Bombeiros criticam nova política de transporte de doentes
Em declarações à agência Lusa, Francisco Louro afirmou hoje que "não há sentido humano da parte de quem administra, há simplesmente sentido económico", situação que o levou a acusar a ULSNA e o Estado de tratarem as pessoas de uma forma "cruel e desumana".
Em causa está um despacho da ULSNA, a que a Lusa teve hoje acesso e enviado às corporações de bombeiros, o qual indica que desde 01 de janeiro foram "alterados os procedimentos" para o transporte de doentes relativo às transferências dos centros de saúde para os hospitais de Portalegre e Elvas.
"Assim, e no sentido de facilitar todo o processo, solicita-se [aos bombeiros] que, após a chegada ao serviço de Urgência do hospital, não aguardem pela alta do doente", estabelece o despacho, datado de 28 de dezembro.
"Isto é para evitar o pagamento das horas de espera. O que vai acontecer é que, quando os doentes estiverem despachados, ou vão de táxi ou pedem uma ambulância para os ir buscar e pagam o transporte", criticou Francisco Louro.
O presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Portalegre disse temer, por isso, que a medida venha a agravar também a situação económica das corporações, uma vez que a dívida por parte dos particulares aos bombeiros vai aumentar.
"O volume de dívidas por parte dos particulares aos bombeiros vai aumentar. As pessoas não têm dinheiro para pagar a ambulância que vão chamar para os levar a casa", vaticinou.
Considerando "vergonhoso" este processo, Francisco Louro referiu ainda esperar que as macas que pertencem às corporações de bombeiros não fiquem retidas nos hospitais, dado que, logo após a entrada dos doentes nas urgências, os bombeiros terão que abandonar esse espaço.
"Habitualmente as macas ficam retidas no hospital, o que é vergonhoso. O Hospital de Portalegre não tem capacidade de resposta e agora, com esta medida, vamos ver no futuro como é que isso vai acontecer", sublinhou.
Manifestando o receio de que os doentes fiquem "abandonados" logo após a entrada no hospital, Francisco Louro acusou a tutela de tratar os pacientes como "coisas" e como "objetos".
"Muitas vezes, os motoristas e os socorristas fazem de acompanhante e acompanham os doentes dentro dos hospitais, para que não fiquem abandonados. Ajudam-nos, mas, com esta medida, o ministro da Saúde quer tratar as pessoas como coisas, como objetos", disse.
Nesse sentido, o responsável aconselhou o Governo a cortar "noutras coisas", apelando a que não se faça "sofrer mais as pessoas".
A Lusa contactou a administração da ULSNA para obter uma reação a este caso, mas a mesma não quis prestar declarações.