Bolsonaro compara filho suspeito de desvio de dinheiro a Neymar

Em conversa rápida com imprensa e apoiantes à saída de casa, o presidente do Brasil diz a jornalista que tem cara de "homossexual terrível" e a uma questão de outro repórter respondeu "pergunta para a tua mãe"
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Jair Bolsonaro comparou o filho Flávio, suspeito de desvio de dinheiro público, organização criminosa e lavagem de dinheiro, a Neymar, na tradicional conversa desta quinta-feira com jornalistas e apoiantes, à saída do Palácio do Alvorada, a sua residência oficial. Durante a conversa disse a um jornalista que tem cara de homossexual e mandou outro fazer perguntas à mãe dele.

"Acusaram-no de estar ganhando mais na casa de chocolate. O que acontece é que quem leva mais cliente para lá, e ele leva um montão de gente importante, ganha mais".

"Por que Neymar está ganhando mais do que outros jogadores? Porque ele é o mais importante. Não é comunismo", prosseguiu, citado pelo Metrópoles, jornal de Brasília.

A direita brasileira costuma citar, em tom sarcástico, uma frase de 2006 de Lula da Silva comparando o talento de um dos seus filhos para o negócio com o jogador Ronaldo, o Fenómeno.

Bolsonaro voltou a acusar o ex-aliado Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, de estar por trás das acusações contra o seu filho mais velho.

"Você já viu o Ministério Público do Rio investigar qualquer pessoa, qualquer corrupção, qualquer gente pública do Estado? E olha que o estado mais corrupto do Brasil é o Rio de Janeiro. Vocês já viram? Vocês já perguntaram para o governador Witzel porque a filha do juiz Flávio Itabaiana [o juiz do processo envolvendo Flávio] está empregada com ele? Já perguntaram? Pelo que parece, não vou atestar aqui, é fantasma. Já foram em cima do Ministério Público para ver se vai investigar o Witzel?".

Noutro ponto da conversa, ao ser questionado se ainda pretende transferir a embaixada de Israel de Telavive para Jerusalém, Bolsonaro reagiu com ironia ao jornalista autor da pergunta. "Você pretende se casar comigo um dia? Você pretende se casar comigo? Responde. Você não gosta de louro de olhos azuis?", questionou Bolsonaro, sob o riso dos apoiantes. "Não seja preconceituoso. Vou processar-te por homofobia. Você é homofóbico", continuou, dado o silêncio do repórter.

Finalmente, sobre o cheque de 24 mil reais [cerca de cinco mil euros] recebido pela primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo ex-assessor de seu filho, Fabrício Queiroz, o presidente reagiu mal. "Pergunta para a tua mãe, o comprovante que eu mandei para o teu pai", lê-se ainda no Metrópoles.

Na quarta-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro fez uma operação de busca e apreensão em casas ligadas a Flávio Bolsonaro. O senador é acusado de praticar "rachadinha", ou seja, ficar com parte ou a totalidade do dinheiro dos seus assessores, que depois distribuía, segundo as investigações, pelo motorista, Fabrício Queiroz, e por Adriano Nóbrega. líder da mais mortífera das milícias do Rio, a Escritório do Crime, acusada de ser a responsável pela morte de Marielle Franco.

Para lavar o dinheiro envolvido na "rachadinha", as autoridades acreditam que Flávio comprou e vendeu imóveis e usou uma loja de chocolates da qual é sócio.

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