Boris Johnson ameaça a BBC

O recém-eleito primeiro-ministro britânico pode vir a propor o fim da "taxa" que financia a televisão pública, ou pelo menos "descriminalizar" o seu não pagamento
Publicado a
Atualizado a

Passadas as eleições, que elegeram Boris Johnson para um mandato claro como primeiro-ministro (depois de ter exercido o cargo em substituição de Theresa May), surgem os primeiros sinais de que algo pode vir a mudar na relação de Downing Street com a estação pública BBC.

O The Guardian publicou, este domingo, um trabalho sobre a forma como o Partido Conservador pondera "ameaçar" a BBC com algumas medidas, por considerar que a estação pública tem um "viés" na forma como cobre a política doméstica.

Uma dessas medidas é quase simbólica. Os Tories pretendem "boicotar" um programa político da Radio 4, o Today, que um dos principais conselheiros de Johnson, Dominic Cummings, considera ser emitido para uma "bolha metropolitana", que despreza a realidade do país.

Mas a principal medida anti-BBC que o novo Governo pondera vir a tomar é bastante mais concreta.

Durante a campanha eleitoral, Johnson sugeriu que a taxa de licença da BBC, paga pelos contribuintes britânicos, poderia acabar. Ao mesmo tempo, o líder Conservador pôs em causa a independência da estação pública. O primeiro-ministro sugeriu que a taxa de televisão, que está garantida até, pelo menos, 2027, é um imposto geral que não se justifica quando outros órgãos de comunicação social têm outras formas de financiamento.

Este é um tema delicado. As alterações ao modelo de financiamento da BBC exigiriam que o Parlamento britânico aprovasse nova legislação.

No entanto, algumas vozes dentro do partido estão desconfortáveis com uma guerra total com a BBC - porque a estação pública continua a ser uma das instituições mais confiáveis do país e muita influência social.

A abolição da taxa seria difícil, mas há um risco mais premente para a BBC.

O secretário do Tesouro, Rishi Sunak, disse ter recebido instruções para avaliar uma possível "descriminalização da falta de pagamento da licença de TV", que prejudicaria o modelo de financiamento da BBC. Sunak explicou, numa entrevista: "Isso é algo que o primeiro-ministro disse que vamos estudar, e instruiu-nos nesse sentido. Acho que é justo dizer que as pessoas acham que a criminalização do não-pagamento da taxa de licença é algo que provoca dúvidas no passado."

Uma fonte governamental confirmou ao Guardian que a taxa de licença estava "na linha de fogo". Um porta-voz da BBC disse que a despenalização poderia cortar cerca de £200 milhões ao orçamento da estação. "A descriminalização também pode significar que temos pelo menos 200 milhões de libras a menos para gastar em programas e serviços que o nosso público adora".

Mas Boris Johnson sentiu-se visado por dois casos concretos. O monólogo do veterano entrevistador político Andrew Neil, que criticou Johnson por se ter recusado a ser entrevistado, e também pela "extensa cobertura" da BBC do caso de um menino de quatro anos com suspeita de pneumonia, que foi forçado a dormir no chão de um hospital.

As críticas à BBC, que não são exclusivas do Partido Conservador, mas foram também feitas pelos Trabalhistas, levaram a uma declaração do seu director-geral Tony Hall: "Eu não aceito a opinião daqueles críticos que juntam um punhado de exemplos para sugerir que somos de alguma forma tendenciosos de uma forma ou de outra."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt