Voltou o turista feliz e cansado, sorriso na cara e muito encarnado..Forçado a subir, correndo a descer, tudo fazendo para não se perder..Para tudo olha com ar espantado, acaba a manhã na esplanada sentado.Olha-o o empregado com olhar guloso, esperando a gorjeta que dá orgulhoso.A tarde começa seguindo o guia e tudo se passa em grande correria..Toda a estátua é obra mirada e toda a vista bem fotografada.Saca o telemóvel e em foto regista, de costas para a obra, é ele o artista..Não é o monumento o tema visado, aquilo que importa é provar ter lá estado.É essa a vaidade que procura o turista, mostrar lá na terra quão grande é a lista.Eu vi mais que tu e sou mais viajado, se mostrares mais que eu, fico envergonhado.Lá vai o turista vestido sem jeito, rabo descaído e pendurado o peito.Parece pedinte de tão trapalhão, mas sente-se feliz com ar folgazão.Olha o local com um ar vaidoso, aquele que trabalha para lhe dar o gozo..Por todo lado passa sem cuidado, atravessa, ultrapassa mesmo no encarnado.Acaba o dia cansado a jantar, bebendo e comendo sempre a tagarelar..De tudo o que viu pouco apreendeu, mistura a história do que aprendeu.Mas também não importa, a prova está feita a lista picada, viagem perfeita.Na nossa cidade somos invadidos, sentimo-nos incómodos, ficamos perdidos.Queremos receber com boas maneiras, as gentes que chegam de terras estrangeiras.Mas a multidão, que vemos chegar, não para nem espera para nos saudar.Toma-nos as coisas, as ruas, a vida, como se a nossa terra lhes fosse devida.Não param nem olham, não pedem licença, nem querem saber como a gente pensa.Ruído incómodo temos que aturar, passeiam rodinhas falam a gritar.Não fora o dinheiro que vêm gastar, não sei como poderia este povo aguentar..E tudo fazemos com muita alegria, por causa da riqueza que esta malta cria.E olhamos o turista, tão mal-amanhado, que com um sorriso é tão maltratado.Que tudo aceita só para provar, que mais monumentos veio fotografar.Durante três anos sozinhos ficámos e agora às enchentes felizes regressámos.Com dor e saudade do nosso sossego, felizes por ter de novo um emprego.Sentimento amargo que o doce tempera, sem nunca saber o que mais nos espera..bruno.bobone.dn@gmail.com