bom vinho e pastéis de bacalhau

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A Feira da Luz, que já o jornalista e dramaturgo Sousa Bastos referia no seu livro Lisboa Velha: Sessenta Anos de Recordações - 1850 a 1910 como uma das romarias anuais de Setembro que se realiza "no largo que tem a mesma denominação, junto a Carnide", merecia destaque no DN de 6 de Setembro de 1935. "Com muita e animada concorrência de gente da capital e dos arrabaldes", tinha começado na véspera esta "romaria tradicional nos costumes do povo, que durante uma semana ali vai folgar e divertir-se". Nas memórias de Sousa Bastos, embora se dissesse que "o seu principal movimento e a sua fama dá-lha a feira de gado", explicava-se que também "tem algumas barracas de comidas e quinquilharias e um ou dois teatrinhos de fantoches", mas sublinhava-se, sobretudo, ser ali "que pela primeira vez no ano aparecem as castanhas e os leitões assados".

Em 1935, ano em que foi criada a FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), "apesar de ser na quarta-feira próxima o grande dia da Feira da Luz, [a romaria já] esteve muito animada neste primeiro domingo de Setembro". Logo, "desde as primeiras horas da manhã que as gentes de Lisboa e dos arredores se fizeram transportar ao largo fronteiro ao antigo convento, onde hoje funciona o Colégio Militar. Foram usados todos os meios de locomoção e até velhos carros bizarramente enfeitados".

Após a missa matinal, "a que assistiu grande número de fiéis, ficando o altar de Nossas Senhora cheio de oferendas", "reinou [a] alegria no grande recinto da feira". "Em volta da mancha policroma das barracas de quinquilharias e de loiças de barro - onde se faz largo e proveitoso negócio - magotes de rapazes e raparigas bailaram e cantaram. Os cavalinhos andaram toda a tarde pejados de 'equitadores' ruidosos." E, até à noite, "o ambiente não se alterou: animação, bailaricos, rodas de raparigas, música, vinho às canadas, pastéis de bacalhau - o quadro de sempre, simples, popular e lisboeta".

"No posto do Colégio [Militar] fizeram-se alguns curativos de ferimentos sem importância a pessoas vítimas de desastres e de agressões." Eis, pois, um povo de brandos costumes e de rijas carnes.

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