Brutal e inteligente Inglaterra surpreende em Dublin

A detentora do título Irlanda foi, nesta tarde de sábado, surpreendida em casa ao perder, por 32-20, frente a um soberbo e eficaz quinze inglês que saiu do Aviva com ponto de bónus pelos quatro ensaios marcados e lidera, a par da Escócia, no final da ronda inaugural do Torneio das Seis Nações.
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Nos últimos 15 anos a Inglaterra apenas por uma vez saíra a sorrir de Dublin e desde 2011 que não conseguia marcar um simples ensaio no Aviva Stadium. Mas bastaram 92 segundos para a equipa da rosa fazer o primeiro da tarde, com o ponta Johnny May a marcar junto à bandeirola materializando uma entrada de leão dos visitantes (0-7).

Mas pouco a pouco a Irlanda, fiel ao seu modelo de jogo, começou a ganhar ascendente e com uma penalidade de Jonathan Sexton e um ensaio do pilar Cian Healy - finalizando uma série de pick and goes após corajosa decisão de não chutar aos postes uma falta mas optar pelo alinhamento - passava para a frente no marcador (10-7).
Sem acusar a pressão, taticamente os homens de Eddie Jones mostravam saber cumprir na perfeição o que queriam e, obviamente, estudaram e treinaram a fundo, e aproveitando um erro do jovem Jacob Stockdale (largou a bola pressionado por Nowell) Eliott Daly faria à meia-hora o segundo ensaio inglês na sequência de um pontapé raso que o próprio defesa efetuara com classe e intenção (10-14).

Praticando um râguebi de contacto agressivo e por vezes mesmo brutal mas ao mesmo tempo inteligente e de uma eficácia que ia anulando, enervando e congelando uma Irlanda que é "só" a 2.ª equipa do "ranking" mundial e foi designada como a melhor equipa de 2018, a Inglaterra ainda alargaria a vantagem no derradeiro lance do 1.º tempo, com Owen Farrell (o médio de abertura dos Saracens afinal recuperou e pôde liderar as suas tropas) a converter uma penalidade para 17-10 ao intervalo.

Na 2.ª parte os irlandeses até marcaram primeiro (penalidade de Sexton para 13-17) mas continuaram a perder no corpo-a-corpo e especialmente na luta no solo, onde a feroz avançada inglesa levou quase sempre a melhor. E aos 66", perseguindo um pontapé inteligente de May, o centro Henry Slade alargava para 22-13.

Os ingleses continuavam a meter os adversários numa autêntica "camisa de forças" da qual os homens da casa não conseguiam libertar-se. E o ar atónito e desesperado de Conor Murray, Sexton & companhia traduzia a incapacidade irlandesa e era penoso de ver...

Nas bancadas do Aviva ouvia-se o Swing low sweet chariot que só é entoado quando os fiéis adeptos ingleses estão eufóricos. E mais ficaram quando, primeiro Farrell, numa penalidade - perante o olhar do seu pai Andy, braço-direito de Joe Schmidt na equipa técnica irlandesa - e depois de novo Slade - com grande técnica individual e intercetando um passe desastrado de Sexton, esta tarde uma desfocada cópia do "melhor jogador de 2018" - colocavam o resultado num inalcançável 32-13. E com um mais que improvável ponto de bónus atacante pelos quatro ensaios alcançados.
Já em cima da hora o entrado médio de formação John Cooney reduziria o défice dos da casa para 32-20, fazendo um segundo ensaio que apenas amenizou um desaire que certamente vai ser muito difícil de digerir por toda a Irlanda. E para lá das óbvias consequências já neste Seis Nações, não se sabe se não fará ondas que podem chegar ao Mundial do Japão que arranca em setembro...

Escócia competente quase comprometia no final

No primeiro jogo desta tarde em Edimburgo a Escócia bateu a Itália por 33-20, resultado quase idêntico ao do duelo de Dublin, fruto de cinco ensaios, com destaque para o ponta Blair Kinghorn, autor de um "hat-trick" de ensaios. Os escoceses, muito bem comandados pelo par de médios Greig Laidlaw e Finn Russell, já venciam por 12-3 ao intervalo e chegaram aos 33-3 a 10" do fim, altura em que "fecharam a loja", arrumaram as suas coisinhas e começaram a pensar nas bebidas que iam consumir no habitual convívio que se segue entre as duas equipas.

Desconcentração fatal muito bem aproveitada pelos italianos, que finalmente com posse de bola progrediram no terreno e com três ensaios em curtos 8 minutos (!), suavizaram um resultado que, face ao râguebi praticado pelos dois quinzes, acaba por ser lisonjeiro para os homens liderados por Sergio Parisse, que aos 35 anos cumpriu hoje a 66.ª partida no Seis Nações, um recorde.

North bisa para dar a Gales uma reviravolta memorável

No jogo inaugural da ronda, disputado na noite de sexta-feira em Paris, o País de Gales venceu a França por 24-19 após uma recuperação histórica - a maior do seu historial! - pois atingiu o intervalo a perder por 16-0 numa 1.ª parte demasiado desmaiada para os homens de Warren Gatland, incapazes de ripostar a um quinze muito focado e a praticar um râguebi alegre e fluido a la française como há muito não se via.

Mas França é França, reconhecidamente capaz do melhor e do pior em poucos minutos num relvado de râguebi. E com uma incrível falha defensiva (como foi possível Josh Adams quebrar toda a defesa adversária daquela forma?) e dois descomunais erros individuais (o experiente Huget a largar uma bola que parecia ter molas e Vahaamahina a tentar um passe de 30 metros que deu uma fácil interceção) permitiram a George North marcar por duas vezes concretizando uma reviravolta memorável.

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