Bruxelas já decidiu: coronabonds "não se encaixam nesta crise"

Thierry Breton critica a proposta de emissão de dívida conjunta europeia e defende "plano de recuperação para a indústria".
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O comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton considera que devem ser encontradas alternativas de financiamento, para que empresas e tecido empresarial não corram o risco de "desmoronar", durante a crise. O comissário admite uma solução a nível europeu, mas que não passará pelos chamados "coronabonds".

Para Thierry Breton, que foi ministro das Finanças de França, a mutualização europeia de dívida é um instrumento que "não se encaixa nesta crise". Por essa razão, propõe que "antes de falarmos dos instrumentos, falemos dos problemas. E, depois, decida-se como financiamos os problemas".

"Estou de acordo em relação ao problema. Estamos nesta fase, só temos que ter uma abordagem, mas não de cima para baixo", afirmou o comissário, respondendo a um eurodeputado que defendeu a opção proposta por nove governos europeus, incluindo por António Costa e outros oito chefes de Estado ou de Governo, entre os quais o Presidente Francês, Emmanuel Macron ou líder do executivo espanhol, Pedro Sanchez.

"Sei que gostaria que se usassem os coronabonds ou algo assim. Isso é uma resposta de cima para baixo. Não se encaixa nesta crise", afirmou o comissário, numa audição na comissão parlamentar de Liberdades, Justiça e Assuntos Internos, na qual participou a partir de Paris, por videochamada para o Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Um plano para cada Estado-Membro

"O mais importante é definitivamente poder traçar um plano para cada Estado-Membro, que poderíamos chamar "plano de recuperação da industria", para ajudar as empresas e o ecossistema empresarial a atravessar a crise e depois estarem prontos para o dia seguinte", afirmou.

O comissário apontou alguns países que já avançaram com um plano semelhante, dando como exemplo a Alemanha que "colocou 156 mil milhões de euros em cima da mesa", para que as suas empresas, possam financiar-se e sobreviverem à crise do coronavirus.

"Representa 10% do PIB da Alemanha", salientou o comissário, dizendo que "gosta de pensar que cada país deveria fazer isso muito, muito rapidamente. Todos os países devem fazer o mesmo".

Porém, reconhece que a Alemanha tem uma realidade particular, e o plano de recuperação precisará de ajustar-se às condições de cada país.

"A questão será como financiar esse plano. É muito importante que ninguém seja deixado para trás. Porque um país que não é capaz de fazê-lo, sem acesso às ferramentas de financiamento certas, é toda a própria indústria que poderá desmoronar, incluindo a rede muito importante de Pequenas e Médias Empresas. E, sabemos como as PME são importantes no nosso mercado interno".

Uma das medidas está já em cima da mesa, e passa pelo recurso a um fundos para financiar empresas, lançado esta quinta-feira pela presidente da Comissão Europeia, num montante que pode ascender a 100 mil milhões de euros, dirigido às empresas. O objetivo é assegurar a manutenção de empregos, a pensar no regresso da atividade económica, pós-pandemia.

Centeno vai insistir nos coronabounds

"O princípio é o de que quando uma crise ocorre - e principalmente uma crise como esta, que é um choque externo, é um choque simétrico, e atinge empresas saudáveis e negócios fortes -, quando essa crise ocorre, a parte mais importante é manter as pessoas nas empresas. Portanto, a opção certa é ter um pilar de garantia, porque quando mantém [os trabalhadores] nas empresas, o conhecimento permanece nas empresas", afirmou a presidente da Comissão Europeia, convicta de que "no momento em que a economia mundial retomar, essas empresas podem responder à procura e recuperar rapidamente".

A ideia dos coronabondsnão fica porém abandonada e será tema central da discussão dos ministros das Finanças de toda a União Europeia, na reunião que terá lugar na próxima semana, a 7 de abril. Mário Centeno já avisou que deverão estar abertos à "discussão de propostas concretas", sendo capazes de "considerar alternativas", quando os "instrumentos existentes (...) se revelam inadequados".

A afirmação que demarca Mário Centeno da posição da Comissão Europeia e de uma linha dura dentro do próprio eurogrupo, foi apresentada na carta dirigida à União Europeia a convocar a reunião extraordinária dos ministros das Finanças.

As medidas que já estão em marcha, que Ursula von der Leyen cita regularmente, referem-se à "máxima flexibilidade" em matéria de ajudas estatais, bem como a um montante de 37 mil milhões de euros, que ficou por gastar no atual quadro financeiro e será agora redirecionado para os Estados-Membros da União Europeia. Outra das medidas passa pela suspensão da disciplina orçamental.

Mas, na próxima semana, Mário Centeno vai lembrar aos ministros das Finanças que "inevitavelmente, todos sairemos da crise com níveis de dívida muito maiores", admitindo que sejam necessários "alternativas", à medidas anunciadas por Bruxelas, entre as quais estarão os chamados coronabonds.

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