Herói ou espião? Britânico que fundou Capacetes Brancos encontrado morto em Istambul
Eram 4.30 da madrugada desta segunda-feira em Istambul (menos três horas em Lisboa) quando o corpo de James Le Mesurier, de 48 anos, foi encontrado na rua junto à sua casa do lado europeu de Istambul. A causa da morte do britânico, antigo oficial do exército condecorado pela Rainha Isabel II pelo seu trabalho como fundador dos Capacetes Brancos, um grupo de defesa civil que atua na Síria, ainda está por apurar.
As autoridades turcas abriram um inquérito para apurar o que aconteceu. Segundo os media turcos citados pelo The Guardian, o corpo do britânico apresentava fraturas na cabeça e nas pernas - parecendo ter caído de uma varanda.
"É absolutamente trágico. Ele era uma das poucas pessoas que deixaram uma pegada humanitária na Síria", afirmou à BBC Hamish de Bretton-Gordon, diretor do grupo Médicos Sob Fogo. Apesar da perda do seu fundador - o homem que em 2014 criou um grupo de resposta de emergência que passou a treinar voluntários na Síria, habilitando-os a prestar primeiros socorros às vítimas da guerra que desde 2011 destrói o país - Bretton-Gordon está convencido que os Capacetes Brancos têm uma "estrutura forte" e que o seu trabalho vai continuar.
Famosos por usarem os capacetes brancos que lhe dão nome, os voluntários do grupo vivem de doações. Entre esses voluntários encontram-se desde padeiros a carpinteiros ou até alfaiates.
Com mais de 2700 voluntários no auge do conflito, em 2015, os Capacetes Brancos já terão salvado mais de cem mil civis apanhados em zonas sob ataque nas áreas da Síria controladas pela oposição ao presidente Bashar al-Assad. O trabalho em zonas de guerra já lhes causaram 252 baixas e mais de 500 voluntários ficaram feridos.
Em 2016, a organização recebeu o Right Livelihood Award em reconhecimento pela sua "bravura extraordinária, compaixão e empenho humanitário no salvamento de civis". Nesse mesmo ano, os Capacetes Brancos surgiram na lista dos favoritos ao prémio Nobel da Paz.
Mas o grupo fundado por Le Mesurier é tudo menos consensual. Tanto o Governo sírio como os seus aliados russos e iranianos têm acusado os Capacetes Brancos de apoiarem abertamente organizações terroristas.
Há menos de uma semana, o ministério dos Negócios Estrangeiros russo escreveu no Twitter sobre Le Mesurier, acusando o britânico de ser um agente secreto do MI6.
Os fundadores dos Capacetes Brancos sempre garantiram ser neutros e não terem qualquer ligação política a um dos lados do conflito, jurando salvar pessoas de todos eles. Além dos salvamentos, os voluntários fazem trabalhos de reconstrução nas zonas mais destruídas pelos bombardeamentos.