As duas listas tidas como independentes que mais não são que descontentes do PS e PSD vieram baralhar o tradicional das eleições disputadas entre os socialistas e o PSD. Nota-se um desespero no PS, andam nervosos, agressivos", assegura.

Manuel Rodrigues, que é também presidente da Associação dos Combatentes do Ultramar Português, reconhece o fraco resultado do partido [97 votos em 2009, 106 votos em 2013 e 231 votos em 2017], mas não encontra um explicação clara e evidente. "Temos um histórico de trabalho diário, junto de associações e da população, que não corresponde ao histórico eleitoral. Estamos cá todos os dias, não aparecemos de quatro em quatro anos. Claro que ninguém está contente, queríamos mais. É sempre complicar explicar, mas já fomos mais fortes. O encerramento das minas do Pejão, na década de 90, que empregava 1600 pessoas e tinha um sindicato muito forte, projetava-se nos atos eleitorais. Nessa altura era fácil elaborar as listas. Isto não é um mea culpa nem uma explicação única, é uma constatação. E sabe... aqui votam nos partidos e não nas pessoas, acabam sempre a votar num partido. Se votassem nas pessoas tínhamos a vida facilitada".


"A política das festas e festinhas vai acabar. Ainda hoje se agarram ao pagamento da dívida que afinal só representa 10% do orçamento. É o desespero de quem tem uma postura ditatorial, de quem já percebeu a mudança. Andam nas ruas com atitudes agressivas, a pressionar as pessoas. Coisas como "não se esqueça, fiz-lhe o caminho à porta de casa", chamadas telefónicas... até há funcionários da câmara que têm medo de tomar uma posição pública por medo, por recearam perseguições não vá dar-se o caso do PS ganhar. E até nas redes sociais", garante o candidato social-democrata, que nota "essa perseguição com os comentários de baixa elevação que fazem, nos "gostos", nas partilhas".

José Rocha e a direção nacional do PSD acreditam na reviravolta. "O estudo de opinião dá-nos vantagem. Queremos ganhar a câmara, a assembleia municipal, manter três das seis juntas de freguesia e aumentar mais uma ou duas. E estamos confiantes porque se nota, claramente, a vontade de mudar, mas não é só por causa do estudo: o PS não conseguiu fazer evoluir o concelho".

O candidato, e vereador desde 2017, que não tem email oficial da câmara - "é o lápis azul do séc. XXI, uma descriminação.... e nem email nem foto. Querem fazer-nos desaparecer" - define os independentes como "pessoas que se propuseram aos partidos, mas como não foram aceites ou perderam as eleições internas avançaram para listas alternativas. É também, por isso, que apelamos ao voto útil. A mudança só será possível com o PSD".

José Manuel Carvalho, atual vereador, que não acredita "num fim de ciclo" de 12 anos e que também apela "ao voto útil" por causa das candidaturas independentes, afirma que o PS faz "bluff". "É uma tentativa de passar a mensagem de que há um empate técnico. Resta saber se os independentes conseguem eleger alguém, mas o momento é-nos favorável, em junho, o nosso estudo de opinião apontava o sentido da vitória. As candidaturas independentes tiveram um impacto inicial, quando foram conhecidas, mas isso já passou".

"O que passa agora é uma luta desigual, cinco contra um, é um assalto ao poder. É uma luta de quase vingança para destabilizar. No PS temos uma lista limpa, os independentes são desiludidos, gente que não foi aceite nas estruturas dos partidos onde estavam", afirma.

O candidato refuta todas as acusações da oposição argumentado que "existe uma participação democrática e salutar na câmara". "Portas fechadas à população? É um tabu, basta consultar as atas das reuniões. E o que fizemos de só haver uma reunião pública é uma prática comum em todas as câmaras que conheço aqui à volta. Até 2009 é que era um hábito as portas estarem fechadas... nós abrimos a câmara".

José Manuel Carvalho também não receia qualquer comparação com Gonçalo Rocha [presidente que sai por limitação de mandatos]. "Somos amigos de infância, sei que me acusam de não ter a simpatia do Gonçalo, mas também sei que há outros que dizem que tenho domínio superior nos dossiers, nomeadamente os técnicos como o urbanismo. Não me preocupam comparações. E até lhe digo... o Gonçalo Rocha está com uma motivação superior às anteriores eleições".

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