O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, preparava-se para viajar para Pequim, onde teria até agendada uma reunião com o presidente Xi Jinping, mas um balão obrigou a cancelar os planos à última hora e ameaça deteriorar mais as relações entre EUA e China. Segundo o Pentágono, o balão que foi detetado no espaço aéreo norte-americano estava a "recolher informação". Mas, de acordo com Pequim, trata-se de uma aeronave civil, usada para fins científicos (principalmente meteorológicos), que se afastou do rumo, lamentando que tenha ido parar de forma "acidental" aos EUA..A viagem, que devia começar amanhã, não foi cancelada, mas foi adiada para quando "as condições forem as certas", disse um responsável norte-americano aos jornalistas, alegando que a polémica com o balão espião iria "limitar significativamente a agenda" do secretário de Estado. O tema arriscava dominar toda a viagem, que tem como objetivo manter os pontos de contacto entre Washington e Pequim e evitar o deteriorar das relações já tensas devido à guerra comercial ou à pressão chinesa sobre Taiwan, entre outros problemas..O balão espião chinês entrou no espaço aéreo norte-americano "há dias", informou o Pentágono na quinta-feira, tendo sobrevoado também o canadiano. Otava disse estar a monitorizar um "potencial segundo incidente", mas não deu mais detalhes. Nos EUA, foi avistado no estado do Montana - onde fica a Base da Força Aérea de Malmstrom, que abriga um dos três campos de silos de mísseis nucleares dos EUA..Caças F-22 foram mobilizados, tendo o Departamento de Defesa examinado, a pedido do presidente Joe Biden, a possibilidade de derrubar o aparelho que voa a alta altitude (muito acima dos aviões comerciais) e não representa uma ameaça militar ou física para quem está no solo. Isso poderia mudar com a queda dos destroços, razão pela qual a Administração decidiu contra a hipótese de abater o balão..Além disso, um responsável norte-americano disse que o balão espião tinha um "valor limitado do ponto de vista da recolha de informações" para um país que também tem satélites. Segundo um relatório de 2019 da Força Aérea, a vantagem de um balão em relação a um satélite - além de serem mais fáceis e mais baratos de pôr em funcionamento - é que conseguem analisar grandes áreas de terreno desde mais próximo, assim como passar mais tempo sobre um alvo específico..Após o anúncio do Pentágono de que estava a seguir o balão chinês, Pequim disse que ia investigar e pedia para não se tirarem "conjeturas" ou se "exagerar" a situação antes de serem conhecidos todos os factos. "Não temos a intenção de violar o território ou espaço aéreo de nenhum país soberano", disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning..Mais tarde, ainda antes de ser conhecida a decisão de Blinken de adiar a viagem à China, a primeira de um secretário de Estado norte-americano desde 2008, Pequim admitia que a aeronave era sua. "O balão é da China. É um balão civil usado para pesquisa científica, principalmente propósitos meteorológicos", lia-se num comunicado. "O lado chinês lamenta a entrada acidental do balão no espaço aéreo norte-americano por motivo de força maior", explicando que por causa dos ventos e por o aparelho ter uma capacidade limitada de manobrar, "desviou-se da sua trajetória planeada". Pequim indicou ainda que mantinha o contacto com Washington para lidar com a "situação inesperada"..Mas os EUA consideraram o caso "inaceitável" e uma "clara violação da soberania" norte-americana. O Pentágono disse esta sexta-feira que o balão deverá continuar ainda vários dias no espaço aéreo dos EUA, continuando a ser monitorizado. Diante dos ataques dos republicanos, que acusam o presidente Biden de ser "fraco" em relação a Pequim, Blinken adiou a viagem..Os planos para a visita de dois dias do secretário de Estado norte-americano, que segundo o Financial Times incluíam uma reunião com o presidente chinês, começaram a ser desenhados em novembro. Nesse mês, Xi Jinping e Biden encontraram-se à margem da cimeira do G7, em Bali, tendo acordado tentar acalmar as tensões entre os dois países..A relação entre Pequim e Washington, deteriorada há anos devido à guerra comercial ou às questões de direitos humanos dos uigures e Hong Kong, piorou ainda mais depois da visita da então presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan, em agosto. Pequim considera a ilha uma província rebelde cujo controlo não afasta recuperar pela força, tendo aumentado as incursões em espaço aéreo da ilha e enviado mais navios para o estreito de Taiwan, temendo-se um possível bloqueio ou até uma invasão. Os EUA apoiam militarmente a ilha e, ainda na quinta-feira, anunciaram o reforço da presença militar na região, com acesso a mais quatro bases (num total de nove) nas Filipinas..De olhos na China, EUA reforçam presença militar nas Filipinas.susana.f.salvador@dn.pt