Preparar a cimeira UE-China, que terá lugar no dia 9 de abril, dar um impulso à estratégia sobre as alterações climáticas, dar prioridades às políticas económicas da próxima agenda estratégica, entre outros temas, fazem parte dos trabalhos do Conselho Europeu, que decorre nesta quinta e sexta-feira em Bruxelas. Mas é o Brexit que concentra as atenções, com a saída do Reino Unido prevista para 29 de março se não houver um acordo na Câmara dos Comuns e unanimidade dos restantes Estados membros da União Europeia para conceder a extensão do prazo de saída..Na noite de quarta-feira, Theresa May lamentou, numa curta declaração, o facto de não cumprir a promessa de o Brexit se concluir na data prevista e responsabilizou os deputados. "Está farto das lutas internas, dos jogos políticos, de obscuras contendas regimentais, dos deputados não falarem de outra coisa que não o Brexit quando tem preocupações reais sobre as escolas dos nossos filhos, do nosso Serviço Nacional de Saúde, do crime com facas. Eu estou de acordo e estou do seu lado", disse, dirigindo-se aos cidadãos britânicos, para também informar que tinha pedido o adiamento da saída da UE. "É altura de chegar a um acordo. Moção após moção e emenda após emenda, os deputados só conseguem dizer o que não querem", disse, em mais uma crítica aos deputados..Para May a única opção é aprovar o acordo que fez com Bruxelas. "É o melhor acordo que se pode negociar. Não estou preparada para prolongar o Brexit para lá de 30 de junho", dando a entender que, se o acordo não passar, poderá demitir-se. Uma hipótese que o The Independent já tinha levantado..As primeiras reações à mensagem de May por parte dos deputados mostram que o fosso entre Theresa May e Westminster se alarga, como o The Guardian dá conta..Dando seguimento à moção aprovada na semana passada pelo Parlamento britânico, a primeira-ministra pediu ao Conselho Europeu, em carta enviada ao seu presidente Donald Tusk, uma prorrogação do artigo 50.º..A governante teve em mente as declarações do negociador-chefe da UE para o Brexit, Michel Barnier, de que o pedido só podia ser para uma extensão longa ou curta, mas nunca as duas ao mesmo tempo, como se chegou a especular - "ou é uma coisa ou é outra, certo?", disse o francês na conferência de imprensa de terça-feira. Mas também terá ouvido o que Barnier e a presidência francesa disseram sobre uma extensão longa: que teria de ser acompanhada de um "novo evento", como eleições ou um referendo. E em consequência pediu uma extensão do artigo 50.º do Tratado de Lisboa até 30 de junho. Uma mudança em relação ao que May disse aos seus colegas de governo na terça-feira - segundo os media britânicos - e ao que defenderam publicamente na semana passada. O ministro David Lidington, considerado o número dois de Theresa May, havia considerado que uma extensão curta sem o acordo aprovado seria "completamente irresponsável" e contra o que os deputados tinham aprovado..Donald Tusk reagiu à tarde, numa curta declaração. Disse que vai recomendar aos restantes líderes europeus que aprovem a extensão, se a Câmara dos Comuns aprovar o acordo. Mas não fechou a porta a uma extensão prolongada: "O tema está em aberto.".Franceses ameaçam.Já os franceses mostraram estar pouco abertos à concessão de um adiamento do Brexit. "A nossa posição é enviar aos britânicos uma mensagem clara e simples. Como a própria Theresa May afirmou repetidamente, existem apenas duas opções para sair da UE: ratificar o acordo de retirada ou sair sem um acordo", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros Jean-Yves Le Drian ao Parlamento francês..A presidência francesa foi mais longe: "Uma extensão não é uma solução, não é uma estratégia", disse uma fonte do Eliseu ao Le Point. E, sem um "projeto claro", Emmanuel Macron não está disposto a responder afirmativamente..Ira no Parlamento.O facto de ter ido à Câmara dos Comuns à sessão de debate semanal sem ter disponibilizado a carta aos deputados abriu mais uma brecha com os deputados. Um grupo de 40 deputados pediu um debate de urgência, que decorreu durante a tarde. Theresa May e o seu governo foram arrasados por deputados de todos os quadrantes. O ministro-sombra do Brexit, Keir Starmer, afirmou ser "irresponsável pedir uma extensão curta para voltar a pedir a aprovação do mesmo acordo rejeitado duas vezes e introduzir um novo precipício". O seu colega do Labour Hilary Benn insistiu na hipótese do referendo. "Se é democrático voltar a perguntar-nos se mudámos de ideias sobre o acordo do governo não uma, mas duas vezes e quem sabe três vezes, porque não é democrático voltar a perguntar aos britânicos se mudaram de ideias?".Se a trabalhista Alison McGovern denunciou o bullying do governo para os deputados aceitarem à terceira o que reprovaram antes, Dominic Grieve afirmou sentir "vergonha de pertencer ao Partido Conservador" e denunciou o constante ziguezague de Theresa May. Grieve defende também a realização de um novo referendo..O nacionalista escocês Tommy Sheppard resumiu o sentimento de parte significativa dos deputados: "Quando esta primeira-ministra britânica falar em Bruxelas, ela não o está a fazer em nosso nome nem representa o que defendemos.".Corbyn sai da reunião.Theresa May convocou os líderes partidários ou da bancada parlamentar para uma reunião ao fim da tarde, a qual precedeu a comunicação ao país. "Da primeira-ministra não vi qualquer sinal de concessões. Ela está em negação", disse a deputada dos Verdes Caroline Lucas..A reunião ficou marcada também pela atitude de Jeremy Corbyn. O líder da oposição saiu da mesa após ter alegado que Chuka Ummuna, deputado em representação do grupo de independentes, não é um "verdadeiro líder partidário". "Comportamento infantil quando o momento exige comprometermo-nos num diálogo sério", reagiu Ummuna.