Brasil chora, faz corrente para Tite ficar e dá consolo a Neymar
A eliminação do Brasil no Mundial 2018 perante a Bélgica lançou o país em mais uma depressão, talvez não tão grande como a de há quatro anos, depois da humilhação do Mineirão, quando a Alemanha goleou por 7-1.
Apesar da desilusão, o selecionador Tite não foi contestado, ao contrário de outros antecessores, e contou até com o apoio público de alguns jogadores que no final da partida deixaram bem claro que querem que o técnico continue, tendo em vista o Mundial do Qatar em 2022, sendo que já se haviam iniciado as conversações entre o técnico e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para assinar um novo vínculo.
"Ele tem de permanecer porque faz um trabalho muito bom, é muito preparado e ainda tem muito a oferecer à seleção", afirmou o defesa Miranda, capitão no jogo com a Bélgica, que teve outros seguidores como Gabriel Jesus que recorreu mesmo à estatística para defender a continuidade do treinador: "Em 26 jogos, o Tite conseguiu duas derrotas, quatro empates e 20 vitórias. Isto é o Mundial, se não conquistar vai ser sempre questionado. Mas todos nós, brasileiros, sabemos da importância do Tite, da revolução que ele fez do nosso futebol, e minha opinião, como adepto, Tite tem de permanecer."
Um pouco por toda a imprensa brasileira domina o "fica Tite" devido ao trabalho que fez desde que assumiu o comando técnico da seleção em junho de 2016. E este sábado de manhã em Kazan, poucas horas depois da eliminação e antes da viagem de regresso ao Brasil, Edu Gaspar, coordenador técnico da CBF, revelou que é tempo de "juntar as dores" causadas pela Bélgica, mas sempre foi dizendo que a equipa tem estado num "altíssimo nível".
"Vamos ter nosso tempo, o nosso momento de reflexão, para tomar decisões sobre os próximos passos. Se vai ser em conjunto ou não, vai do momento e de resolver da melhor forma possível", disse Edu Gaspar, admitindo que o Brasil tem "uma forte comissão técnica", o que deixa antever a possibilidade de haver mesmo uma renovação de contrato.
Um dos jogadores que mais sofreu com a eliminação foi Neymar, que ao longo do Mundial foi criticado pelas suas sucessivas quedas no relvado. A estrela do PSG publicou este sábado na sua conta de Instagram uma mensagem muito sentida. "Posso dizer que é o momento mais triste da minha carreira. A dor é muito grande porque sabíamos que poderíamos chegar, sabíamos que tínhamos condições de irmos mais além, de fazer história... mas não foi dessa vez", escreveu, indo mesmo mais longe no seu desabafo: "Difícil encontrar forças para querer voltar a jogar futebol, mas tenho certeza que Deus me dará força suficiente para enfrentar qualquer coisa."
Apesar da desilusão, Neymar foi bastante apoiado quando este sábado deixou o hotel em Kazan, para regressar ao Brasil. Eram muitos os adeptos canarinhos que quiseram dar algum conforto aos jogadores da seleção, em especial ao número 10, que ouviu cantar o seu nome enquanto se dirigia para o autocarro.
Mas não foram apenas os adeptos a confortarem Neymar, pois Edu Gaspar fez questão de expressar o seu apoio público à estrela brasileira. "A partir do momento em que passei a conviver mais com ele, vi que não é fácil ser Neymar. É um atleta que merece todo o meu elogio. As pessoas esquecem o tempo que ele ficou parado e o que fez para jogar o Mundial em boas condições", frisou o coordenador técnico da CBF.
"Não sei se algum atleta atingiria o nível que ele atingiu. Se dá um sorriso, é criticado e elogiado. Se chora, é criticado e elogiado. Se não dá entrevista, é criticado e elogiado. Não é fácil ser Neymar, é difícil estar na pele dele em alguns momentos", acrescentou Edu Gaspar, que deixou mais lamentos: "Chega a dar pena, porque o que esse menino sofre não é brincadeira."
Se há jogador a ser visado pelas críticas é o avançado Gabriel Jesus, que não marcou qualquer golo nos cinco jogos que disputou no Mundial 2018. Desde o Campeonato do Mundo de 1974 que o Brasil não tinha um número nove sem golos marcados numa fase final. Só que nesse torneio, o camisa nove era César Maluco que não foi utilizado pelo selecionador Mário Zagallo...
Nos Mundiais anteriores, entre 1930 e 1970, apenas em 1966 o número 9 brasileiro tinha ficado em branco... era Alcindo, que foi utilizado em dois jogos desse Mundial disputado em Inglaterra, no qual o Brasil foi eliminado na fase de grupos por Portugal de Eusébio e companhia.
"Foi frustrante, frustrante. É difícil abdicar de muitas coisas para chegar a um torneio tão grande. Era um sonho que tinha. Depois da estreia, marcar tornou-se uma obsessão. Vai ser difícil assimilar. Parece que tiraram um pedaço de mim", disse Gabriel Jesus, avançado do Manchester City, bastante desolado com o seu rendimento na Rússia.