Iker Casillas prepara-se para avançar para a batalha eleitoral para o cargo de presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). O ainda guarda-redes do FC Porto anunciou a sua intenção através de uma publicação nas redes sociais, no dia 17 de fevereiro, cerca de um mês depois de ter sido desafiado por Javier Tebas, presidente da Liga espanhola, a avançar para tentar ganhar a eleição ao atual presidente Luis Rubiales..Aos 38 anos, Casillas tem pela frente um novo caminho, trocar as luvas pelo fato e gravata e os relvados pelos gabinetes. Uma decisão que terá acabado por ser menos complicada de tomar depois de em maio de 2019 ter sofrido um enfarte agudo do miocárdio que o obrigou a deixar os relvados por tempo indeterminado. Foi um duro golpe na carreira de um dos mais titulados futebolistas mundiais. Contudo, apesar de o processo de recuperação ter evoluído favoravelmente, este desafio de assumir um cargo importante no futebol espanhol precipitou a sua decisão de pôr um ponto final na carreira.."Iker Casillas é uma pessoa com muita experiência no futebol e isso poderá ajudá-lo a ser um bom presidente", assumiu ao DN Joaquín Caparrós, que aos 64 anos é um dos mais experientes treinadores da Liga espanhola, com 510 jogos, lembrando que "se trata de alguém muito importante na história do futebol espanhol", o que lhe dá "muito crédito" se vier a ser eleito..Luis Milla, de 53 anos, foi entre 2007 e 2012 selecionador dos escalões jovens de Espanha e considera que a entrada em cena de Casillas "poderá ser uma boa oportunidade para trazer novas ideias", mas avisa que o cargo de presidente da federação "é muito institucional e político", razão pela qual considera que "se ele entende que deve avançar é porque se sente preparado e tem conhecimento suficiente para dar este passo"..Milla, antigo jogador de Real Madrid e Barcelona, diz não saber se Casillas tem perfil para o lugar, mas lembra que se trata de "uma figura muito importante para o futebol espanhol", podendo por isso ter "um papel importante para conseguir unir as pessoas, embora precise também de ter conhecimentos e preparação para ter um bom desempenho"..Se for eleito, Casillas tornar-se-á o quarto ex-futebolista a chegar à presidência da federação espanhola. O primeiro foi Javier Barroso (entre 1941 e 1946), que também tinha sido guarda-redes, mas do Atlético de Madrid, na década de 1920. Entre 1970 e 1975 foi a vez de José Luis Pérez-Payá ter desempenhado o cargo, ele que foi avançado do Real Sociedad, Atlético de Madrid e Real Madrid na década de 1950..Finalmente, Ángel María Villar esteve no cargo entre 1988 e 2017, um médio que se destacou ao serviço do Athletic Bilbau, clube pelo qual jogou durante dez anos (1971 a 1981), tendo inclusive chegado à seleção espanhola, pela qual fez 22 jogos e marcou três golos. Villar ficou ainda célebre por ter dado um soco no holandês Johan Cryuff, num jogo com o Barcelona disputado em março de 1974, que lhe valeu quatro jogos de suspensão..Curiosamente, Ángel María Villar chegou ao cargo mais alto do futebol europeu, mas de forma interina, quando assumiu a presidência da UEFA entre 2015 e 2016 depois da suspensão de Michel Platini. O antigo internacional francês da Juventus foi até agora o único futebolista eleito para o mais alto cargo do futebol europeu, pois presidiu à UEFA entre 2007 e 2015, mas caiu em desgraça e demitiu-se devido a um escândalo de recebimento indevido de 1,8 milhões de euros por parte da FIFA. Além disso, foi posteriormente detido por envolvimento num escândalo de corrupção na atribuição do Mundial 2022 ao Qatar..O português Luís Figo chegou a apresentar formalmente uma candidatura à presidência da FIFA, em 2015, mas acabou por desistir por discordâncias com a forma como estava a ser conduzido o ato eleitoral..As estrelas Suker, Boniek, Savicevic.Neste momento não se sabe se as ambições de Casillas passam por chegar ao mais alto cargo da UEFA, mas se chegar à presidência da Real Federação Espanhola de Futebol será um degrau importante, que outros antigos futebolistas subiram. São várias as antigas estrelas do futebol que dirigem as federações dos respetivos países, dos quais se destacam três nomes..Desde logo, Davor Suker, que assumiu a presidência da federação croata em julho de 2012, nove anos depois de ter encerrado a carreira de avançado que se notabilizou no Sevilha, Real Madrid e Arsenal, entre outros. No entanto, a sua carreira na presidência tem sido algo atribulada, sobretudo devido a uma polémica com os jornalistas croatas, que em 2015 o acusaram de impedir de fazer o seu trabalho livremente..Zbigniew Boniek é considerado ainda hoje um dos melhores jogadores polacos de sempre, tendo-se destacado na década de 1980 ao serviço da Juventus, ao lado de Platini, e na AS Roma. Aos 63 anos, é o presidente da Federação da Polónia, eleito em outubro de 2012 para substituir outra grande estrela do país: Grzegorz Lato (melhor marcador do Mundial 1974), que em 2010 tinha demitido o selecionador Leo Bennhaker em direto na televisão por falhar o Mundial 2010..Outra grande estrela que lidera atualmente uma federação é Dejan Savicevic, génio do grande AC Milan nos anos de 1990, que lidera o futebol do Montenegro desde 2004, três anos depois de pendurar as chuteiras. Levan Kobiashvili (Geórgia), Guoni Begsson (Islândia), Tomas Danilevicius (Lituânia) e Paul Philipp (Luxemburgo) são outros ex-futebolistas presidentes de federações europeias..Outro nome poderia estar nesta lista, o de Borislav Mihaylov (antigo guarda-redes do Belenenses entre 1989 e 1991), que foi obrigado a demitir-se depois de um telefonema do primeiro-ministro da Bulgária, Boyko Borisov, na sequência de um jogo com a Inglaterra, em outubro de 2019, em Sófia, que foi manchado por insultos racistas a jogadores ingleses. Mário Coluna, um dos melhores futebolistas portugueses de sempre, ao serviço do Benfica e da seleção portuguesa, também chegou ao cargo de presidente da Federação de Moçambique, o seu país natal..George Weah chegou ainda mais longe.O mais normal é ver antigos futebolistas em cargos importantes nos seus clubes do coração - o argentino Juan Verón é presidente do Estudiantes, de La Plata, seguindo o exemplo de estrelas de outrora, como os italianos Giacinto Facchetti e Giampiero Boniperti, que lideraram, respetivamente, Inter Milão e Juventus. Ou até Franz Beckenbauer e Uli Höness, que presidiram ao Bayern Munique em períodos distintos..Outros enveredaram pela carreira política, como Pelé, que entre 1995 e 1998 foi ministro brasileiro dos Desportos, o mesmo cargo exercido na Guiné-Conacri por Titi Camara, antigo avançado do Liverpool entre 2010 e 2012..Fora do âmbito desportivo, George Weah, antiga estrela do Milan e do PSG, foi eleito presidente da República da Libéria em janeiro de 2018. Este é o caso de maior sucesso político entre ex-futebolistas, seguido de perto por Kakha Kaladze, antigo defesa da Geórgia, que foi vice-primeiro-ministro do país e agora é presidente da Câmara Municipal da capital Tbilissi.