Bónus, horários e saúde. Como as empresas se preparam para o novo normal

Aumentos e bónus em <em>standby,</em> manutenção do teletrabalho e maior foco no bem-estar dos trabalhadores marcam o regresso à atividade.
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A crise provocada pelas políticas adotadas na sequência da epidemia de coronavírus está a transformar a forma como as empresas encaram a remuneração dos trabalhadores e as suas prioridades na gestão de pessoas. Um inquérito da consultora Aon, revela as últimas tendências na forma como as empresas estão a reagir ao "novo normal" de um mundo cativo de uma epidemia global.

O estudo "Pulse survey results:​​​​​​ Navigating the impact of covid-19 on workplace and rewards practices", que vai sendo atualizado, deteta um acentuar de algumas políticas. O último inquérito, efetuado entre 28 de abril e 1 de maio, envolvendo quase 2000 participantes a nível mundial, incluindo de Portugal, aponta que há mais empresas a adiar aumentos de salários ou mesmo a congelar subidas nas remunerações.

"Quase 50% das empresas alterou de forma efetiva os seus pacotes de retribuição total", revelou Nuno Abreu, diretor da Aon Portugal. As principais alterações foram relacionadas com salários e bónus. "Ao nível dos salários, 25% das empresas registou um diferimento de aumentos e 24% congelou mesmo esses aumentos (21% e 23% no estudo anterior)", adiantou. Foram ainda realizados cortes salariais voluntários em 13% das empresas e involuntários noutras 14% (10% e 9% no estudo anterior).

Quanto a bónus, 14% das empresas reduziu ou eliminou o valor dos prémios de forma voluntária (7% no estudo anterior) e outros 11% fizeram-no de forma compulsiva (7% no estudo anterior). Verificou-se ainda uma redução no pagamento adicional a colaboradores obrigados a trabalhar em situação de risco, sendo que apenas 18% das empresas o continuam a fazer, face aos 25% que o faziam no início de abril.

O estudo avaliou ainda quais os principais fatores que farão parte da proposta de valor da empresa (EVP) para os seus colaboradores e potenciais candidatos, "existindo um grande destaque obviamente na segurança em 92% dos casos, na forma como a comunicação com os colaboradores é efetuada (84%), nas políticas de bem-estar existentes (84%), nas políticas de gestão da vida pessoal e profissional e políticas de flexibilidade (75%) e ainda no ambiente de trabalho em geral com 63% de respostas".

Proteção dos trabalhadores

As empresas também reforçaram significativamente as suas políticas de proteção dos trabalhadores, "especialmente na definição de conceitos mais alargados e flexíveis de baixas e licenças associadas a períodos de quarentena ou para apoio familiar".

As principais políticas passam por flexibilidade de horários para colaboradores com crianças em 80% dos participantes versus 73% no estudo anterior". Do total, 53% das empresas reforçaram as políticas de baixa associadas a períodos de quarentena acima do obrigatório por lei, 38% no apoio no cuidado de crianças com escolas fechadas (contra os anteriores 19%). E 31% aumentaram o apoio a colaboradores mais vulneráveis, quando antes eram apenas 14% das empresas a fazê-lo. E subiu de 14% para 23% o número de empresas que subsidiam a aquisição de material de escritório para casa dos colaboradores em consequência do teletrabalho.

Ao nível do recrutamento, "continua muito reduzido o número de empresas que segue os processos normais (14% neste estudo versus 16% no anterior) e mais ou menos estável o número de empresas que congelou qualquer tipo de recrutamento (27% neste estudo versus 28% no anterior)". Segundo Nuno Abreu, "todas os restantes participantes seguem políticas cuidadosas e muito seletivas no recrutamento de novos colaboradores".

A adoção de medidas de lay-off continua também estável, tendo 27% das empresas europeias já implementado ou em vias de implementar este tipo de programas. "No entanto, aumentou o número de empresas com programas de redução temporária de colaboradores mantendo o contrato com a empresa, tendo em vista o seu regresso posterior com a recuperação económica (22% neste estudo contra 12% no anterior)".

Novo normal

Quanto ao impacto a médio prazo na alteração da sua estrutura de força de trabalho a um nível mais permanente, 59% confirmaram que entendem que manterão no futuro uma estrutura semelhante à atual.

Nas políticas de gestão de pessoas, Nuno Abreu destacou que "os desafios colocados às organizações são vários e têm períodos temporais diferenciados, existindo claramente uma fase de retoma e regresso à "normalidade" e uma fase posterior de alteração fundamental de alguns princípios e formas de trabalhar".

Em 62% dos casos, as empresas têm ou terão a curto prazo equipas diferentes para olhar para as prioridades de curto prazo versus prioridades de longo prazo. "Relativamente às principais prioridades dos gestores de pessoas hoje em dia há um foco muito grande na proteção dos colaboradores (66% dos casos), na gestão da força de trabalho (63%) e no apoio na gestão das questões do dia a dia (25% da amostra)", destacou.

Quanto às políticas de teletrabalho e o respetivo impacto na produtividade nas pessoas, 28% das empresas confirmam que a produtividade aumentou, bem como as horas de trabalho, mas 33% indicaram não ter ferramentas que permitam avaliar o impacto do teletrabalho na produtividade dos seus colaboradores.

Sobre o regresso ao trabalho, 49% vão seguir as normas governamentais, 36% vão ter em conta a gestão de prioridades com base no historial clínico dos colaboradores. "A preparação do escritório para o regresso é algo onde as empresas têm também investido muito do seu tempo, sendo várias as medidas implementadas", indicou Nuno Abreu. Do total, 52% das empresas aposta na definição de regras claras para visitantes, e 51% na definição de número máximo de pessoas em áreas de open space ou de pessoas em reuniões, enquanto 42% vai manter reuniões digitais. Em 27% das empresas vão ser estabelecidos horários diferenciados de entrada, saída ou mesmo de frequência de espaços comuns e em 21% vai haver um incentivo à continuação do trabalho remoto de forma regular.

Do global, 13% das empresas indicou que vai reduzir os espaços físicos e número de edifícios e 12% vai definir políticas de trabalho remoto permanente para grupos de colaboradores. "A recolha de dados de saúde é também algo muito discutido, que levantam várias questões práticas, éticas e jurídicas, mas que sem qualquer dúvida veio para ficar durante os próximos meses/anos", considerou Nuno Abreu. Atualmente, 38% das empresas reconhece que tem ou vai ter uma política de recolha desses dados, 52% não sabem ainda e apenas 9% afirmam de forma clara que não terão qualquer política deste género. As questões associadas à recolha de dados de saúde dividem-se em medição da temperatura e realização de testes para identificação de casos positivos ou os já famosos testes de imunidade.

Uma fatia de 54% das empresas já alterou ou irá alterar a estrutura, 36% estão ainda em dúvida e apenas 9% confirma que manterá tudo nas mesmas condições. Segundo o estudo, as principais alterações ao escritório são a criação de estações de higienização das mãos em 96% dos casos, reconfiguração do layout (96%), implementação de novas sinaléticas (92%), eliminação de áreas comuns (90%) e mudanças no acesso aos elevadores em 82% das empresas.

Jornalista do Dinheiro Vivo

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