Bruxelas e a Europa sob ataque
A dimensão dos ataques terroristas de ontem em Bruxelas, no aeroporto e no metro, revelam que a prisão de Salah Abdeslam não pôs fim à ameaça jihadista, pelo contrário, estes ataques podem significar uma resposta a esta detenção e ao mesmo tempo deixar uma mensagem de que os jihadistas continuam com a capacidade operacional para desencadearem as suas operações aterrorizando as populações e tentando paralisar as nossas sociedades.
A ação terrorista de ontem pode significar que a rede jihadista belga não foi desarticulada e que ao mesmo tempo ela tem uma dimensão que pode ultrapassar em muito a célula em torno de Abdeslam. Durante anos, este fenómeno de radicalização foi grassando com alguma impunidade em bairros da capital belga como Molenbeek e noutras zonas da Bélgica. O facto de esses jihadistas não terem feito ações terroristas na Bélgica não significava que eles não o pudessem fazer noutros países, como sucedeu em Paris, a 13 de novembro, com 130 mortos. Até que ontem o ataque deu-se em solo belga e com grande força e dramatismo. Uma situação idêntica já havia sucedido em Londres antes dos atentados de 2005. O multiculturalismo não é um problema em si mas é-o quando gera guetos.
Perante isto é preciso pôr em prática os quatro itens da política antiterrorista europeia: prevenir e proteger antes de tudo e se isso falhar teremos depois de perseguir e responder. Tudo começa com um esforço de integração valorizando e apoiando os moderados das comunidades islâmicas e isolando os radicais sobre os quais deve ser exercida a maior vigilância dos serviços de informações e das polícias antiterroristas. Proteger os locais de maior aglomeração de público que são normalmente o alvo dos jihadistas e proteger ainda as infraestruturas críticas. A perseguição deve ser exercida pelas estruturas de antiterrorismo sobre os elementos que recrutam, fazem propaganda da jihad e preparam atentados. Por último, as unidades policiais de contraterrorismo (e militares quando for permitido e possível) devem estar bem preparadas para responder, mas o item "perseguir" tem também uma grande importância no que diz respeito à justiça, não procurando ultrapassar a lei mas aplicando-a com a maior severidade.
Ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade e Terrorismo