Caçadores de meteoritos invadem cidade brasileira onde choveu pedra
No dia 19 de agosto, o sertão de Pernambuco, em Santa Filomena, no Brasil, viveu um dia único, com uma estranha chuva de pedras na cidade, que mais tarde se veio a saber que foi causada pela explosão de um meteorito. O caso passou, mas entretanto a pacata vila brasileira está a ser invadida por centenas de pessoas do exterior, os chamados de caçadores de meteoritos.
O prefeito da cidade não sabe o que fazer, pois tem dúvidas se as pedras não deveriam ser recolhidas para serem alvo de estudo ou até colocadas num museu. Nem faz ideia se podem andar a ser comercializadas às claras como estão a ser.
"Não existe uma legislação sobre meteoritos. É uma situação atípica, nunca imaginei que viveríamos isto. Qual o valor das pedras? Podem comprá-las e levá-las para fora do Brasil? Têm valor científico?", desabafou Cleomatson Vasconcelos. E de facto é verdade. Não existe mesmo legislação que impeça o comércio de meteoritos.
Desde o dia 20 de agosto que Santa Filomena vê chegarem pessoas do exterior (de outros locais do Brasil e até de países estrangeiros), desde caçadores de meteoritos a colecionadores. E o único posto de combustível da cidade virou o local de comércio das pedras, vendidas a cerca de 40 reais a grama (seis euros).
"O município não tem condições para comprar as pedras e formar um acervo aqui. A cidade é pobre, não temos indústria, quase todas as rendas vêm do governo federal. Cerca 90% das pessoas daqui vivem da agricultura", conta Vasconcelos.
"O comércio das pedras deixou a população eufórica. E eu não posso dizer "não vendam" se não tenho condições de oferecer mais", explicou o político, que também está preocupado com o aumento dos casos de coronavírus no local por causa da vinda de estrangeiros.
Perante a invasão da cidade, a prefeitura de Santa Filomena pediu ajuda ao ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, e à Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, no sentido de ter orientações sobre o que fazer. Mas até ao momento não obteve resposta.
De acordo com relatos da imprensa brasileira, um caçador de meteoritos, um norte-americano que viajou de propósito dos Estados Unidos mal soube do fenómeno, já comprou mais de 1o pedras. E só por uma delas pagou 18 mil reais (quase três mil euros).
"Veja o que o governo dará à população pelos meteoritos. Nada. Eles não vão receber nada, por isso nós, os estrangeiros, compramos", disse o caçador americano.
"Quando se vê um meteorito que acabou de cair na Terra, verde do jeito que estava na foto de Santa Filomena, quer dizer que é uma pedra que estava perfeita para ser estudada, estava fresca, cheio de olivina", afirmou à imprensa brasileira Fábio Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Geologi, que é contra a compra e a manutenção de meteoritos nas mãos de colecionadores.
"Perdemos uma boa oportunidade para fazer um estudo brasileiro de relevância internacional com estas pedras. Agora é tarde com toda esta confusão na cidade. Isto não devia ter acontecido", acrescentou.
Ao contrário de países como a Argentina e a Austrália, onde os meteoritos são bens públicos, o Brasil não tem legislação sobre a posse e o comércio destas pedras. Apesar disso, o Museu de Ciências da Terra (MCTer), defende que um meteorito não deve ser comercializado, uma vez que o seu valor é científico.