Carmena quer parques de estacionamento a pensar nas mulheres
Se um parque de estacionamento na periferia tivesse supermercados, bancos, farmácias ou lojas, será que mais mulheres estariam dispostas a deixar ali o carro e seguir de autocarro ou metro para o centro da cidade? Este é o tipo de questão que coloca Manuela Carmena, presidente da câmara de Madrid, e que já está a ser criticada pela oposição, que acusa a antiga juíza de 71 anos, eleita à frente de uma lista de independentes, de apresentar propostas "muito pouco feministas".
"É preciso ter em conta o sexo dos condutores. Parece-me que já há muitas mulheres a conduzir e é preciso ver se temos comportamentos diferentes. Às mulheres talvez nos interessem uns parques de estacionamento dissuasores [construídos na periferia das cidades para diminuir a entrada de carros] que nos ofereçam outros serviços, porque poderíamos aproveitar para fazer algo mais", afirmou Carmena num pequeno-almoço com jornalistas. "Não sei, as mulheres rentabilizam muito bem o tempo e é interessante ver como se pode rentabilizar o tempo nos transportes públicos e no próprio carro", acrescentou.
No início de novembro, autoridades madrilenas foram obrigadas a reduzir a velocidade de circulação para entrar na capital e impedir o estacionamento em algumas zonas devido aos valores elevados de contaminação. Carmena quer reduzir o volume de carros no interior da cidade e por isso quer apostar na construção de oito parques de estacionamento dissuasores. Cada um desses parques terá dois mil lugares de estacionamento e as obras devem custar 160 milhões de euros.
O problema, afirma a autarca, é que o parque de estacionamento que já existe, em Majadahonda, está vazio. Daí que Carmena defende que deve ser feito um estudo para avaliar se homens e mulheres têm comportamentos diferentes na hora de usar o carro, acreditando que se os parques estiverem dotados de serviços pensados para as condutoras, fiquem menos vazios.
[citacao:A autarca, que se orgulha de ser feminista, faz umas propostas que deixam as mulheres muito mal]
Mas a oposição apressou-se a criticar as sugestões de Carmena. "A autarca, que se orgulha de ser feminista, faz umas propostas que deixam as mulheres muito mal. Recordo que propôs às mães, não às mães e aos pais, que nos dedicássemos a limpar os colégios onde estudam os nossos filhos", disse ao ABC a antiga presidente da Comunidade de Madrid e atual porta-voz do Partido Popular na autarquia, Esperanza Aguirre.
No divã
"Se pudesse voltar a fevereiro, manteria o meu "não" inicial a candidatar-me a presidente da câmara", admitiu Carmena à jornalista (ex-El País) e escritora Maruja Torres, que publicou ontem o livro Manuela Carmena no divã de Maruja Torres. A antiga juíza, que já estava reformada, recusou a proposta inicial do líder do Podemos, Pablo Iglesias, para ser a candidata da lista independente Ahora Madrid. Mas acabaria por repensar e ganhar as eleições de maio.
[citacao:É verdade que às vezes sinto falta do paraíso da minha reforma e que alguns momentos foram duros, mas o balanço é positivo]
Ontem, Carmena suavizou as declarações num comentário no Facebook, lembrando que estas foram proferidas no verão, quando as suas férias privadas estavam a ser submetidas ao escrutínio público. "Não sou uma política profissional e não gosto do clima de confronto artificial que vivemos na política. Aceitei participar num projeto cidadão que me convenceu como uma oportunidade real para melhorar esta cidade e tomei a decisão sabendo o que podia perder. É verdade que às vezes sinto falta do paraíso da minha reforma e que alguns momentos foram duros, mas o balanço é positivo: estou muito contente e satisfeita com o trabalho que estamos a fazer na câmara de Madrid e sei que vamos fazer muito mais e melhor nos próximos três anos e meio."