Cabo elétrico no pescoço de Rodrigo foi para despistar a polícia

Estado psicológico da mãe de Rodrigo leva Comissão de Menores a enviar a filha bebé para instituição. Jovem foi estrangulado
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Proteger imediatamente a criança face ao "estado psicológico da mãe". Foi com este argumento que a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Portimão decidiu ontem à tarde retirar a filha de seis meses a Célia Barreto. A mãe de Rodrigo Lapa, de 15 anos, que terá sido assassinado pelo padrasto a 22 de fevereiro - o mesmo dia em que viajou para o Brasil -, declarou à saída da comissão: "Agora é que ela (a filha) está bem."

A autópsia a Rodrigo, realizada na quinta-feira, permitiu aos investigadores perceber que o jovem morreu estrangulado na sequência de uma gravata, ou seja, o homicida colocou um braço à volta do pescoço do rapaz e apertou-o. Cai por terra a teoria de que a morte teria sido consequência da utilização de um fio elétrico encontrado no corpo. De acordo com as informações que o DN recolheu junto de fonte policial, esse cabo terá sido, aliás, enrolado no pescoço de Rodrigo para tentar enganar as autoridades.

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Sem alternativas

Em Portimão, a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens ainda procurou alternativas à retirada da filha de Célia e Joaquim Lara Pinto à mãe. "Ainda se tentou ver se havia alternativas na família alargada, mas não havia", adiantou ao DN Fátima Duarte, a técnica da Comissão Nacional que acompanha a atividades das CPCJ no país. "Como o funeral do filho é no sábado [hoje] e as homenagens também, a Comissão ponderou que a mãe poderia não estar capaz de satisfazer as necessidades imediatas da filha de seis meses". A criança está agora num Centro de Acolhimento Temporário na zona.

O pai, Joaquim Lara Pinto, suspeito no homicídio de Rodrigo, não tinha de ser ouvido para dar consentimento à retirada da criança à família pois saiu de Portugal. Mas a PJ quer que seja ouvido no processo de homicídio, em que é o principal suspeito. Segundo soube o DN os inspetores falaram com ele logo depois de o corpo ter sido encontrado. Joaquim viajou para Curiabá (Mato Grosso).

[destaque:O corpo de Rodrigo terá estado sempre na zona onde foi encontrado]

Célia pode passar a arguida

A medida de retirada da bebé é provisória mas pode passar a definitiva caso o estatuto da mãe da criança evolua de testemunha a arguida no processo pelo homicídio qualificado do filho. Essa possibilidade cresce à medida que Célia Barreto continua a apresentar factos aos investigadores, nomeadamente que viu o filho Rodrigo a ser agredido em casa pelo seu companheiro, antes de o rapaz desaparecer.

O DN sabe que no decorrer da investigação a PJ chegou à conclusão que o corpo de Rodrigo terá estado sempre na zona onde foi encontrado. Explica-se o facto de não ter sido detetado nas primeiras buscas (dia 25) pelas baixas temperaturas que impediram que o corpo entrasse logo em decomposição. Os cães nada detetaram. Na segunda vez que foram efetuadas buscas, os agentes da GNR e inspetores optaram por uma técnica de varrimento do terreno em linha - conseguindo por fim descobrir o rapaz. O corpo do jovem mostrava sinais de arrastamento mas a justificação para esses indícios estará por saber. Tal como não está esclarecido se Célia Barreto teve envolvimento na ocultação do cadáver. Se as provas apontarem nesse sentido, será constituída arguida e arrisca pena pesada.

GNR vai acompanhar funeral

O corpo de Rodrigo foi ontem levantado na morgue de Portimão pelo pai, Sérgio Lapa, perto das 16.00. A essa hora, a GNR, já informada da presença de Célia Barreto, estava a planear o dispositivo que vai ter hoje no funeral, marcado para as 10.00 em Estombar, Lagoa. O policiamento às cerimónias, que contarão com a presença da mãe de Rodrigo e das duas famílias (os pais estavam separados e a tensão entre a família de Célia e a do ex-marido deverá ser elevada), contará com a presença em força da GNR. Misturados na multidão estarão militares da investigação criminal, à paisana, e a acompanhar as cerimónias haverá elementos da patrulha dos postos territoriais da zona. Em redor, a postos, estarão carrinhas do Destacamento de Intervenção para evitar eventuais desacatos, confirmou ao DN fonte oficial da Guarda.

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