"Cantar Fausto era um sonho antigo"

Os Couple Coffee apresentam amanhã em Faro, na noite de arranque do Festival F, o novo disco "Fausto Food", no qual recriam a música de Fausto Bordalo Dias.
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Uma década depois de terem revisitado a música de José Afonso, no disco Co"as Tamanquinhas do Zeca, os Couple Coffee voltam a pegar na obra de outro "nome importante" da música portuguesa, como os próprios se referem a Fausto Bordalo Dias, cuja obra recriam, "com total liberdade". O disco, editado no final de junho, é composto por 11 temas. São 10 versões e um original, que dá nome ao álbum e cuja letra foi feita a partir dos nomes das canções e dos álbuns de Fausto.

Como surgiu esta ideia de pegar na música de Fausto e transformá-la num disco dos Couple Coffee?

A minha ligação com a música popular portuguesa começou quando o Zeca Afonso escreveu a canção do meu pai, Alípio de Freitas. Desde muito nova que oiço as canções do Fausto e pegar nelas já era um desejo antigo, que vai ao encontro do nosso plano de revisitar os nomes mais importantes do cancioneiro português.

Antes já havia cantado as músicas de Zeca Afonso, com os Couple Coffee, as palavras de Ary dos Santos, no projeto Rua da Saudade...

O meu ofício é mesmo esse, ser intérprete. E é uma sorte poder contar todas essas histórias e dar-lhes voz à minha maneira.

Pode dizer-se que é um ciclo que se encerra com este disco?

Pelo contrário, é antes um novo ciclo que se abre, porque sempre que embarcamos num projeto deste tipo, acabamos por sair muito mais enriquecidos enquanto artistas e isso acaba por influenciar tudo o que fizermos a partir daí.

O disco percorre a obra de Fausto de uma forma aparentemente aleatória. Qual foi o critério de escolha dos temas?

Ao contrário do que é habitual neste tipo de discos, a escolha nada teve que ver com nosso gosto pessoal ou qualquer critério cronológico. Optámos por estes temas porque são aqueles que nos permitem contar uma história ao longo do álbum. A haver um critério diria que foram as letras. Li-as todas e foi a partir delas que depois escolhemos os temas, de modo a construir a tal narrativa, a partir das palavras do Fausto. O que por vezes foi dramático, reconheço, porque acabaram por ficar de fora algumas das minhas canções preferidas.

Como é que o Fausto reagiu a este projeto?

Com muita curiosidade e simpatia. Fizemos questão de lhe explicar o que queríamos fazer, porque, enquanto intérprete, eu brinco muito com as letras e era importante ter a sua bênção. Encontrámo-nos várias vezes e foi sempre muito hospitaleiro. É mesmo esta a palavra, hospitaleiro, porque quando se tem a hipótese de conviver com um autor assim, para falar sobre a sua obra, é como se ele nos abrisse as portas de todas as divisões da sua casa. Quis conhecer-nos, fomos almoçar muitas vezes juntos, contou-nos a história por trás de cada tema e quando percebeu do que se tratava, deu-nos total liberdade para mexermos nas suas canções. Se por acaso fosse contra, nem sequer começávamos.

E o Fausto gostou do disco?

Gostou muito e isso foi o mais importante. Só lhe mostrámos o disco depois de pronto e, quando o ouviu, disse-nos ter descoberto outras canções dentro das dele. Foi algo muito bonito de ouvir.

O disco conta também com uma série de convidados de peso, como o guitarrista Flak e o baterista Alexandre Frazão, que quase se tornaram membros dos Couple Coffee.

Sim, é um hábito nosso, esse de convidar os amigos a participar nos nossos discos, como a Viviane, o Luiz Caracol, o Pedro Jóia ou o José Peixoto, entre muitos outros. No caso do Flak e do Alexandre teve também que ver com um desejo antigo de trabalhar com eles. Há muito que queríamos experimentar um lado mais rock na nossa música e o Flak era a pessoa perfeita para isso. O Alexandre é um baterista que consegue tocar todos os estilos e acabou por participar em todos os temas, de modo a dar uma unidade ao disco.

Vão tocar o disco, no concerto no Festival F?

Na verdade será a primeira vez que o vamos apresentar, na íntegra, ao vivo. Vai ser um momento muito especial, porque vamos também contar com a presença de alguns dos convidados que participaram no disco, como é o caso do Flak ou da Viviane. Confesso que estou um bocadinho nervosa (risos)...

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