Parlamento britânico aprova leis do Brexit. Boris apela à união

Parlamento britânico, onde os conservadores têm agora uma maioria de 80 deputados, votou esta sexta-feira a lei que regula a saída do Reino Unido da União Europeia. No debate, primeiro-ministro pediu para se deixarem cair as "velhas etiquetas" de "leave" e "remain".
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O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu esta sexta-feira deixar cair "as velhas etiquetas de leave [sair] e remain [ficar]" e avançar definitivamente no processo de Brexit, pensando já no futuro. A intervenção foi feita no início do debate sobre a lei que regula a saída do Reino Unido da União Europeia a 31 de janeiro, que foi aprovada com 358 votos a favor e 234 votos contra. Uma diferença de 124 votos, mais do que a maioria de 80 que os conservadores têm.

"Esta lei não deve ser vista como uma vitória sobre um partido ou uma fação sobre a outra. É tempo de avançarmos e deixarmos cair as velhas etiquetas de 'leave' e 'remain'. Agora é tempo de agirmos em conjunto como uma nação revigorada, como um Reino Unido, cheio de confiança renovada no nosso destino", afirmou Johnson. "Nesta nova era, o nosso sucesso será garantido como uma nação", indicou no Parlamento.

Os deputados fizeram a segunda leitura da lei que regulamenta o Brexit, estando previstos mais três dias de debate a partir de 7 de janeiro, antes de a lei passar para a Câmara dos Lordes.

"Agora é o momento, quando deixamos a União Europeia, de reunir o nosso país e deixar que o calor e a afeição naturais que todos partilhamos pelos nossos vizinhos europeus encontre uma expressão renovada num grande e novo projeto nacional de construir uma profunda, especial e democraticamente responsável parceria com aquelas nações que temos orgulho em chamar de nossas amigas mais próximas", disse o primeiro-ministro.

O objetivo do acordo de saída, defendeu o primeiro-ministro, é precisamente avançar sem mais atrasos. "Esta lei rejeita mais qualquer atraso", lembra Boris Johnson, referindo-se ao facto de incluir uma cláusula que impede a extensão do período de transição para lá de dezembro de 2020.

Boris Johnson disse no Parlamento que tudo está pronto para a lei ser aprovada. "O forno está ligado, está no máximo, podemos tê-lo concluído à hora de almoço", defendeu.

"Temos agora que começar a construir a nossa futura relação com a União Europeia. O nosso objetivo é providenciar uma amizade próxima entre iguais soberanos, promover os nossos interesses comuns, inspirados pelo orgulho na nossa herança europeia e civilização", afirmou o primeiro-ministro.

"Este projeto não será de um governo ou de um partido, mas de uma nação como um todo", disse Boris Johnson, explicando que o Parlamento será mantido informado sobre as negociações.

Corbyn entendeu a mensagem, mas reitera que acordo é" terrível"

Na resposta ao primeiro-ministro, o líder do Labour, Jeremy Corbyn, disse que nos últimos três anos e meio a forma como o governo lidou com o Brexit não trouxe nada mais do que "impasse político, caos e incerteza económica". O tema "paralisou o nosso sistema político, dividiu as nossas comunidades e nações e tornou-se num embaraço nacional numa escala sem precedentes".

Corbyn reconheceu contudo "a mensagem clara" dos eleitores nas eleições, a determinação de acabar com o ciclo infinito de debates sobre o Brexit e avançar para os problemas do dia-a-dia. "Temos que respeitar essa decisão e avançar", disse o líder trabalhista, acrescentando um "mas".

"Mas perceber isto tudo não significa que nós, enquanto partido e um movimento, devemos abandonar os princípios básicos ou desistir da existência de uma sociedade mais justa", afirmou Corbyn. "Antes das eleições avisamos que o acordo de Brexit do primeiro-ministro era um acordo terrível para o nosso país e ainda acreditamos que é um acordo terrível", alegou, reiterando que o partido não vai votar a favor, acreditando que existe uma forma melhor e mais justa de sair da União Europeia.

Este acordo, defendeu Corbyn, agrava os riscos de um Brexit sem acordo no final de 2020.

Corbyn acusa Johnson de usar "truques e slogans para desviar a atenção das suas reais intenções", dando o exemplo dos direitos dos trabalhadores. "Apesar de todas as promessas feitas nas últimas semanas de que eles são os que protegem os direitos dos trabalhadores, na primeira oportunidade eles removeram as disposições básicas que disseram que faria parte desse projeto de lei."

O líder trabalhista critica ainda o facto de o acordo remover a proteção às crianças desacompanhadas que procuram asilo no Reino Unido. E ataca o facto de este remover vários pontos referente ao ambiente e normas de segurança alimentar, acusando Boris Johnson de já estar a pensar no acordo com os EUA -- "onde o que se chama 'níveis aceitáveis' de pelos de rato em paprika e larvas no sumo de laranja são permitidos".

Em relação aos argumentos de que o acordo "irá manter o Reino Unido junto", Corbyn lembra que há análises que falam na necessidade de controlos de fronteira no mar da Irlanda, que terá um impacto enorme da Irlanda do Norte.

"O primeiro-ministro pode acreditar que fomentar a divisão e o confronto o ajudou a realizar a sua ambição política pessoal", disse Corbyn. "Mas não há como curar as profundas divisões da nossa sociedade ou encontrar o terreno comum de que precisamos para além do Brexit."

Corbyn disse ainda que sobre a relação futura da União Europeia, "não podemos deixar este governo agir de uma forma antidemocrática e secreta".

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