Bolsonaro vs Haddad: um perfil cruzado em 10 pontos
Ambos homens, os dois nascidos no estado de São Paulo e, quis o destino, terão hoje um dos dias mais importantes das suas vidas. Mas, salvo isso, entre Jair Messias Bolsonaro e Fernando Haddad pouco mais há em comum. Além do primeiro representar o que se pode chamar de "extrema-direita" e do segundo estar conotado com a "esquerda", ou "centro esquerda", saiba o que os distingue.
A ORIGEM
Jair Bolsonaro descende de uma família de emigrantes de Anguillara e San Martino de Vinezze, no Veneto, norte de Itália. Foi daí que Vittorio Bolzonaro - originalmente com "z" - partiu com a família para o porto de Génova e então para o porto de Santos, no "Novo Mundo". Como a maioria dos imigrantes italianos, estabeleceu-se no estado de São Paulo, onde já nasceria Angelo, filho de Vittorio, pai de Percy e avô de um tal de Jair, batizado assim em homenagem a Jair Rosa Pinto, craque do Palmeiras [ver "O CLUBE"] nascido no mesmo 21 de março (ver mais no ponto "O SIGNO"). E também Messias, por sugestão espiritual da mãe, dada a gravidez complicada. Além da ascendência italiana, o candidato tem sangue alemão (o bisavô foi soldado de Hitler, disse o próprio candidato) e português. Glicério, a cidade onde nasceu, fica a 443 Km de São Paulo. No entanto, foi registado em Campinas, a 100 quilómetros da capital paulista.
Como Fernando Haddad é natural de São Paulo, o Brasil vai ter, 116 anos depois, um paulista na presidência - apesar de ser a mais populosa, influente e rica unidade federativa do país, o estado de São Paulo não elegia o presidente desde Rodrigues Alves, em 1902. Segundo de três filhos do comerciante de tecidos Khalil Haddad, um imigrante que chegou ao país aos 24 anos, em 1947, proveniente do Líbano, e de Norma Goussain, filha de libaneses já nascida em São Paulo, pertence à vasta comunidade daquele país na cidade - no Brasil moram mais libaneses do que no Líbano. O avô paterno, Cury Haddad, cuja foto carrega na carteira, foi pastor da Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia.
A RELIGIÃO
Haddad é, por isso, religioso - professa a fé católica - característica que fez questão de sublinhar ao longo da campanha depois de perceber que o adversário conquistava votos entre os fiéis evangélicos e os católicos mais devotos.
Bolsonaro também é cristão católico embora se tenha aproximado, mais por razões políticas do que espirituais, do protestantismo, ao ser batizado em 2016 nas águas do Rio Jordão, o mesmo onde João Batista batizou Jesus, pelo Pastor Everaldo, presidente do então seu partido, Partido Social Cristão, e um dos líderes no país da denominação evangélica Assembleia de Deus.
OS CASAMENTOS
O candidato do PSL vai no terceiro casamento. O primeiro com Rogéria Nantes, que foi vereadora do Rio de Janeiro, o segundo com Cristina Valle, que foi notícia de campanha por causa das acusações que proferiu no atribulado processo de divórcio e de que hoje se arrepende, e o terceiro com a discreta Michelle, uma tradutora de libras (linguagem brasileira de sinais) 26 anos mais nova do que o marido.
A dentista paulistana Ana Estela casou com Fernando em 1988, tinha ele 25 anos, depois de dois anos de namoro. Mais envolvida na campanha do que Michelle, doutorou-se em odontologia e dá aulas na Universidade de São Paulo (USP).
OS FILHOS
Os filhos do casal Haddad são Frederico, advogado de 26 anos, e Ana Carolina, de 18, recém entrada na escola politécnica da USP, a universidade onde pai, mãe e irmão se formaram.
Bolsonaro tem cinco filhos - que chama de 01, 02, 03 e por aí adiante. Três deles, os fruto do primeiro casamento são figuras destacadas na política: o advogado Flávio, de 37 anos, é desde dia 7 senador da república, Carlos, 35, é formado em aeronáutica e foi o mais jovem vereador do Rio de Janeiro, e o agente da polícia Eduardo, 34, reelegeu-se há três semanas, com recorde de votação, deputado federal. Renan, ainda teenager, é filho do segundo casamento e Laura, sete anos, do atual. Uma frase do candidato - "eu tenho cinco filhos, quatro são homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio mulher" - a propósito de Laura causou controvérsia. Mais tarde, em tempo de antena, Bolsonaro disse, de lágrimas nos olhos, que reverteu uma vasectomia, para gerar a filha.
A FORMAÇÃO
Jair Bolsonaro formou-se na Academia Militar Agulhas Negras, especializando-se em paraquedismo.
Com vasta experiência académica, Fernando Haddad é bacharel em direito, mestre em economia, doutor em filosofia e professor de Ciência Política.
A CARREIRA POLÍTICA
Haddad começou por ser sub-secretário da prefeitura de São Paulo na gestão de Marta Suplicy, do PT, de 2001 a 2003. Fez depois parte do gabinete do então ministro do planeamento Guido Mantega, já no primeiro governo Lula da Silva, de 2003 a 2004, e assumiu o ministério da educação, em 2005, onde elaborou sete dos projetos mais elogiados da gestão do PT. Já no governo Dilma Rousseff, instituiu o programa Brasil Sem Homofobia, que por causa da controvérsia causada, não seria implantado. Em 2012, saiu do governo para vencer a corrida à prefeitura de São Paulo, onde embora tenha ganho elogios internacionais, sofreu sobretudo críticas internas que o levaram à derrota, na tentativa de reeleição em 2016. Regressado à vida académica, desde o início deste ano que já era apontado como Plano B ao inelegível Lula na eleição presidencial.
Na segunda volta eleitoral, o candidato do PT defronta Bolsonaro, que começou a vida pública como vereador do Rio, antes de se eleger deputado federal por sete mandatos consecutivos de 1991 até à atual legislatura, por nove partidos diferentes. Em Brasília, propôs 171 projetos de lei mas só viu dois serem aprovados. A partir de 2015 começou a forjar a sua candidatura presidencial, tornando-se um fenómeno nas redes sociais, ao ponto de ser o favorito a subir a rampa do Planalto no dia 1 de janeiro.
O MENTOR
Em entrevista ao DN, Haddad considerou Lula um dos políticos mais relevantes a nível global. A sua veneração pelo antigo presidente causa-lhe, no entanto, dissabores: é chamado de "poste" [equivalente a "pau mandado"] do ex-metalúrgico e de "filhote de presidiário".
Olavo de Carvalho, filósofo radicado nos EUA, é considerado o ideológo da nova direita brasileira, representada hoje por Bolsonaro. Conservador nos costumes, acredita que os globalistas comandam o mundo através de uma fonte central e que a esquerda quer legalizar a pedofilia.
OS HOBBIES
O capitão na reserva é fã de tiro.
O ex-prefeito de São Paulo distrai-se tocando guitarra nas horas vagas - admira Chico Buarque, Caetano Veloso, Dorival Caymmi e Elis Regina.
OS CLUBES
Líder nas sondagens, Bolsonaro está à frente também no futebol: o Palmeiras, cuja velha glória Jair Rosa Pinto se tornou responsável pelo seu nome de batismo, ocupa o primeiro lugar do Brasileirão e ainda segue nas meias-finais da prestigiada Taça dos Libertadores da América. Como está radicado no Rio de Janeiro há muitos anos, o deputado é ainda fã do Botafogo.
O São Paulo, clube de Haddad, está a fazer uma campanha no Brasileirão parecida com a do candidato: não partiu como favorito mas mantém-se no grupo da frente e ainda acredita no milagre de derrubar o Palmeiras à beira do fim.
OS SIGNOS
Haddad é aquariano, de 25 de Janeiro, o dia da fundação de São Paulo e a data de nascimento de ilustres tão diferentes como São Tomás de Aquino ou Eusébio. Quem nasce sob o signo de Aquário, consta, é inovador, agitado, determinado, excêntrico e atraente. Segundo o horóscopo do portal Terra a semana termina "com reconhecimento depois de um longo período de dedicação.
Segundo o mesmo portal, os arianos, como Bolsonaro, devem "manter a racionalidade no momento decisivo". Nascido a 21 de Março, logo Áries, ou Carneiro, o candidato partilha a data de aniversário com heróis do desporto brasileiro, como Ayrton Senna ou Ronaldinho Gaúcho, que é seu apoiante. As características mais comuns ao signo são a espontaneidade e o espírito de aventura.