Não lhe será propriamente um ambiente estranho, este da praia e do surf. Afinal, Poli Correia, o vocalista e líder de projetos como Sam Alone and The Gravediggers ou Devil in Me, que hoje à noite será um dos artistas a subir ao palco Caparica Surf Fest, no primeiro de mais três dias de música, onde irá apresentar o primeiro trabalho em nome próprio, com edição prevista para breve. "Sou natural de Quarteira e comecei a surfar, na praia da Falésia, com 13 ou 14 anos. Cresci com tudo isso, é uma cultura que faz parte de mim", revela ao DN. Mesmo assim, não será provável uma surfada na Costa, mas nunca se sabe. "Depende do estado do mar, não estou muito habituado a estas ondas e era uma vergonha terem de me ir buscar ao mar para vir dar o concerto", diz com humor..Esta será a segunda vez que Poli irá atuar com este novo projeto, no qual, pela primeira vez, canta em português. "Senti que chegou a altura de me mostrar em português e com o meu nome verdadeiro, sem alter egos, para se perceber a pessoa por detrás da música", sustenta o músico, revelando que sente quase como se estivesse a começar do zero. "Não é um risco, porque é algo feito com muito amor, é mais um recomeçar. Nunca fui um músico muito mediático, mas já são muitos anos a tocar. Mais do que nervosismo, sinto ansiedade por tocar, em fazer parte daquilo tudo e contribuir para a festa e para a felicidade do público", confessa Poli, que nesta primeira noite irá partilhar o palco com os Dead Combo, prestes a editar um novo disco, e com os Bateu Matou, um trio composto por três dos mais talentosos bateristas da música urbana nacional: Quim Albergaria (Paus), Ivo Costa (Batida) e Riot (Buraka Som Sistema). Tal como Poli, também para os Bateu Matou este festival é também "uma espécie de estreia", reconhece Riot. O trio tem desde o final do ano passado uma residência mensal no clube lisboeta Musicbox, onde se reinventam a cada atuação. "Como diz o Quim, somos uma banda que pensa como um DJ, uma espécie de grupo de baile do século XXI, criado à imagem das grandes orquestras dos anos 40 e 50", explica. Apesar de serem só três, fazem "um barulho do caraças", garante Riot. "Tivemos o cuidado de escolher peças diferentes para cada um, o que faz que soemos quase como uma bateria gigante, tocada por um baterista com seis braços." Para o antigo membro dos Buraka, o desafio mais interessante deste projeto é mesmo o de "pôr as pessoas a dançar sem estar a tocar CD. Isto pode ser muito divertido para nós e para o público", conclui..Agora, porém, vão tocar num contexto diferente, "ao ar livre, com a praia lá ao fundo e com muito mais gente a assistir", o que, considera, representa "um teste de fogo para uma banda pensada para um contexto de clube". Nada que os assuste, muito pelo contrário: "Fazemos a música muito no momento, mas até que ponto é que isso funciona num festival? Não sabemos, porque é a nossa primeira vez, mas somos três bateristas já com muita experiência e podemos mudar os ritmos e direcionar os blocos de som como bem nos apetecer no momento, consoante a leitura que tivermos do público.".O segundo dia de concertos está reservado para sonoridades mais próximas do hip-hop, com a presença de nomes como Carlão, Jimmy P, TNT ou Sam the Kid & BIG, estes últimos em versão DJ set, naquele que, segundo a organização, será um dos dias mais concorridos do festival..O sábado, último dia deste Caparica Surf Fest, que, em paralelo com a música, contará durante a tarde com diversas provas e demonstrações de surf e bodyboard, será embalado pelos ritmos da música africana. A cabeça-de-cartaz será Sara Tavares, que editou recentemente o novo álbum Fitxadu, mas a noite conta também com as atuações de Ricky Boy e Loony Johnson, dois nomes de proa da nova música urbana de Cabo Verde. Para o primeiro trata--se de um regresso, mas agora em nome próprio, depois de no ano passado ter atuado como convidado de Djodje, de quem foi companheiro nos TC. "Vou apresentar um repertório mais dançante, com kizomba, ragga, dancehall e muitos convidados", promete. Já Loony Johnson começa por referir "o ambiente fabuloso deste festival", onde vai "partilhar o mesmo palco" com alguns dos artistas que mais admira, como é o caso de HMB, Jimmy P ou Carlão. Para o músico, uma noite dedicada à música dos PALOP é algo que "faz todo o sentido", pelo modo como reflete a atual "tendência do mercado e do público português". E é, também, "uma maneira perfeita de terminar em festa".