O BPN teve dois anos para denunciar o contrato promessa de compra e venda para aquisição da colecção de arqueologia de Joaquim Pessoa, no valor de cinco milhões de euros. No decorrer do prazo, o presidente do banco, Oliveira Costa, começou a suspeitar de que nem todas as peças constituíam "achados de indiscutível valor arqueológico", tal como estava contratualizado na cláusula sexta. Neste sentido, tentou adiar o pagamento. Mas, ao fim de dois anos, fechou o negócio..Confrontado com dúvidas do presidente do banco quanto à autenticidade da colecção, o poeta, autor de Amélia dos Olhos Doces, desdobrou-se a pedir pareceres técnicos, nomeadamente ao arqueólogo António Cavaleiro Paixão, ligado ao Igespar, e ao historiador Manuel de Castro Nunes, filho do arqueólogo João de Castro Nunes. Estes pareceres atestavam a autenticidade dos materiais, mas foram desvalorizados pelo director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA). .Para Luís Raposo, o parecer de Castro Nunes não tem valor científico, uma vez que não é arqueólogo. "Ele próprio não se considera arqueólogo, mas arqueómano (amigo da arqueologia)", disse ao DN. "Um arqueómano pode dizer o que quiser", frisou. .Em contrapartida, a Cavaleiro Paixão é reconhecido mérito científico, mas Luís Raposo recorda que o arqueólogo sofre actualmente de uma doença degenerativa e que na altura em que emitiu o parecer, em 2006, já as suas faculdades estariam afectadas. "É um arqueólogo com uma carreira longa, mas com uma degradação de saúde que faz que não possamos levar a sério os seus pareceres." Quanto às peças de ourivesaria, admite que sejam de ouro. "Mas não significa que tenham sido fabricadas no período em que estão referenciadas", explicitou. .O DN teve acesso a um parecer de Cavaleiro Paixão, em que afirma: "Nenhum dos artefactos oferece quaisquer dúvidas quanto à sua genuidade, apresentando todos eles notável coerência dentro dos períodos cronológicos atribuídos: pré e protó-históricos." Castro Nunes, por seu lado, escreveu: "A análise detalhada dos suportes materiais confirma, sem quaisquer reservas, a procedência documentada"..Joaquim Pessoa diz não entender como é que Luís Raposo pode duvidar daqueles pareceres: "Ele tem de ter alguma tacto, alguma inteligência, alguma vergonha na cara." O poeta garante que Cavaleiro Paixão "não quis um tostão" pelo parecer. Admite, no entanto, que pagou a Castro Nunes pelo trabalho de análise. .Contudo, Luís Raposo não tem dúvidas: "Posso afirmar que as peças não têm origem em Portugal, nem têm relevância arqueológica nem em Portugal nem em nenhuma parte do mundo arqueológico." Relativamente às máscaras de ouro, garantiu: "Não foram encontradas em Portugal. Podem ter sido copiadas cá a partir de originais, mas não foram seguramente fabricadas em Portugal."