Brasileiros destacam como pontos positivos equivalências no ensino e na carta de condução
O Brasil está em Portugal através dos milhares de brasileiros que vivem no país: estima-se serem já 400 mil. O Brasil desfilou a alegria pela avenida da Liberdade, uma celebração ainda maior com a vinda do presidente Lula da Silva. O Brasil está nos trabalhos, nas escolas, nas associações, nos coletivos e em muitos outros espaços públicos, mas nem todos os brasileiros festejaram a vinda do presidente brasileiro. Também há quem esteja alheado da política, defendendo que estão cá para trabalhar e imigraram sobretudo para terem segurança.
A equiparação do ensino secundário e o reconhecimento das cartas de condução em ambos os países fazem parte dos protocolos de cooperação entre Portugal e Brasil, o que afeta diretamente a comunidade brasileira. Foi, também, criado o prémio Marielle Franco para distinguir trabalhos de investigadoras na área do racismo e xenofobia. Três iniciativas entre os 13 acordos assinados por Lula da Silva (e António Costa) durante os quatro dias que esteve em Portugal, na área dos direitos humanos e da igualdade.
"Estamos muito felizes. Foi uma visita muito positiva, sobretudo porque é um marco no reencontro de Brasil e Portugal depois de quatro anos de ausência de diálogo com o governo brasileiro. Mas, além da visita de Lula da Silva, consideramos muito importante a vinda dos ministros [sete], como Anielle Franco [Igualdade Racial], Silvio de Almeida {Direitos Humanos e Cidadania]e Margareth Menezes [Cultura]. Conseguimos conversar, sobretudo com o ministro Silvio, sobre os problemas da comunidade brasileira como um todo. Manifestou grande abertura em manter o diálogo entre o Brasil e Portugal no que diz respeito aos direitos dos cidadãos brasileiros", sublinhou Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa.
Evidencia os acordos de cooperação entre os dois países, mas também iniciativas como o prémio Marielle Franco, em homenagem à vereadora da Câmara do Rio de Janeiro assassinada há cinco anos. "Destaca a importância da luta contra a xenofobia mas também contra a violência política e contras as mulheres negras. É algo muito simbólico e importante para nós", diz a dirigente. Aliás, na carta que enviaram a Lula da Silva denunciaram o aumento das situações de racismo, xenofobia e discriminação de brasileiros e brasileiras.
Cyntia de Paula participou em várias momentos da visita do presidente do Brasil, assim como outros dirigentes brasileiros. Foi a forma de comitiva de Lula da Silva colmatar a ausência de um encontro com a comunidade.
Na tarde de terça-feira, os brasileiros percorreram a Avenida da Liberdade, em Lisboa, na manifestação do 25 de Abril. Cada vez com uma maior presença, marcando a diferença na forma como exigem a defesa dos seus direitos, com muita música, dança e cor.
O coletivo Colombina Clandestina também esteve presente. É um dos movimentos sociais brasileiros que têm vindo a organizar-se em Portugal. Assenta em três pilares: feminismo, diversidade (comunidade LGBTI+ e outras minorias) e manifestações nos espaço público através da arte e da cultura.
Vivian Andreozzi, designer, está em Portugal há oito anos e foi a porta estandarte do coletivo. "A visita representou a legitimação da vitória de Lula e um retomar da Cimeira Luso-Brasileira. É muito importante a nível da nossa vivência no país. Finalmente, estamos a ser governados por alguém que não está preocupado em tentar desmontar a nossa democracia. É muito reconfortante pensar que estamos no caminho certo. Claro que há muitos problemas e discussões, mas o Brasil e a democracia não estão mais em risco".
Destaca o acordo de cooperação na área da Educação. "É muito importante porque há muita burocracia, é importante que os direitos e as profissões sejam reconhecidos reciprocamente. Não só para a comunidade brasileira mas também para garantir mão de obra e o aumento da natalidade em Portugal".
Outros brasileiros mantiveram-se nos seus empregos ou aproveitaram o feriado para descansar. Alguns, confessaram até que só nos últimos dias acompanharam mais a visita de Lula da Silva. Patrícia Dias, 44 anos, empregada doméstica, está em Portugal há 20 anos, acaba de obter dupla nacionalidade "Foi ótima a visita de Lula mas também ficaria contente se fosse Bolsonaro. Houve decisões importantes, nomeadamente a equivalência dos estudos, embora já não me afete. Os imigrantes sofrem quanto chegam. Eu também sofri, mas agora estou bem", diz. O filho nasceu em Portugal e está no 10. º ano.
A família Santos imigrou recentemente mas já conseguiram obter a autorização de residência. Aproveitam o dia de sol para descansar no jardim da Fonte Luminosa.
obson, 42 anos, chegou há 18 meses, trabalha na construção civil. Daniela, 39 anos, há um ano, é babysitter de gémeos. Imigraram do Rio de Janeiro por causa da falta de segurança - "não poderíamos estar descansados, sentados na relva, como aqui" - e para que a filha. Ana. de 6 anos tivesse um ensino de qualidade. Quanto à visita do presidente do seu país, Robson acusa. "Lula da Silva representa o Brasil de forma negativa, é uma vergonha o que o PT (Partido dos Trabalhadores) fez. O nosso problema é a corrupção, nada se compara ao que se passa em Portugal. Pode não ser o melhor país da Europa mas, comparado com o Brasil, é muito bom".
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