Cânticos de louvor e vaias a Ramaphosa: Funeral de Mugabe junta milhares no Zimbabwe
Milhares de pessoas cantaram louvores a Robert Mugabe, este sábado, em Harare, durante as cerimónias oficiais do funeral de Robert Mugabe, o ex-presidente fundador do Zimbabwe.
Uma banda militar encabeçou um desfile de membros da família, funcionários do partido governamental Zanu-PF e dignitários estrangeiros de toda a África que atravessaram o relvado do estádio nacional onde estava o caixão, coberto pela bandeira nacional. Mugabe morreu no início deste mês aos 95 anos numa clínica em Singapura.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, estava entre os atuais e ex-chefes de Estado que participaram nas cerimónias fúnebres. Mas muitas pessoas no Zimbabwe criticaram o tratamento que Ramaphosa deu a um surto de violência xenofóbica na África do Sul, e acabou por ser vaiado por alguns dos presentes no estádio de Harare.
Mas fez um discuso em que pediu desculpa pela violência. "Apresento-me perante vós como um irmão africano que lamenta e pede desculpas pelo que aconteceu no meu país", disse Cyril Ramaphosa, acrescentando que os tumultos vão "contra o princípio de unidade do povo africano". O presidente sul-africano garantiu que continua a trabalhar para "encorajar o povo a acolher todos os cidadãos dos países africanos". "Os sul-africanos não são xenófobos, não têm nada contra os cidadãos de outros países", declarou.
Milhões de zimbabueanos fugiram da repressão e da crise económica e procuraram refúgio na África do Sul, onde, no início do mês, se verificou uma onda de tumultos e pilhagens dirigidas contra estrangeiros e suas empresas. Concentrada principalmente na maior cidade sul-africana, Joanesburgo, a violência fez 12 mortos, todos sul-africanos.
Vários líderes da oposição do Zimbabwe também estavam presentes. Job Sikhala disse que veio oferecer as condolências à família enlutada. Walter Chidakwa, parente de Mugabe, falou primeiro e disse que o ex-líder guerrilheiro que se tornou governante autoritário amava o seu povo.
O funeral realizou-se mas o corpo só irá a enterrar daqui a algumas semanas. Já houve um anúncio pela sua família e pelo presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, de que o seu enterro só ocorrerá dentro de um mês, aproximadamente, altura em que o seu mausoléu já deve estar concluído no monumento do National Heroes Acre.
A morte de Mugabe deixou o Zimbabwe dividido pelo legado de seu governo de 37 anos, marcado pela repressão e pela crise económica.