O presidente da Junta de Castela e Leão, Alfonso Mañueco, antecipou as eleições na esperança de poder governar sozinho e evitar uma eventual traição do sócio de governo desde 2019, o Ciudadanos - que suspeita se estar a preparar para o derrubar com o apoio dos socialistas. Mas arrisca, depois de contados os votos e escolhidos os 81 procuradores (deputados regionais), ter que se juntar a um aliado ainda mais complicado e imprevisível: a extrema-direita do Vox..Depois de, com o seu apoio, ter permitido governos liderados pelo PP na Andaluzia e na Comunidade de Madrid, o líder nacional do Vox, Santiago Abascal, avisou agora que "não há votos grátis" e espera ter um resultado que lhe permita fazer parte do executivo. Tudo depende do resultado que o partido conseguir neste domingo, com Abascal a considerar "muito grave" que na reta final da campanha o PP "tenha dito que prefere perder o governo a fazer uma coligação com o Vox"..O PP quer evitar esse cenário a qualquer custo, com o líder Pablo Casado a dizer no comício final de campanha que a escolha é entre "o PP ou o caos" - referindo-se também a uma eventual aliança de esquerda que tire Mañueco do poder. Nesta região está em jogo também o seu futuro, com um resultado positivo a ser visto como o ponto de partida para o PP recuperar o governo espanhol em 2023 - no seguimento do bom resultado de Isabel Díaz Ayuso em Madrid. Mas um resultado negativo, numa região governada pelo PP desde 1987 (com José Maria Aznar, mais tarde primeiro-ministro), obrigará a repensar a estratégia..As últimas eleições, em 2019, foram ganhas pelo PSOE, que repete a candidatura de Luis Tudanca. Mas, na altura, a aliança da direita retirou a oportunidade de os socialistas governarem. Agora, o partido espera surpreender de novo e, desta vez, ter os números necessários para que o governo de Castela e Leão vire à esquerda. As sondagens colocam o PSOE em segundo (elege 28 procuradores), logo atrás do PP (29), e à frente do Vox (13). Segue-se a Unidas Podemos (três) e o Ciudadanos, que pode passar dos atuais 12 procuradores só para um..O primeiro-ministro e líder socialista, Pedro Sánchez, esteve na região a fazer campanha, alertando para o risco de uma aliança entre o PP e o Vox fazer "retroceder os avanços sociais". O próprio Tudanca avisou: "Só há dois caminhos: ou a mudança ou um governo com o PP e o Vox", reiterando que, com ele, os direitos das mulheres "nunca estarão numa mesa de negociações"..Segundo os especialistas, o resultado irá depender da participação, com as previsões de chuva a não serem positivos. Cerca de dois milhões de eleitores são chamados às urnas mas, pela primeira vez, as eleições autonómicas não coincidem com as municipais, sendo esperada uma queda na participação dos 70,81% de 2019 para algo entre 60 e 65%. Nos dias antes das eleições, havia ainda cerca de 20% de indecisos..Castela e Leão tem uma área total maior do que Portugal, mas menos de 2,5 milhões de habitantes. Nestas eleições, o movimento cidadão Soria Já! quer representar essa "Espanha vazia" ou "esquecida", com as sondagens a indicar que poderá eleger até três procuradores na província de Soria e eventualmente tornar-se essencial para a formação de governo na região. Noutras províncias há outros movimentos semelhantes..Ángel Ceña, o cabeça de lista do Soria Já!, disse à agência Efe que o seu partido está disposto a chegar a um acordo de investidura tanto com o PSOE como com o PP, desde que sejam estabelecidos prazos para a implementação de programas que travem o despovoamento..Partido Popular: As eleições foram antecipadas a pedido do presidente regional, Alfonso Mañueco, que rompeu com o sócio de Governo, o Ciudadanos, dizendo temer uma moção de censura e ser traído. Mañueco quer repetir o sucesso de Isabel Díaz Ayuso em Madrid e governar sozinho..PSOE: Os socialistas ganharam as eleições de 2019, mas o pacto entre PP e Ciudadanos afastou-os do poder. Luis Tudanca repete a candidatura. A maioria das sondagens põem-no em segundo, mas a ideia é imitar Mañueco e, mesmo perdendo, ter apoio para chegar ao poder..Vox: As sondagens põem a extrema-direita, que se candidata com o jovem advogado Juan García-Gallardo (sem experiência política), como o terceiro mais votado. Tudo indica que o PP precisará do Vox para governar e este, em troca, quer marcar presença no executivo regional..Ciudadanos: O vice-presidente da região nos últimos dois anos, Francisco Igea, tem nas mãos o futuro do partido a nível nacional. Após desaires nas legislativas de 2019, nas eleições em Madrid e na Catalunha, a formação arrisca desaparecer..Unidas Podemos: A polémica frase do ministro do Consumo, Alberto Garzón, sobre a má qualidade da carne nas "macrogranjas" marcou a pré-campanha. Em vez de esquecer o tema, o candidato da aliança, Pablo Fernández, usou-o para marcar posição. A esperança é ganhar espaço para ajudar o PSOE a governar..União do Povo Leonês: O partido que quer dividir a região, criando a Comunidade Autónoma de Leão, concorre com Luis Mariano Santos - o único deputado regional que tiveram em 2015 e 2019..Soria Já!: A plataforma contra a ideia da "Espanha vazia" concorre com Ángel Ceña e deverá ser a mais votada na província de Soria, elegendo até três deputados, que podem ter uma palavra a dizer sobre quem governa..Por Ávila: Ex-militantes do PP criaram este partido na província de Ávila, queixando-se que estavam "esquecidos". O candidato é o médico e deputado regional Pedro José Pascual..susana.f.salvador@dn.pt