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Em breve, o dinheiro físico será abolido na Europa. A UE prepara a introdução do euro digital, emitida pelo Banco Central Europeu. Mas... uma moeda virtual assente em dívida pública de estados falidos? É isso. E esta semana, o Banco de Portugal já veio avisar que todas as empresas terão que aceitar um meio de pagamento electrónico. Ou seja, no futuro próximo, só esses serão válidos. Para já, vendem a coisa como opcional, daqui a nada, notas e moedas pertencerão ao passado. Ir-se-á o que, durante séculos, foi uma das maiores garantias de liberdade individual e de soberania nacional. Com um sistema virtual e centralizado, virá a possibilidade do controlo totalitário de todos (leitor incluído), a absoluta perda de anonimato. Virá também a exclusão de milhares de pessoas que, por uma razão ou por outra, dependem de dinheiro vivo para pequenas transacções, por vezes de cêntimos. Aliás, muitos não podem pagar um smartphone e outros, simplesmente não querem. Também deixaremos de ter esse direito?! Se assim for, hordas e hordas de desfavorecidos ou resistentes advirão cidadãos de segunda e de terceira classe. Os sistemas de castas ou o feudalismo parecerão brincadeiras de crianças.

Ganharão os bancos e os colossais fundos de investimento (meia dúzia de seres humanos) que os controlam já que irão reter, em cada transação, uma taxa. Ou seja, se agora uma nota de 50 euros vai circulando e, ao fim de 10 ou 100 pagamentos, continua a valer 50 euros, já os pagamentos electrónicos vão comendo partes do total até que, ao fim de algumas trocas, ele já terá sumido totalmente. Será o último degrau da perversão da redistribuição.

Cidadãos e países ficarão subjugados aos caprichos dos não-eleitos. Se Lagarde definir limites para as carteiras digitais ou para as poupanças - para combater a recessão, por exemplo - seremos obrigados a gastar. Mas também pode congelar contas como já aconteceu no Canadá ou no Brasil. Podemos ficar sem um chavo enquanto o diabo esfrega um olho. Literalmente.

E porque é que precisamos de um euro digital?! Afinal, o euro já é digital de forma segura. Este novo dinheiro virtual não visa resolver necessidades mas apenas gerar uma desculpa para acabar com as notas e moedas. E para quê? Alguém acredita que os tais tubarões brancos terão mais dificuldades em lavar dinheiro quando ele for só electrónico? Bem antes pelo contrário e os reais motivações residem apenas no controlo que, associado ao Passaporte Sanitário Global, criará a Identidade Digital onde tudo será monitorizado em tempo real.

Reconhecendo este potencial destrutivo, vários países estão a adoptar medidas que travem esta espiral malévola. A Eslováquia e a Austrália, incluíram alterações à Constituição para garantir que moedas e notas perdurarão.

Em Portugal, tal representaria um longo caminho, porventura a destempo da célere introdução do euro digital. Mas como por cá ainda é obrigatória a aceitação de dinheiro físico, não existindo sanções legais para quem viole esta obrigação, há que exigir já ao parlamento que aprove um pacote de contra-ordenações, em caso da não aceitação de notas e moedas. Há que, assim, salvaguardar um dos nossos mais elementares direitos, liberdades e garantias. Ou não? Partidos políticos: como é ? Falem agora ou calem-se. Para todo o sempre.

Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia

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