Capacetes Brancos sírios abatidos com tiro na cabeça
Um grupo de voluntários da Defesa Civil Síria, socorristas mais conhecidos como Capacetes Brancos, chegou hoje de manhã à sede da organização em Sarmin, na província de Idlib, preparado para o início de mais um turno. Mas deparou-se com um cenário sangrento. Sete dos seus colegas tinham sido abatidos com tiros na cabeça, segundo informações do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que publicou fotos dos cadáveres. Será a primeira ação do género contra a organização, que até agora tinha perdido socorristas apenas em ataques aéreos.
"Dois pequenos autocarros, capacetes [brancos usados pelos socorristas] e walkie-talkies foram roubados", indicou a organização. Não é claro se o roubo era o objetivo do ataque ou se este foi desencadeado por motivos políticos. O grupo de voluntários sempre defendeu a sua neutralidade no conflito que começou em 2011 e já fez mais de 330 mil mortos, assim como a não ligação a qualquer grupo político ou armado.
Contudo, o governo do presidente Bashar al-Assad e os aliados de Moscovo acusam-nos de serem marionetas de governos estrangeiros (são financiados por países como EUA, Alemanha ou Japão). Há ainda quem alegue que jihadistas ou outros combatentes fazem parte das suas fileiras.
A Defesa Civil Síria, que conta com cerca de três mil voluntários, foi criada em 2013 e, segundo o site oficial, já terá salvo mais de 62 mil pessoas, perdendo 140 dos seus membros em bombardeamentos. Os Capacetes Brancos foram nomeados para o Prémio Nobel da Paz em 2016. O grupo saiu do anonimato depois de vídeos das suas operações de resgate começarem a ser partilhados nas redes sociais. Nas imagens surgem muitas vezes a ignorar o perigo para tentar retirar vítimas (muitas delas crianças) dos edifícios destruídos pelos bombardeamentos do Exército sírio ou dos aliados russos.
Segundo o OSDH, um dos voluntários mortos hoje em Sarmin era um dos voluntários dos Capacetes Brancos que apareciam num vídeo de 2016, sem conseguir conter as lágrimas depois de conseguir resgatar um bebé de poucos meses dos escombros após um bombardeamento em Idlib.
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O ataque não foi reivindicado. Sarmin, tal como a maior parte da província de Idlib (no Noroeste da Síria junto à fronteira com a Turquia), é desde julho controlada pela Organização para a Libertação do Levante, conhecida como Tahrir al-Sham. Este grupo, que era conhecido como Frente al-Nusra (a filial da Al-Qaeda), expulsou os rebeldes ultraconservadores da Ahrar al-Sham de várias localidades da região e tem combatido contra o Estado Islâmico.
Segundo a AP, a Tahrir al-Sham alega ter descoberto células adormecidas do grupo terrorista islamita (que tem vindo a perder terreno tanto na Síria como no Iraque). "Até agora, parece que se tratou de um crime. Mas também pode ser um ataque com o objetivo de prejudicar a imagem da Frente al-Nusra e mostrar que Idlib não é seguro", disse o responsável pelo OSDH, Rami Abdurrahman, citado por esta agência de notícias. Uma fonte da AP disse que os atacantes usaram armas com silenciadores, pelo que as pessoas que vivem junto à sede dos Capacetes Brancos na região não se aperceberam do ataque.