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António Costa promoveu neste fim de semana o congresso da "homologação" do novo PS. Para garantir a bênção à sua coligação com a extrema-esquerda, impensável para os socialistas maçons que fizeram o pós-25 de Abril, Costa trouxe avalistas ao 21.º Congresso do PS. O cenário estava preparado para a entronização do PS. E funcionou. À saída já quase ninguém se lembrava de que António Costa "perdeu as eleições", como dizia o cartaz da manifestação dos colégios privados.

Na sexta-feira saiu a notícia de que a Caixa Geral de Depósitos vai ter 19 administradores, dezanove, sim. É verdade que já antes a Caixa tinha um monstruoso conselho de administração, com 14 membros. Mas 19? Dezanove! Um amador pensaria que o novo conselho de administração da Caixa iria ensombrar a festa de Costa. Nada mais errado: ali estava em causa demonstrar que Costa tinha feito o melhor para o PS e para o país.

Previsto que estava o discurso de Francisco Assis, que reproduziria perante a plateia socialista a entrevista prévia em que confirmava a sua preferência por acordos com o centro-direita e condenava os entendimentos que deixam o PS refém da extrema- -esquerda, o congresso não teve surpresas. Decorreu num ambiente morno, com poucas críticas e muita camaradagem.

O palco era dado aos convidados, que haveriam de provar que os comunistas não só não comem criancinhas como podem ser aliados de um governo democrático. Para demonstrar que o PS está longe do arquétipo da extrema--esquerda, foi convidada a "direita"(?), encarnada por José Pacheco Pereira, que fez o favor de "criticar" a falta de socialismo da moção do secretário-geral do PS.

Para garantir o carácter democrático do PS veio também Martin Shulz, o presidente do Parlamento Europeu. Até António Guterres por lá passou, com o seu casaco de quem vem de visita à "terra", afirmando as saudades que tinha de um congresso socialista. Assim como que a provar que o setor católico do PS também não se assusta tendo os comunistas e os bloquistas como parceiros.

Costuma dizer-se que o grande talento de um bom gestor é fazer brilhar, em equipa, os talentos individuais que consegue reunir à sua volta. Costa inaugurou no 21.º Congresso do PS, com mão segura, uma nova forma de gestão: trouxe os adversários até bem perto e fê-los parte do seu argumento. Assim, tanto Pacheco Pereira, com o seu habitual ódio a Passos Coelho, como o presidente do Parlamento Europeu serviram para sublinhar a mensagem deste congresso: temos um governo baseado numa coligação com a extrema-esquerda que governa ao centro. E porquê? Porque a Europa não deixa que a extrema-esquerda perturbe o seu caminho das pedras.

No domingo houve manifestação à porta do congresso. Os colégios privados foram virar as costas a Costa. E acabaram por dar uma das maiores ovações do congresso a Tiago Brandão Rodrigues, o ministro da Educação que "não cede a lóbis".

O 21.º Congresso do PS foi um passeio à beira do rio Tejo. Com Pacheco Pereira, com Martin Schulz, com Ana Drago, com António Guterres. E com uma ausência: os 19 administradores do banco público. Que provavelmente provam que há formas de convencer o bloco central de que a extrema-esquerda não é assim tão perigosa.

Ao fim do dia, a Caixa Geral de Depósitos vai ter 19 administradores. Business as usual.

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