Calvin Esparguete: este não é "mais um livro de gatinhos"
O Calvin é um gato cinzento, gordo e muito independente, que gosta de fugir de casa e de passear pelas ruas de Lisboa. A sua dona, a jornalista Filomena Lança, decidiu contar a sua história num livro, Cavin Esparguete: Diário de um gato citadino. Uma história contada na primeira pessoa, num exercício divertido: o que é que um gato pensaria disto tudo?
- O Calvin Esparguete existe mesmo. Fale-me um pouco dele, como chegou à vossa casa e qual o seu temperamento.
Existe, de facto. Foi adoptado quando era bebé e foi o último que restou da ninhada porque tinha a cauda torta, como se se tivesse partido, e por isso não era tão perfeitinho como os outros. A cauda é muito importante para os gatos, que a usam para se equilibrar, mas no caso do Calvin isso nunca lhe trouxe problemas. Desde pequenino que sempre foi muito dado ao disparate e fazia coisas como, ainda bebé, subir a árvores altas e deixar a família horas em suspenso cá em baixo a achar que ele nunca iria descer e que seria preciso chamar os bombeiros. Ou saltar para uma gaiola presa à parede com um passarinho lá dentro e, calmamente, abrir a porta, comer o pobre do pássaro, tudo sem alarde nenhum e com grande descrição. Creio que a sua característica mais engraçada e que o torna diferente da grande maioria dos gatos, é que ele não tem medo dos humanos, sejam eles conhecidos ou desconhecido. À sua maneira, vai falando com quem encontra na rua e às vezes é ele que se mete com as pessoas,
- Não é muito comum os animais terem dois nomes. De onde vem o nome Calvin Esparguete?
Ninguém se lembra bem. Creio que foi da necessidade de o chamar com mais autoridade quando fazia asneira. Um pouco como os pais fazem com os filhos.
- O Calvin parece ser um gato muito independente. Como é que aprenderam a lidar com isso?
Ele tem 16 anos e por isso já tivemos muito tempo para nos habituar. Sobretudo porque não nos restou grande alternativa. Com uma casa com um jardim nas traseiras e duas crianças, é praticamente impossível mantê-lo em casa se ele não quiser. Quando mudámos para a casa atual, colocámos uma vedação com um arame farpado em cima que ele destruiu quase imediatamente, passando pelo meio dos arames com grande elegância e indiferente à minha irritação, que paguei uma fortuna pelo raio da vedação. Claro que continuamos a preocupar-nos, mas de certa forma habituámo-nos à personalidade dele.
- Não ficam com medo que ele desapareça? Houve alguma aventura dele que tenha sido mesmo perigosa e vos tenha assustado?
Temos medo que ele desapareça, sim. Isso temos sempre. Aliás, houve uma vez, já há uns anos, em que ele desapareceu durante seis meses. Voltou magrinho, com o pêlo bastante maltratado, mas sozinho e pelos seus próprios meios. Um dia nós abrimos a porta de casa de manhã e lá estava ele, deitado no tapete, à nossa espera, como se sempre tivesse andado por ali. Foi uma grande emoção lá em casa.
- Quando e como é que percebeu que as aventuras do vosso gato poderiam ser contadas num livro?
Desde sempre que, em família e aos amigos, contávamos as aventuras do Calvin e eram sempre um sucesso. Comecei por escrevê-las num blog que fiz quando os filhos eram pequenos e depois continuei a conta-las numa página do Facebook que criámos em nome dele. Foi daí que surgiu o convite da editora para passar tudo para o papel.
- Porque optou por contar a história do ponto de vista do Calvin e quais foram as maiores dificuldades desta opção?
A ideia era fazer uma coisa diferente. Um livro que não fosse apenas mais um livro de gatinhos, porque o Calvin merecia mais. E, para mim, foi bastante mais desafiante. Entrar na pele de um gato e pensar e fazer o que ele pensaria e faria se tivesse capacidades para isso. Saiu este Calvin e tenho a certeza que se outra pessoa da família tivesse feito o mesmo exercício, sairia um Calvin diferente. Este é o meu Calvin, como eu o imagino e o sinto.
- Este livro é uma ficção inspirada em factos e pessoas reais. Onde ficam os limites de uma e outra coisa?
Não há grandes limites, na verdade. Estão ali os amigos, a família, a nossa casa, os vizinhos que o acolhem e outras pessoas que nunca conheci, mas que imagino que ele tenha conhecido. Nós temos noção do que ele vai fazendo e por onde anda a partir dos telefonemas das pessoas que o encontram e que nos ligam a avisar de onde ele está e do que o viram a fazer. O resto teve de ser composto com muitos pozinhos de imaginação, naturalmente.
Calvin Esparguete: Diário de um gato citadino
Autora: Filomena Lança
Editora. Dom Quixote
Preço: 11,90 euros