Carta escrita por pai do líder a defender pedófilo faz cair governo da Islândia
O mais pequeno partido da coligação governamental da Islândia ditou o fim do executivo, ao anunciar na sexta-feira que iria sair devido a uma "grave quebra de confiança". O xeque-mate ao que vai ficar para a história como o mais breve governo islandês deu-se após os militantes do Björt Framtíd (Futuro Brilhante, liberal) terem votado pelo fim da coligação (87%). "Isto é completamente contrário aos nossos princípios. A corrupção e a desonestidade são simplesmente incríveis", comentou à Reuters uma fonte do Futuro Brilhante, formação que obteve pouco mais de 7% dos votos nas últimas eleições e elegeu quatro deputados (em 63).
Ontem, o presidente islandês, Gudni Jóhannesson, aceitou o pedido do primeiro-ministro, Bjarni Benediktsson, para dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas, as segundas no espaço de um ano. O governo anterior foi derrubado pelo escândalo dos Papéis do Panamá sobre paraísos fiscais. A data mais provável para o novo ato eleitoral é 4 de novembro.
O que causou este desfecho é um escândalo do Partido da Independência (27% dos votos e 19 deputados), do primeiro-ministro Bjarni Benediktsson, que alegadamente tentou encobrir um favorecimento que envolveu o seu pai.
A ministra da Justiça, Sigridur Andersen, também do Partido da Independência, informou Benediktsson da missiva do pai em julho, mas não informou mais ninguém. Sigridur acabou por ser obrigada a revelar a autoria da carta em sede de comissão parlamentar. "A ministra da Justiça disse-me que estávamos a discutir assuntos confidenciais, que seguiram as regras do ministério... Decidi lidar com o problema como um assunto confidencial", disse Benediktsson, em conferência de imprensa, sobre o facto de não ter partilhado a informação com os restantes membros da coligação.
"Nesta semana soube-se que o meu pai escreveu uma carta. Eu nunca teria escrito tal e nunca irei tentar defender isso", afirmou ainda. O pai, Benedikt Sveinsson, confirmou na sexta-feira a autoria da carta que deitou abaixo o governo.
A legislação islandesa contempla a figura jurídica de "restauração da honra": um dos procedimentos para que um condenado fique com o cadastro limpo é apresentar uma carta de recomendação de um amigo. Foi isso que Sveinsson fez. Mas além de ser discutível que alguém com ligações tão próximas ao poder executivo o faça, o seu amigo condenado, Hjalti Sigurjón Hauksson, não cometeu um crime qualquer. Esteve preso durante cinco anos e meio por ter abusado sexualmente da enteada, quando esta tinha 5 anos, e durante uma dúzia de anos.
O pai do primeiro-ministro demissionário garantiu não ter falado no assunto com ninguém e esclareceu: "Não pensei nisto como algo que justificasse o que Hjalti fez. Para mim a honra restaurada não é mais do que um procedimento legal que permite aos criminosos condenados recuperarem alguns direitos civis." Sveinsson pediu ainda desculpas a todos aqueles que se sentiram magoados com o assunto.
Com a queda da coligação, caberá ao próximo governo a execução do Orçamento do Estado do país de 330 mil habitantes.