CaixaBank quer ter OPA fechada até setembro e reestruturar o BPI
O CaixaBank avançou ontem com nova oferta pública de aquisição (OPA) pelo capital do BPI, tal como o DN/Dinheiro Vivo noticiou, oferecendo 1,113 euros por ação. O valor está 16% abaixo da OPA que o mesmo grupo lançou sobre o banco em 2015, e foi considerado baixo pelos analistas. Apesar de mais baixo, a verdade é que graças às alterações legislativas promovidas pelo governo o poder negocial do CaixaBank é hoje bem maior.
A entrada em vigor a 1 de julho da alteração que vai acabar com os limites aos direitos de voto é a grande razão para este reforço da posição espanhola: o CaixaBank condiciona a oferta ao fim do limite de 20% com que um acionista pode votar, tal como em 2015. Mas agora este objetivo, e à luz das tais alterações, é alcançável. Caso a assembleia geral (AG), a convocar pelo BPI para votar a desblindagem, seja agendada para depois de 1 de julho, e dado que a reunião servirá apenas para decidir sobre limites de votos, as votações nessa AG já não estarão limitadas, apesar da norma transitória, e o CaixaBank deverá conseguir desbloquear os estatutos do BPI, ficando a faltar-lhe apenas que acionistas com 5,9% das ações aceitem o preço para assegurar o sucesso. Ou seja, a partir do momento em que conseguir o fim da blindagem, os espanhóis deixam de precisar que a Santoro aceite vender na OPA. "Esperamos manter o BPI listado em Portugal, logo os acionistas poderão manter a sua posição no capital caso entendam não vender", explicou ontem Gonzalo Gortázar, CEO do CaixaBank, depois de questionado sobre o menor preço da OPA. "É uma avaliação justa", acrescentou. O grupo catalão estima que a OPA termine durante o terceiro trimestre do ano.
Além da desblindagem e de obter um mínimo de 50% mais uma ação, a OPA tem outras etapas a cumprir, como a não oposição do Banco Central Europeu, da Autoridade de Supervisão de Seguros e de Bruxelas. Outra condição passa pela CMVM, a quem se pede a derrogação do dever de lançamento de oferta subsequente. O regulador da Bolsa de Lisboa já ontem deu autorização ao primeiro passo da operação, o anúncio preliminar da OPA.
Plano para o BPI: reestruturar
Detendo já 44,1% do BPI, a OPA do grupo catalão vai exigir um investimento de 85 milhões a 906 milhões aos espanhóis, isto no caso de ficarem com 50% mais uma ação ou 100% do BPI. Mas se a oferta tiver sucesso, qual o plano para o BPI?
O CEO e CFO do grupo levantaram um pouco do véu do plano ontem em conference call. Apesar da revisão em baixa do preço, o CaixaBank considera que o BPI melhorou muito no último ano. O BPI conseguiu "progressos tremendos nos últimos 12 meses", disse Gortázar, mostrando-se muito elogioso da equipa de Ulrich. Ainda assim, o grupo identifica problemas e caminhos para o BPI melhorar.
A começar pelas sinergias, que foram calculadas em 85 milhões de euros dentro de três anos, valor ao qual se acrescem "35 milhões de euros em receitas anuais" com uma maior integração entre as entidades. Mas também há aspetos a melhorar: "O BPI tem um rácio custo-receita muito alto", apontou o CEO do grupo, detalhando que este rácio na operação portuguesa do BPI atinge os 74%, "o que compara com 58% de média dos rivais e os 53% do CaixaBank". E o objetivo será cortar este rácio para "menos de 50%" em três anos. Mas há mais, acrescentou o CFO, Javier Pano: "A receita por empregado é de 120 mil euros, que compara com 180 mil nos rivais e 240 mil do CaixaBank", esclareceu. Os espanhóis antecipam 250 milhões de euros em "custos de reestruturação antes de impostos" para o BPI.
BCE e Novo Banco
O CaixaBank informou ontem que tem mantido o BCE ao corrente de todos os avanços no BPI, com os administradores espanhóis a manifestarem-se "esperançados" de que este supervisor aceite o pedido de adiar qualquer procedimento contra o BPI à conta do excesso de exposição a Angola, questão que devia ter sido resolvida até dia 10 de abril. Já sobre a venda do Novo Banco, o CEO do CaixaBank apontou que "hoje avançamos sobre o BPI e é tudo. Não há outro plano além de providenciar capital e know-how ao BPI". Assegurou, porém, que com o apoio do CaixaBank "o BPI chegará aos seus objetivos sem necessitar de mais consolidação".