Há décadas que Bona não dava tanto que falar, mais concretamente desde que deixou de ser a capital do país, em 1991, na sequência da reunificação. Era-o desde 1949, à época uma cidade pequena e discreta subitamente promovida a principal por um motivo bastante prático: ao que consta, o então chanceler Konrad Adenauer residia por perto e terá usado a sua influência para evitar deslocações..Passar a ser a "ex" capital não se avizinhava fácil e temeram-se consequências sérias como o desemprego, mas a mudança seria atenuada com a concessão de um fundo estatal, a manutenção de alguns serviços públicos e a instalação de importantes departamentos da Organização das Nações Unidas, como é o caso do Secretariado da Convenção-Quadro para as Alterações Climáticas. Bona sobreviveu, está de boa saúde e recomenda-se, sobretudo neste ano, o do 250.º aniversário do mais querido filho da terra..A 17 de dezembro de 1770 Ludwig van Beethoven era batizado, tendo nascido presumivelmente no dia anterior no número 20 da Bonngasse. Filho e neto de músicos, cedo começou a aprender violino, órgão e piano, dando o seu primeiro concerto com apenas 7 anos e começando a compor aos 12. Era o início de uma obra da qual haveria de destacar-se a 9.ª Sinfonia (e última), de que faz parte o famosíssimo Hino à Alegria, com o texto do poeta Friedrich Schiller Ode an die Freude. Adotada como hino pela União Europeia por celebrar os seus valores, foi a primeira composição a constar das listas do Património UNESCO e tornou-se tão conhecida mundialmente que acabou "adaptada" para toques de telemóvel..Presentes de aniversário.O visionário Ludwig viveu em Bona apenas até aos 22 anos - idade com que se mudou para Viena (ver página 22), onde faleceria aos 57 - mas permanece bem presente e a casa onde nasceu tornou-se um símbolo incontornável da cidade. Convertida em museu, a Beethoven-Haus, reabriu ao público há um par de semanas após uma ampla remodelação de 3,75 milhões de euros, um dos principais projetos no âmbito deste 250.º aniversário..Já era um dos cem lugares turísticos mais populares da Alemanha e um dos espaços museológicos ligados à música mais visitados internacionalmente, agora promete atrair quem queira espreitar o quarto dos pais do compositor, supostamente o lugar exato do seu nascimento, ver manuscritos originais, instrumentos como o seu violino ou o último piano, até "aparelhos" com que tentou ultrapassar as dificuldades auditivas começadas a sentir por volta dos 30 anos. No total, a coleção permanente integra mais de duas centenas de peças que revelam a obra e a influência do compositor mas também o seu pensamento e emoções, havendo ainda espaço para mostras temporárias, a primeira das quais (até 26 de abril) integra o seu mais conhecido retrato, pintado por Joseph Stieler..Outra novidade neste ano de ode a Beethoven respeita ao Beethovenfest, um dos mais antigos festivais de música alemães, inaugurado em 1845 por iniciativa de Franz Liszt, com pompa, circunstância e convidados como a Rainha Vitória: vai ter uma edição extra em março (de 13 a 22, mas há datas já esgotadas), mantendo-se as habituais dezenas de concertos em setembro (de 4 a 27). O programa das festas inclui muitos mais eventos ao longo de todo ano, disponíveis no site oficial..Tranquila e verde.Bona e Beethoven ficaram associados para a eternidade, com o segundo a ser a principal exportação da primeira, mas há vida para além do compositor, claro, assim como houve após a aquisição do estatuto de "ex" capital..A cidade mantém-se pacata, com pouco mais de 330 mil habitantes. Cerca de 10% frequentam a reputada universidade fundada em 1818 e por onde passaram, enquanto alunos ou professores, figuras como Karl Marx, Friedrich Nietzsche, o Papa Bento XVI ou Jürgen Habermas, além de vários agraciados com prémios Nobel, designadamente da física, da literatura e da medicina. Hoje a saúde é uma das principais áreas de investigação, aqui desenvolvida por diversos institutos..Apelidada "cidade das curtas distâncias" devido à proximidade de grande parte das suas instituições, em Bona quase todos os passeios acabam junto ao rio nos momentos de lazer e obrigatoriamente quando, em maio e em setembro, se realiza o evento Rhein in Flammen, ou Reno em Chamas, iluminado por espetáculos de fogo-de-artifício. Longas e aprazíveis caminhadas têm por cenário os 160 hectares do Parque Rheinaue, com lago e um jardim japonês - mais um grande símbolo de Bona e, provavelmente, o preferido dos residentes.