Bolsonaro criticado por homenagear "funkeiro" controverso e se esquecer da rainha do samba
Jair Bolsonaro está a ser criticado por ter homenageado através do Twitter o controverso Mc Reaça, músico que se matou no último domingo, e não ter feito nenhuma referência na morte no início de maio de Beth Carvalho, chamada de "rainha do samba", ou de ter registado a atribuição do Prémio Camões, mais alto galardão literário em língua portuguesa, a Chico Buarque, por exemplo.
As críticas aumentaram de tom nas redes sociais e nas colunas dos jornais depois de ter sido noticiado, já após o tweet do presidente do Brasil, que Mc Reaça, cujo nome verdadeiro era Tales Volpi Fernandes, havia aparentemente espancado a amante, que está hospitalizada, antes de se ter suicidado. Ela acabara de lhe contar que estava grávida. O músico, de 25 anos, era casado.
"Jair Bolsonaro não escreveu uma linha em homenagem a Beth Carvalho, ícone do samba que morreu no dia 5 de maio. Também não se manifestou quando os filmes de dois cineastas brasileiros ganharam prémios importantes em Cannes, em França, ou quando Chico Buarque ganhou o Prémio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Na alegria e na tristeza, Bolsonaro, cujo livro de cabeceira foi escrito por um torturador, pouco ou nada fala sobre os nossos artistas, a não ser quando é para acusá-los de doutrinação ou pegadas comunistas. O capitão quebrou o protocolo neste domingo, quando se manifestou sobre a morte de Tales Volpi, conhecido como Mc Reaça, a quem chamou de "grande talento"", escreveu Matheus Pichonelli, colunista do portal Yahoo.
Para Reinaldo Azevedo, do UOL, "Mc Reaça fez jingles para a campanha do então candidato Bolsonaro, se as coisas terminassem aí, muito bem. Mas a história é bem mais feia. E, mais uma vez, o chefe da nação evidencia a sua absurda falta de limites, de bom senso, de razoabilidade (...) Volpi espancou gravemente uma mulher grávida - gravidez que ele não ignorava. Tratava-se de um relacionamento extraconjungal. Os 'reaças' não se confundem com conservadores. Estes, numa democracia, querem conservar instituições para que a sociedade possa operar de forma segura as mudanças necessárias".
No seu tweet, Bolsonaro escrevera que MC Reaça "tinha o sonho de mudar o país". E continuou: "Apostou no meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil. Que Deus o conforte juntamente com seus familiares e amigos", comentou o presidente brasileiro na sua conta oficial no Twitter.
MC Reaça ficou conhecido após gravar jingles nas manifestações contra a ex-presidente Dilma Rousseff em 2015 e em apoio a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018. O jingle mais conhecido, que chegou a ser partilhado por filhos do presidente, levantou críticas de feministas. "Dou para a CUT [central sindical conotada com o PT] pão com mortadela e para as feministas ração na tigela. As 'minas' de direita são as "top" mais bela enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela".