Bolsogate. Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos de 2000 reais num mês
Entre os dias 9 de junho e 13 de julho de 2017, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos de 2000 reais cada um, totalizando 96 mil reais, o equivalente a perto de 24 mil euros, apurou o COAF, órgão de controlo de movimentações financeiras do Brasil. Os depósitos foram todos efetuados na agência bancária da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde o filho mais velho do presidente da República exerceu trabalho parlamentar, antes de ser eleito senador, em Outubro.
Os dados, revelados pelo Jornal Nacional, o principal espaço noticioso da TV Globo, são o último e um dos mais significativos desenvolvimentos do "bolsogate" ou "coafgate", como ficou conhecido o caso envolvendo Flávio e o seu motorista, Fabrício Queiroz, e que atinge até a primeira-dama brasileira, Michelle Bolsonaro, destinatária também de um depósito.
Desde dezembro que o ministério público, após recomendação do COAF, apura movimentações financeiras atípicas no gabinete do então deputado estadual. O seu ex-assessor, motorista e segurança Fabrício Queiroz movimentou 1,2 milhões de reais (um pouco menos de 400 mil euros) de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.
"Não tenho nada que me esconder de ninguém, nem me preocupo com a investigação de quem quer que seja", disse Flávio Bolsonaro.
O que chamou a atenção das autoridades, além da quantia, foi o facto de o motorista ter recebido transferências de oito outros funcionários do gabinete - a suspeita é de "mensalinho" no gabinete de 01, como Flávio é tratado pelo pai. O "mensalinho' consiste na contratação de assessores fantasma, que depois passam a major parte dos seus salários para o parlamentar que os emprega. E no caso do gabinete de Flávio, de facto, estavam familiares de Queiroz, que exerciam outras profissões a tempo inteiro, e funcionários que passaram a maior parte da legislatura a viver em Portugal, por exemplo.
Queiroz, chamado a depor, começou por ser declarado desaparecido. Depois, recusou-se a prestar esclarecimentos e mais tarde alegou tratamento de doença grave para faltar aos encontros com o ministério público. Flávio também não compareceu a audiência no dia 10 e pediu até ao Supremo para, na qualidade de senador eleito, ter direito a foro especial (imunidade). Foram então divulgados pela imprensa vídeos em que Jair e Flávio, em 2017, se mostravam críticos do instituto do "foro privilegiado" considerando-o uma desculpa para a impunidade de parlamentares corruptos.
Em entrevista à TV Record, principal concorrente da TV Globo e cujo dono, bispo Edir Macedo, apoiou Bolsonaro na corrida eleitoral, Flávio argumentou que "por ser filho do presidente" não deve "ter tratamento diferente".
Fontes do governo citadas anonimamente na imprensa admitem que o caso, mesmo envolvendo dois membros do clá Bolsonaro, Flávio e Michelle, que não fazem parte do executivo, causam desgaste ao presidente da República recentemente empossado.
em São Paulo