O presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, afirmou hoje que o centro de reprodução do mexilhão-de-rio (margaritífera margaritífera) é o "único na Península Ibérica" e visa a preservação desta espécie que inviabilizou uma barragem. .O projeto inicial do Sistema Eletroprodutor do Tâmega previa a construção de quatro barragens, mas a descoberta do mexilhão-de-rio no rio Beça inviabilizou a barragem de Padroselos, que iria localizar-se junto a Covas do Barroso..Trata-se de uma espécie ameaçada que chegou a ser dada como extinta em Portugal no início do século XX, tendo sido redescoberta de uma forma fortuita em 2009, em Boticas..O centro de reprodução deste bivalve não comestível, que se encontra protegido por uma diretiva comunitária, vai ficar instalado no Parque de Natureza e Biodiversidade de Boticas.."Conseguiu travar uma barragem e ainda bem, porque tinha efeitos nefastos a nível ambiental na zona onde era para ser construída. Fruto desta intervenção e deste protocolo com a Iberdrola vamos fomentar, reativar e dispersar este mexilhão pelos nossos rios", salientou Fernando Queiroga..O autarca salientou que este projeto representa "mais um polo de atração ao concelho"..O biólogo Joaquim Reis disse que o rio Beça "é um dos quatro rios em Portugal onde a espécie é considerada viável".."É uma espécie com especial interesse e nós queremos auxiliar a sua recuperação a nível nacional e internacional", afirmou..Em Boticas, explicou, vai ser feito um programa de reprodução em cativeiro deste bivalve que precisa de trutas para completar o seu ciclo de vida.."Nós vamos facilitar o encontro do mexilhão com as trutas para que se possa completar o ciclo de vida", sublinhou. .O biólogo explicou que as trutas vão ser criadas no posto aquícola e na altura da reprodução do mexilhão vão ser infetadas com as suas larvas e libertadas para ajudar à dispersão natural do mexilhão nos rios Beça e Terva..O projeto faz parte das 28 medidas previstas no protocolo fauna e flora assinado entre a Câmara de Boticas e a concessionária das barragens, a espanhola Iberdrola. .Fernando Queiroga explicou que o plano vai ser implementado ao longo de cinco anos, e representa um investimento de 2,3 milhões de euros..Sara Hoya, da Iberdrola, referiu que este protocolo resulta das contrapartidas pela construção das barragens de Daivões, Gouvães e Alto Tâmega, no distrito de Vila Real..As ações a implementar serão sugeridas anualmente pela câmara e financiadas pela Iberdrola e contemplam ações como a plantação de sobreiros, a revegetação de taludes ribeirinhos mediante técnicas de bioengenharia, repovoação com truta-de-rio ou a criação de charcas..O Sistema Eletroprodutor do Tâmega é considerado um dos maiores projetos hidroelétricos realizados na Europa nos últimos 25 anos, prevê um investimento de 1.500 milhões de euros e deverá estar concluído em 2023.