Bruxelas quer Irlanda do Norte no mercado único europeu após o Brexit

Primeira-ministra escocesa já veio reivindicar o mesmo privilégio para a Escócia. Polícia da Irlanda do Norte diz que quaisquer barreiras físicas podem ser alvo dos grupos armados
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Os responsáveis britânicos que estão a negociar a saída do Reino Unido da União Europeia foram avisados de que o rascunho de Bruxelas para o pós-Brexit estipula que a Irlanda do Norte fique no mercado único da UE para evitar a implementação de uma fronteira com barreiras físicas, controladas e policiadas, avança o The Guardian.

Ainda que a linguagem em que está redigido o rascunho não comprometa, para já, nenhuma das partes, a hipótese deverá levar a uma intensificação das tensões nas negociações, que tanto Bruxelas como o Reino Unido querem a todo o custo evitar. A cláusula sobre a Irlanda do Norte poderá ser incluída no texto final, que será divulgado nas próximas semanas, e deverá causar fricções no seio do Partido Conservador britânico e entre o governo e o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte, cujos 10 deputados dão a Theresa May a maioria no parlamento.

De acordo com o Guardian, na Irlanda do Norte, a posição contraditória do governo do Reino Unido, que quer sair da união alfandegária e do mercado comum europeu, é vista como um risco não só para o comércio mas também para a paz na região. No início desta semana, George Hamilton, chefe dos serviços de polícia da Irlanda do Norte, avisou que qualquer infraestrutura na fronteira tornar-se-ia num alvo para os grupos armados e representaria um perigo para quaisquer agentes que ali tomassem os seus postos. "Os terroristas só têm de ter sorte uma vez e obter resultados com consequências catastróficas", frisou.

O texto proposto pela União Europeia será a continuação lógica do acordo alcançado entre Bruxelas e o Reino Unido em dezembro passado, que permite que as negociações avancem sem discutir os direitos dos cidadãos, os acordos financeiros e a fronteira da Irlanda. "Na ausência de soluções acordadas, o Reino Unido manter-se-á alinhado com as regras do mercado interno e da união alfandegária que, agora e no futuro, são a base da cooperação Norte-Sul", decidiu o governo britânico.

Já esta sexta-feira, e depois de ser conhecida a intenção da UE de manter a Irlanda do Norte no mercado único europeu, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon, que tem acusado de "incompetência" o governo de Londres na gestão do Brexit e quer evitar a saída da União Europeia, escreveu nas redes sociais: "Se a Irlanda do Norte fica no mercado único, o facto de a Escócia fazer o mesmo não é apenas uma discussão académica de "nós também" - torna-se uma necessidade prática. De outra forma, ficaremos numa enorme desvantagem no que diz respeito a atrair emprego e investimento", sublinhou.

A questão da saída da união alfandegária com o Brexit tem dividido o Partido Conservador no governo, entre os que querem uma separação total da UE e os que querem continuar a ter acesso privilegiado ao mercado único europeu. "A única coisa que posso dizer é que sem união alfandegária e fora do mercado único, as barreiras ao comércio de bens e serviços são inevitáveis", já avisou o negociador da União Europeia para o Brexit, Michel Barnier.

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